REFLEXÃO DIÁRIA. RETIRO QUARESMAL PAROQUIAL - 2024. 27 de fevereiro. Terça-feira da 2ª Semana da Quaresma

“Eles falam, mas não fazem”

Is 1,10.16-20; Sl 49(50); Mt 23,1-12.

1. Colocar-se na presença de Deus, para ouvir a sua Palavra:

- Faça silêncio, por alguns instantes, aquiete o seu coração, sobretudo das “perturbações” externas...

• Prepare-se para entrar em oração, entregue as suas preocupações ao Senhor. Coloque-se, confiante, em suas mãos...
• Peça a graça desta semana. Invoque o Espírito Santo, pedindo suas luzes e dons. 
• Leia, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia. Saboreie essa Palavra de vida e salvação... e procure se deter no que mais lhe chamou atenção.
• Não se esqueça, para Deus, o melhor de seu tempo, sempre...

2. Meditar a Palavra de Deus: O que ela diz para mim?

- A quaresma nos ajuda a tomar consciência de “falsos senhores” que envenenam nossas vidas e nos levam a romper os laços de comunhão com os outros e com Deus... um deles é o “farisaísmo”.

- De uma maneira ou de outra, todos carregamos um fariseu dentro de nós.

• Os fariseus não são uma peça de museu ou uma recordação do passado: eles continuam vivendo entre nós e em cada um de nós. É um tipo de pessoa que se reproduz continuamente...
• O contexto religioso de hoje é propício para a proliferação de fariseus, sobretudo o que estamos presenciando, ou seja, o retorno de uma religiosidade marcada por observâncias, ritualismos, moralismos, centrados, muitas das vezes, não no espírito de serviço e fidelidade no seguimento de Jesus, mas na busca de títulos, de vaidades humanas e ostentações, de busca de dignidades...

- O fariseu vive uma religião que o leva a centrar-se em si mesmo, ou seja, uma religião na qual o único interesse é a fiel observância das leis e tradições. De maneira que, em função disso, torna-se o juiz dos demais.

• Se necessário for, ele despreza todo aquele que não consegue ser fiel na observância das normas e costumes que a religião impõe.

- A religião do fariseu é uma religião egocêntrica, que o fecha dentro de suas próprias observâncias, seus comportamentos, seus ritualismos, suas ideias e suas preocupações.

• E o pior é que ele vê tudo isso como graça de Deus... julga estar certo e que todos estão errados e que ele é então melhor que seus irmãos e irmãs, pobres pecadores, sujeitos à condenação...

- O “orgulho religioso”, como dos fariseus ao tempo de Jesus, coloca o indivíduo num pedestal de superioridade a partir do qual olha a todos com desprezo.

• Tal orgulho é incompatível, como afirma Jesus, com a fé em Deus.
• O que interessa a alguém assim é brilhar diante dos outros; o que o preocupa é sua imagem diante das pessoas; eles querem ser vistos, apreciados, louvados...
• Eles não têm outro deus a não ser eles mesmos... “fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros...” (v.5).

- Jesus desmascara a ideia que os fariseus tinham de Deus e põe às claras o “farisaísmo” que manipula Deus, nos desumaniza e desumaniza os outros.

• Para o fariseu, a “imagem de Deus” não está centrada na misericórdia, mas no juiz implacável com os pecadores, ameaçando-os com o inferno.
• Daqui surge a ideia de um Deus severo, ameaçador, vingativo, inimigo da vida. Um Deus assim causa um medo aterrador.

- Tal visão falsa de Deus envenena a convivência de uns com os outros, azeda a convivência em comunidade: cria divisões, suspeitas, prejuízos, situações violentas, exclusão... e tudo isso com um refinamento de hipocrisia, como diz Jesus no Evangelho...

• ...“Amarram pesados fardos e os colocam nos ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los...” (v. 4).

- Importante para hoje, para o nosso retiro espiritual: Quem quiser alcançar uma vida feliz e fraterna, a primeira coisa que precisa fazer é “arrancar” o fariseu que carrega dentro de si... (pronto, falei...)

• “O maior dentre vós, diz Jesus, deve ser aquele que vos serve” (v. 11).

- Qual é a imagem de Deus que você revela aos outros? É a imagem do “deus dos fariseus” ou a do “Deus de Jesus”? Que sinais de “farisaísmos” ainda estão presentes na sua relação com seus irmãos e irmãs? O que você tem buscado na vivência de sua fé: reconhecimentos humanos ou servir a Deus em favor de seus irmãos e irmãs?

3. Reze à luz dessa Palavra:

- Entre em diálogo profundo com o Senhor, louvando, agradecendo, suplicando... Pede a graça de vencer todo “farisaísmo”... tudo fazendo, com verdade e fé, no seguimento de Jesus, para honra e glória de Deus, o Pai, vida e, salvação de seu povo... “Vós sois todos irmãos e irmãs”.

• Em tempos do “mosquito” da dengue e do vírus da COVID, Jesus nos alerta, no Evangelho de hoje sobre o “mosquito ou o vírus” da ambição, do farisaísmo... (vv. 8-10), gangrena da comunidade. O formalismo, a busca de prestígio pessoal... profanam a religião e a tornam idolátrica...
• Longe de nós o espírito fariseu...

Oração

Senhor Jesus, Cordeiro imolado, eis-nos aqui, manchados pelas nossas culpas.

Derrama sobre nós o teu sangue imaculado, para que nos purifique, renove

e nos torne capazes de correspondermos ao teu amor fiel e misericordioso.

Tu que amas a santidade e queres realizá-la em nós, lava-nos no teu sangue precioso e transforma­-nos interiormente.

Faz-nos mais brancos do que a neve. Então, tendo experimentado o teu amor,

poderemos corresponder-lhe com uma vida de oblação generosa e total, no louvor, na ação de graças, no testemunho,

para que todos possam experimentar as maravilhas da tua misericórdia e se disporem a acolhê-las,

para também serem transformados.

Amém.

4. Da contemplação para a ação:

- O tempo da Quaresma é propício para se buscar a conversão, o perdão dos pecados e a reconciliação.

- Já no Antigo Testamento, Deus pedia ao seu povo a prática das obras de misericórdia, como condição do perdão e da salvação.

• “Corrigi-vos, dizia em Isaías, purificai os vossos pensamentos e os vossos corações, deixai de me ofender, mas também aprendei a fazer o bem, sede justos, socorrei os oprimidos, fazei justiça às viúvas e aos órfãos, e então podeis vir interpelar-me e reclamar de mim o vosso perdão, e então, mesmo que as vossos pecados sejam como púrpura, tornar-­se-ão brancos como a neve; e se forem vermelhos como o carmesin, tornar-se-ão brancos como a lã do cordeiro» (Is 1, 17).

- Em que ponto me encontro nesta virtude fecunda e redentora? Quais são os meus sentimentos a respeito daqueles que me ofendem ou me ferem, daqueles que me criticam ou me fazem sofrer? Que piedade tenho no coração por aqueles que penam e que sofrem?

• Ajuda os pequenos e os pobres, diz o sábio, e a tua esmola rezará por ti diante de Deus e afastará de ti todos os perigos (Eclo 29, 15).
• Renova então, meu irmão, minha irmã, esse propósito: Seja bom para com todos, como Deus é bom para com você e para com todos, sem excessão...
• Fazei reinar, Senhor, a misericórdia em meu coração... Amém.

Pe. Marcelo Moreira Santiago