REFLEXÃO DIÁRIA. RETIRO QUARESMAL PAROQUIAL - 2024. Segundo Domingo da Quaresma, dia 25 de fevereiro.

“Ali transfigurou-se diante deles”

Gn 22,1-2.10-18; Sl 115; Rm 8,31b-34; Mt 9,2-10.

1. Preparo-me para ouvir o que Deus tem a me dizer:

- Faça silêncio, por alguns instantes, aquiete o seu coração.

• Antes de entrar em oração, prepare o ambiente interno e externo para se colocar na presença de Deus, para ouvir sua Palavra de vida... Coloque-se, confiante, em suas mãos. Invoque o Espírito Santo, pedindo que Ele lhe conceda suas luzes e dons.

- Quaresma é tempo litúrgico forte de reconstrução de si e da comunidade, tempo que coloca em questão a razão de ser da nossa vida:

• Para que eu vivo? Sobre que está fundamentada a minha vida? Para onde caminho?
• O tempo é agora, tempo de conversão... de deslocar os “falsos senhores” que habitam o nosso coração, ampliando o espaço interior para a presença e a ação do “verdadeiro Senhor”.

- Pede, de modo especial, a graça para esta semana:

Suplico a graça de que eu possa conhecer-me mais a fundo,

tomar consciência de tudo o que me atrofia e limita a minha vida e, com a ajuda de Deus,

remover todos os obstáculos que impedem que eu tenha uma vida mais fraterna.

• Leia, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse domingo. Mobilize sua imaginação para fazer uma contemplação deles... Leia, com sabor, essa Palavra de vida, de verdade e de salvação. É Palavra de Deus para você...

2. Medito, nesse momento, a Palavra de Deus:

- Nesse segundo Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus nos convida a dar mais um passo em direção à Páscoa (à de Jesus e à nossa). Diz-nos que é na obediência radical a Deus e na escuta atenta de Jesus que descobrimos o caminho que nos permite encontrar a Vida em abundância.

• Na primeira leitura, é apresentada a figura de Abraão como paradigma de quem se guarda na fé. Abraão é o homem de fé inabalável, que vive numa constante escuta de Deus, que aceita os apelos de Deus e que lhe responde com a obediência total. Essa “entrega” a Deus é fonte de Vida e de bênção.
• A segunda leitura lembra aos que se guardam na fé que Deus os ama com um amor imenso e eterno. A melhor prova desse amor é Jesus Cristo, o Filho amado de Deus que morreu para ensinar ao homem o caminho da vida verdadeira. Sendo assim, o cristão nada tem a temer e deve enfrentar a vida com serenidade e esperança.
• O Evangelho relata a transfiguração de Jesus. São Marcos, o evangelista, nos apresenta uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à Vida plena e definitiva. Segui-o, vós também.

- De fato, somos chamados a subir o monte da transfiguração para “contemplar Jesus por dentro”, para conhecer seu coração, seus desejos mais íntimos, seus dinamismos de vida... enfim, o desvelamento da sua interioridade.

• Ao mesmo tempo, diante de Jesus transfigurado, temos também a ocasião privilegiada para nos “olhar” por dentro e descobrir nossa verdadeira identidade.

- A Transfiguração de Jesus é revelação das muitas “experiências de transfiguração” que todos experimentamos.

• A vida diária tende a fazer-se rotineira, monótona, cansada, deixando-nos desanimados, sem forças para caminhar.
• Contudo, temos também momentos especiais, com frequência inesperados, em que uma luz desperta nosso interior e os olhos do coração nos permitem ver muito mais longe e muito mais profundo do que estávamos vendo até esse momento.
• A realidade é a mesma, mas aparece transfigurada para nós, revelando seu mistério interior, aquilo que nossos olhos não percebem.

- Uma pessoa transfigurada é alguém que vê o que todo mundo vê, mas de maneira diferente. Seu olhar contemplativo capta outra dimensão que se esconde aos olhares superficiais e frios.

- Uma pessoa transfigurada é alguém que percebe o que é mais nobre e divino no interior do outro e vibra com isso, por isso tem facilidade para viver relações sadias, construir comunhão, viver a fraternidade. “Vós sois todos irmãos e irmãs”.

- Sou uma pessoa “transfigurada”? De que “transfigurações” estou precisando? Como vejo o mundo e as pessoas, tenho construído comunhão e fraternidade? Sou obediente a Deus, o Pai, e tenho procurado escutar Jesus? A escuta de Jesus está no centro de minha experiência de fé?

3. Reze à luz dessa Palavra:

- Hoje precisamos buscar nosso “Tabor” interior, onde brilha a luz que nos faz transparentes, onde se encontram as forças criativas que sustentarão nosso compromisso, onde ouviremos a Voz que confirmará nossa filiação: este é meu filho, minha filha muito amados”. No Filho que é Jesus Cristo, somos todos filhos e filhas de Deus.

- Peça a graça de escutar Jesus, como nos exorta a Voz vinda da nuvem, a Voz do Pai, para que você possa andar na presença do Senhor e alcançar a vida de verdade, a vida plena.

Oração

Pai de bondade, meu Deus e Senhor,

Dá-me a graça de escutar teu Filho amado, de acolher no coração as suas indicações e concretizá-las em minha vida.

Só assim poderei ver tudo com uma luz mais clara,

percebendo qual é a maneira mais humana de enfrentar os problemas da vida e os males do nosso mundo.

Que eu faça a tua vontade e seja curado de minhas cegueiras seculares,

dos preconceitos que me impedem de acolher a novidade do teu Reino,

dos medos que me paralisam.

Que ao escutar teu Filho eu possa me libertar de desalentos e covardias,

e abrir o meu coração à esperança e ao compromisso

de viver a fraternidade e a amizade social,

na perspectiva do teu Reino de vida, verdade e salvação.

Amém.

4. Da contemplação para a ação:

- O tempo da Quaresma é um tempo favorável de conversão, de transformação, de renovação. Traz-nos um convite a questionarmos a nossa forma de encarar a vida, os valores que priorizamos, as opções que vamos fazendo, as nossas certezas e apostas, os nossos interesses e projetos… O que é que eu, pessoalmente, necessito de mudar, na minha forma de pensar e de agir, a fim de me tornar um discípulo coerente e comprometido, que segue Jesus no caminho do amor levado até às últimas consequências, até ao dom total de si próprio?

- Da transfiguração interior a uma presença que transfigura a realidade na qual vivemos: essa é a travessia pascal.

• Não podemos permanecer no "monte" isolados e acomodados, mas é preciso “descer” à vida cotidiana, com todos os seus conflitos, e viver ali com bondade, compaixão e serviço.

- A “transfiguração” desperta em nós um "novo olhar" para percebermos, com mais nitidez e intensidade, os lugares por onde transitamos, uma nova disposição para dar sentido e valor às relações cotidianas, uma presença solidária para nos colocar no lugar do outro, uma nova sensibilidade para “ver” a presença d’Aquele que se “deixa transparecer” em todos os “tabores” da vida.

- Despojando-nos daquilo que nos desfigura, busquemos o que nos transfigura, o que mais nos humaniza e nos diviniza.

• É possível que, ao contemplar nosso coração, nos deparemos com muitas surpresas que jamais imaginamos...

Pe. Marcelo Moreira Santiago