“Se a vossa justiça não for maior que a dos fariseus...”
Ez 18,21-28; Sl 129; Mt 5.20-26.
1. Coloco-me na presença de Deus, para ouvir o que Ele tem a me dizer:
- Faça silêncio, por alguns instantes, aquiete o seu coração.
- Prepare-se para entrar em oração, entregue as suas preocupações ao Senhor. Coloque-se, confiante, em suas mãos...
- Peça a graça desta semana. Invoque o Espírito Santo, pedindo que Ele lhe conceda suas luzes e dons.
- Leia, atentamente, os textos da sagrada Escritura, propostos para esse dia. Coloque-se na cena destes textos bíblicos, saboreie essa Palavra de vida e salvação... e procure se deter no que mais lhe chamou atenção. Para Deus, ofereça o melhor de seu tempo, sem pressa.
2. Medito a Palavra de Deus: O que ela diz para mim?
- Em que consiste a lei de Deus para os escribas e fariseus?
- A lei de Deus, revelada no Antigo Testamento, eram os dez mandamentos, que foram resumidos em dois: amar a Deus e ao próximo.
- Jesus vai afirmar que desses dois mandamentos dependem toda a lei de Moisés e o ensinamento dos profetas (Mt 22,40).
- Podemos então dizer que o eixo de nossa existência cristã é a nossa opção fundamental pelo amor a Deus e ao próximo.
- Acontece que Israel, ao longo de sua história, foi acrescentando outras leis, como exigências mais detalhadas dos dez mandamentos, chegando a 613 novas prescrições ou proibições.
- Ora, isso onerava a consciência do povo que, desse modo, se considerava pecador, julgava que tinha perdido as bênçãos de Deus e, por isso, era castigado por Ele com doenças, miséria, fome...
- No Evangelho, Jesus, com uma palavra, vai abolir os 613 preceitos ou proibições, por serem apenas tradições humanas e não vontade de Deus (Mc 7,1-13).
- Os fariseus e escribas se preocupavam em observar rigorosamente os 613 preceitos e proibições, mas descuidavam do amor ao próximo e da justiça.
- Eram típicos representantes de uma espiritualidade legalista, distante da realidade humana, frios e insensíveis à dor, ao sofrimento e às fraquezas dos outros. E, com o tempo, se tornaram juízes dos comportamentos do povo pobre e sofredor.
- Eles cumpriam, escrupulosamente, a lei, porém só exteriormente, para serem vistos pelos outros como santos.
- Isso não os fazia melhores, mas mesquinhos, orgulhosos e hipócritas (Lc 18,9-14).
- Jesus busca a vontade de Deus a partir de outra experiência, ou seja, procura abrir caminho entre os homens e mulheres para construir com eles e elas um mundo mais justo, fraterno e compassivo. Isso muda tudo.
- A lei já não é o critério decisivo para saber o que Deus espera de nós. O primeiro passo deve ser: o de “buscar o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6,33).
- Sempre temos de ir além da letra, da pura formulação da lei, até descobrir o espírito da lei, porque “a lei mata, o Espírito comunica a vida” (2Cor 3,6).
- Tenhamos sempre cuidado e desconfiança de uma leitura fundamentalista das Escrituras Sagradas. Algo comum, tentador aos nossos dias... Usar da Palavra de Deus pra justificar tanta injustiça e violência e desrespeito à vida e à dignidade da pessoa humana; omitir-se diante do bem a ser feito ao próximo, agindo contrariamente à caridade e ao bem comum, em nome de Jesus (?)... você sabe do que eu estou dizendo...
- É importante que haja leis e normas nas religiões e na sociedade civil para marcar a identidade de uma instituição religiosa ou de uma nação e impedir que nossa convivência se torne um caos.
- Jesus não nega o valor da lei, mas chama a atenção para o espírito com que ela é assumida.
- De fato, na medida em que, com a graça do Espírito Santo, aprendemos a amar como Jesus nos amou, saindo do nosso amor-próprio,do nosso próprio querer e interesse,não precisaremos de apoios externos,de leis e normas, porque estaremos enraizados no amor e livres para, em tudo, amar e servir.
- Santo Agostinho, ao registrar que Deus é amor, dizia: “ama e faze o que quiseres”.
