“Quem quiser ser o maior entre vós, seja aquele que serve”
Jr 18,18-20; Sl 30; Mt 20,17-28.
1. Coloco-me na presença de Deus, para ouvir o que Ele tem a me dizer:
- Faça silêncio, por alguns instantes, aquiete o seu coração.
- Prepare-se para entrar em oração... Para encontrar-se com ele é preciso “tirar as sandálias”, esvaziar-se, pacificar-se...
- Entregue a Deus as suas preocupações... Coloque-se, confiante, em suas mãos...
- Peça a graça desta semana. Invoque o Espírito Santo, pedindo que Ele lhe conceda suas luzes e dons e prepare o terreno de seu coração...
- Com o coração aquecido, leia, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia... Deixe ressoar em você a Palavra de Deus... Saboreie essa Palavra de vida e salvação... Procure deter-se, sem pressa, no que mais lhe chamou atenção.
2. Medito a Palavra de Deus: O que ela diz para mim?
- O tempo da quaresma vem “desmascarar” um desejo profundo e escondido em todos nós: a sedução do poder.
- Ele é um “pecado de raiz” que gera divisão, solidão... e nos afasta da comunhão com os outros e do serviço solidário.
- O poder deslumbra, ofusca e pode facilmente se tornar o centro da vida de um indivíduo.
- Seu brilho encanta e seduz; sua proposta é extremamente atraente. Para muitos, ele é a suprema ambição.
- Estou falando mentira? Não há ser humano que não tenha sido tentado pelo canto desta sereia...
- A busca do poder, sobretudo o poder religioso, rompe os laços fraternos e impossibilita viver o apelo de Jesus: “Vós sois todos irmãos e irmãs”.
- É o que nos mostra o Evangelho hoje... eu, se fosse você, dava mais uma conferida no Evangelho...
- Jesus sobe a Jerusalém consciente daquilo que lá O espera. Pela terceira vez, fala aos discípulos da sua paixão. Fala claramente.
- Para espanto e confusão dos seus contemporâneos, Ele se identifica com o Filho do homem, figura celeste e gloriosa esperada para instaurar o reino escatológico de Deus, mas também se identifica com outra figura, de sinal aparentemente oposto, a do Servo sofredor.
- Os discípulos não conseguem compreender e aceitar tais perspectivas e preferem cultivar as de sucesso e poder (vv. 20-23).
- Jesus explica-lhes, mais uma vez, o sentido da sua missão e o sentido do seguimento que lhes propõe: Ele veio para “beber o cálice” (v. 22), termo que, na linguagem dos profetas, indica a punição divina reservada aos pecadores.
- Quem aspira aos lugares mais elevados no Reino, terá que, como Ele, estar pronto a expiar o pecado do mundo. É mesmo o único privilégio que pode oferecer, porque não Lhe compete distribuir lugares no Reino.
- Ele é o Filho de Deus, mas não veio para dominar. Veio para servir como o Servo de Javé, oferecendo a sua vida em resgate para que os homens, escravos do pecado e sujeitos à morte, sejam libertados.
- À mãe dos filhos de Zebedeu, que pensava que a vida vale pelos lugares que se ocupam na sociedade, pelo poder de que se dispõe, o profeta Jeremias e, sobretudo, Jesus oferece o exemplo de uma vida gasta no serviço, por amor.
- Não é fácil compreender uma tal perspectiva. Jesus se vê na necessidade de, por três vezes, preparar e anunciar aos discípulos a sua paixão, dizendo-lhes que será preso, condenado, escarnecido, crucificado. Mas eles continuam a procurar satisfazer as suas ambições.
- Hoje, no Evangelho, são os filhos de Zebedeu que, por meio da mãe, tentam a sua sorte. Jesus tinha falado de humilhações. Eles pedem honras, lugares de privilégio: sentar-se “um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino” (v. 21).
- É interessante notar o que acontece agora... Jesus que foi sempre tolerante, paciente, misericordioso com os seus discípulos, em muitas coisas, nesse ponto ele foi taxativo:
- Ele diz: “aquele dentre vós que quiser ser o maior, seja o vosso servidor e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos” (vv 26-27).
- Entra, meu irmão, minha irmã, na cena do Evangelho, ele está dizendo isto também para você... para quem quiser segui-lo...
- O que busco na vivência da fé, poder ou serviço? Com que interesses, atuo em minha comunidade? Quais são as verdadeiras ambições do meu coração? O que molda minhas relações em família, na comunidade e nos meus azares, no trabalho profissional? Que Cristo tenho procurado seguir?
3. Reze à luz dessa Palavra:
- Abra as portas do seu coração e as janelas da sua mente a Deus... Converse com o Senhor como um amigo conversa com outro amigo... Recorde-lhe, penitente, as vezes em que a busca do poder esteve presente em suas relações de convivência e trabalho... talvez não foram poucas...
- O relato do Evangelho nos mostra, de fato, a necessidade de Jesus sofrer a paixão e morte de cruz.
- Só ela poderia mudar o coração do homem. Não eram suficientes palavras, mesmo que fossem as de Jesus.
- A paixão de Jesus nos revela onde se encontra a verdadeira alegria, a verdadeira glória, a verdadeira vida: servir, amar como Ele, até ao sacrifício da própria vida pelos outros, vistos como mais importantes do que nós mesmos.
- Isto pressupõe a humildade, virtude que torna verdadeiro todo o gesto de amor, nos libertando de equívocos, da busca dos interesses.
Oração
Obrigado Senhor Jesus,
porque, com doçura e firmeza me conduzes pelo caminho da cruz.
Quando Tu me apontas o Calvário, talvez me escandalize como Pedro, talvez discuta com meus irmãos e irmãs sobre quem é o maior,
talvez Te apresente pedidos de privilégio e de poder.
Tem paciência comigo, Senhor.
Diga-me, mais uma vez, que a verdadeira grandeza está em servir e em dar a vida pelos amigos e inimigos.
Conduza-me pela mão pelas várias etapas, rumo à vida, à alegria eterna.
Contigo saberei passar pelas provações, beber o cálice e aguardar a recompensa que só o Pai me destina e quer dar.
Que eu aprenda Contigo o que é mais importante, ou seja, amar e servir até dar a vida para que todos experimentem a tua graça e redenção.
Amém.
4. Da contemplação para a ação:
- O tempo da Quaresma é propício para servir e servir com amor, com entrega total.
- No caminho espiritual de cada um de nós, a provação é importante para nos transformar interiormente.
- Depois dela já não ambicionamos a satisfação terrena que antes procurávamos. E, se vivermos unidos a Cristo, d'Ele recebemos a força para realizar o bem, incondicionalmente.
- O serviço humilde, até ao fim, motivado pelo amor, conduz à vida, a glória eterna.
- Deixe-se conduzir pelo Espírito Santo, Ele nos ajuda a superar o egoísmo e nos impele para o amor oblativo... faz-nos ultrapassar a busca dos interesses e comodidades pessoais, para atuar conforme a justiça que vem do alto, e não a dos homens...
- O Espírito nos impele a dar aos outros, especialmente aos mais pobres e marginalizados, não só com aquilo que temos, mas também o que somos: tempo, capacidades, presença, solidariedade, compaixão... Ele nos leva à vida de amor e serviço desinteressado... uma boa medida para você e para mim...
Pe. Marcelo Moreira Santiago