REFLEXÃO DIÁRIA. RETIRO QUARESMAL PAROQUIAL - 2024. 29 de fevereiro. Quinta-feira da 2ª Semana da Quaresma

“Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas,

ficava sentado no chão junto à porta do rico”

Jr 17,5-10; Sl 1; Lc 16,19-31.

1. Preparo-me para ouvir o que Deus tem a me dizer:

- Esta Palavra é preciosa para mim... Fala, Senhor, que teu servo (a) escuta...

- Faça um pequeno silêncio, para apaziguar, interna e externamente, o seu coração.

• Tome consciência de que você está acolhendo, com esta Palavra, de modo especial, a presença de Deus. Coloque-se em suas mãos. Invoque sobre você o Espírito Santo.
• Leia, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia e, de modo especial, o santo Evangelho... entre nas cenas dos textos bíblicos; procure saborear a presença de Deus...

2. Meditando a Palavra de Deus:

- Durante a quaresma há um apelo constante a uma profunda conversão. Ela implica ativar a compaixão, desenvolver uma sensibilidade solidária e assumir lutas em defesa da vida e da dignidade das pessoas excluídas.

- O Evangelho deste dia nos traz uma parábola escandalosa e provocativa: a parábola do rico “epulão” e do pobre Lázaro.

• Esta parábola nos inquieta e nos provoca incômodo, pois nos situa de novo diante da exigência do amor concreto e comprometido, com o serviço ao próximo.

- Na primeira parte do relato a ideia prevalente é a de que tudo o que fazemos repercute nos outros...

• A situação de Lázaro é consequência do mal proceder daqueles que apodrecem em suas riquezas.
• Os pobres não existem “porque sim”, mas por uma deficiente partilha dos bens e pela insensibilidade diante de quem é vítima de uma estrutura social e econômica perversa.

- A cena revela-se ainda mais dramática, quando se considera que o pobre se chama Lázaro, que significa, literalmente, “Deus ajuda”.

• Não se trata de uma pessoa anônima, ele tem rosto e é um ser querido, amado por Deus... apesar de sua condição concreta ser a de um descarte humano.

- A parábola põe em evidência, sem piedade, as contradições em que vive o rico.

• Este personagem, ao contrário do pobre Lázaro, não tem um nome, é qualificado apenas como “rico”. A sua opulência se manifesta nas roupas finas e no luxo exagerado.
• A riqueza deste homem é ofensiva, inclusive porque exibida habitualmente. Jesus, no Evangelho, nos fala que ele “fazia todos os dias esplêndidos banquetes”.

- Esta parábola nos fala mais do presente que do “mais além”...

• Ela fala de tudo o que podemos mudar desde agora para ter um futuro melhor: um verdadeiro banquete, onde a única riqueza seja o amor compartilhado.

- A riqueza petrificou o coração daquele homem, esvaziou sua sensibilidade e sua humanidade. Ele não teve compaixão de Lázaro, pois ao seu redor, cego pela riqueza, já não existiam outras pessoas, só ele mesmo e sua fortuna, sua vontade egoística de curtir a vida...

- Uma pergunta que não quer calar: o que você tem feito com os dons e bens que Deus lhe concede? São colocados a serviço? (Estou me perguntando enquanto escrevo para vocês) diante de um mundo da exclusão e da miséria, que sentimentos prevalecem em mim, em você: indiferença, compaixão, insensibilidade, espírito solidário...? (Quero não pensar agora, deixar pra depois, passar rápido por esta pergunta... não posso fazer isto...) Enquanto na vida fico a me banquetear, quem é o Lázaro que está a minha porta e eu não estou vendo?...

3. Reze à luz dessa Palavra:

- A parábola realça a distância espacial que separa Lázaro do rico. No dizer do Evangelho, “um grande abismo”. Mas bastava o quê? Bastava, em vida, o rico ter aberto a “porta”...

- Aqui um grande ensinamento para a vida: a riqueza, quando mal usada, pode ser uma grande porta, um portão, que nos impede de ver o que há do outro lado...

• A púrpura e o linho podem ser um impedimento para ver os desnudos da rua.
• Os banquetes podem obscurecer a capacidade de ver aqueles de estômago vazio, atirados à entrada do portão de casa...
• Foi o que aconteceu com aquele homem... pode acontecer com você e comigo... Senhor cure a minha cegueira, me faz ver que no sofrido, no excluído, no necessitado... eras Tu!

Oração

Senhor Jesus,

que sendo rico Te fizeste pobre por nosso amor, para nos tornar participantes da tua riqueza,

dá-nos um coração de pobre que confie apenas em Ti e saiba ser solidário com todos os lázaros desta pobre humanidade.

Que jamais caiamos na tentação de cortar relações com eles nesta vida terrena,

para que possamos manter relações com eles e Contigo, na vida eterna.

 Confiamos em Ti, Senhor, e sabemos que andando em seus caminhos,

jamais seremos confundidos.

Amém.

4. Da contemplação para a ação:

- Hoje, tanto a primeira leitura como o Evangelho, com imagens muito simples, nos colocam perante o fato de que é nesta vida que decidimos o nosso destino eterno, a vida ou a morte, sem outras possibilidades.

• O apego a uma felicidade egoísta leva à cegueira, que não permite ver para além do imediato, do material. Não permite ver a Deus, nem a caducidade da nossa atual condição, como não permite ver as necessidades dos pobres que jazem à nossa porta.

-  A verdadeira confiança em Deus é sempre acompanhada pela solidariedade com os pobres, com pobres que o são materialmente, com os que o são espiritualmente, mas também com os doentes, com vítimas de contrariedades e opressões de qualquer espécie.

• Então, nossa confiança em Deus deve nos levar a nos solidarizar com o amor de Jesus por todos os homens e mulheres, um "amor que salva".
• Como Ele, precisamos estar presentes e atuantes junto de todos os lázaros da humanidade, a começar dos que Deus coloca na sua porta, na porta da sua família, da sua comunidade, da sua rua, do seu trabalho... não lhes feche a porta, meu irmão, minha irmã...

- Ia parar aqui, mas gostaria de partilhar com você mais uma reflexão... não é para atemorizar, mas para nos deixar atentos, à luz da fé... 

- Jesus, no Evangelho, levanta um pouco o véu do tempo para nos fazer entrever o banquete eterno, anunciado pelos profetas.

• O que vemos aqui: Lázaro é conduzido pelos anjos a um lugar de honra, nesse banquete, enquanto o rico é sepultado no inferno.
• Do lugar dos tormentos, o rico vê Lázaro e atreve-se a pedir, por meio dele, um mínimo gesto de conforto (v. 24). Mas as opções desta vida tornam definitiva e imutável a condição eterna (v. 26).
• Nem o milagre da ressurreição de um morto, diz Jesus, aludindo a Si mesmo, podem sacudir um coração endurecido que se recusa a escutar o que o Senhor permanentemente ensina por meio das Escrituras (vv. 27-31).
• Então, o que mais posso lhe dizer: escancare os seus ouvidos e o seu coração à voz do Senhor...

Pe. Marcelo Moreira Santiago