- A lei do cristão é a lei do amor, do amor concreto que se traduz em fazer sempre o bem a todos, até aos inimigos... “Nisto reconhecereis que vós sois os meus discípulos, se vos amardes uns aos outros como eu vos amei”.
- O Amor é o seu “DNA” cristão, é a sua “carteira de identidade” na fé.
- Como anda a sua “prática” da Justiça, ela ultrapassa a dos fariseus e dos escribas? Você segue uma lei ou uma pessoa, o Filho de Deus, Jesus crucificado-ressuscitado? O amor que busca vivenciar tem sido sinal eloquente, iluminador do amor de Deus pela humanidade? Como nos exorta a campanha da Fraternidade, ao recordar que somos todos irmãos e irmãs, você vive, nas suas relações humanas, a amizade social? O que monta você são sentimentos de paz, de união, de fraternidade e misericórdia?
3.Reze à luz dessa Palavra:
- Jesus exige dos seus discípulos, para entrarem no Reino dos céus, uma justiça superabundante, em comparação com a dos escribas e fariseus.
- Não se trata apenas de observar as prescrições e proibições da Lei. É preciso partir do coração, donde brotam as motivações profundas do nosso agir.
- Ele assim viveu, amou a Deus, seu Pai, e também a nós, até o extremo, mantendo uma coerência total entre o que ensinava e o que vivia.
- Ninguém podia jamais acusar Jesus de hipocrisia.
- Reza, confiante, pedindo a Deus, essa graça de conhecer, amar e querer seguir mais de perto a Jesus que, com sua vida, nos ensinou a amar e a ter compaixão pelos sofredores.
Oração
Jesus misericordioso,
faz-me compreender que posso mudar para melhor, que posso converter-me
e que estás disposto a ajudar-me a transformar-me com a tua graça.
Afasta de mim a tentação do desespero ou da acomodação nos meus defeitos.
Aproximando-me de Ti, posso converter-me, transformar-me interiormente, conformando-me cada vez mais à tua imagem e semelhança.
Faz-me acreditar que também os meus irmãos e irmãs podem mudar e que devo ser instrumento teu para que isso aconteça.
Eis-me aqui, Senhor: converte-me; faz de mim instrumento e servidor da reconciliação das pessoas Contigo e entre si,
para que tenham a vida e a tenham em abundância!
Amém.
4. Da contemplação para a ação:
- O tempo da Quaresma é propício para se praticar a justiça e buscar a reconciliação.
- A atitude de Deus deve iluminar a nossa relação com todos os irmãos e irmãs, também com aqueles que julgamos pecadores ou cheios de defeitos.
- Quem somos nós para julgar o nosso próximo? Devemos evitar classificá-los em compartimentos estanques de bons e de maus. Algo que, infelizmente, fazemos sempre...
- Ora se o bom se pode tornar mau, o mau também se pode tornar bom, pode converter-se, mudar de vida.
- A caridade, como Jesus nos ensina, sabe esperar a hora da mudança, a conversão, a melhoria de vida e de atitudes dos outros. Ela deve ser uma esperança ativa daquilo que os outros podem vir a ser, com a graça de Deus e com a ajuda do nosso apoio fraterno.
- Mais do que classificar os irmãos e irmãs, devemos ajudá-los a mudar, a converter-se.
- Quando se aproximavam de Jesus, os pecadores tornavam-se mais justos do que os fariseus.
- Estes limitavam a sua justiça ao conhecimento da Lei e à prática escrupulosa dos preceitos. O pecador, tocado pelo amor de Jesus, mudava interiormente, refazendo-se, totalmente, face à misericórdia de Deus.
- Na relação com o Senhor e aprofundando n'Ele as nossas relações fraternas, podemos mudar para melhor e ajudar os outros também a melhorar.
- Proponho a você escolher um verso do evangelho de hoje como propósito para essa quaresma. O meu será este: “Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta, diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta” (v.24).
- Terminando sua meditação, examine-se em que pontos você poderia melhorar e não deixe de fazer anotações breves no seu caderno de vida. Oportunamente, você deve retomá-lo como orientação para a sua vida...
Pe. Marcelo Moreira Santiago