“Teu irmão estava morto e tornou a viver”
Mq 7,14-15.18-20; Sl 102; Lc 15,1-3.11-32.
1. Coloco-me na presença de Deus, para ouvir o que Ele tem a me dizer:
- Faça silêncio, por alguns instantes, aquiete o seu coração.
• Prepare-se para entrar em oração, entregue as suas preocupações ao Senhor. Coloque-se, confiante, em suas mãos...
• Peça a graça desta semana. Invoque o Espírito Santo, pedindo que Ele lhe conceda suas luzes e dons.
• Leia, atentamente, os textos da sagrada Escritura, propostos para esse dia. Coloque-se na cena destes textos bíblicos, saboreie essa Palavra de vida, de verdade e salvação... Procure se deter no que mais lhe chamou atenção. Não se esqueça, para Deus, devemos oferecer o melhor de nosso tempo... Faça isto...
2. Medito a Palavra de Deus: O que ela diz para mim?
- Na primeira leitura, vemos que regressado do exílio em Babilônia, o povo de Israel se confrontou com grandes dificuldades e teve saudades da fartura daquelas terras, tal como, ao regressar do Egito, perante as dificuldades do deserto, teve saudades do peixe, dos pepinos, dos melões, dos alhos, das cebolas que comia no Egito (Nm 11, 6).
- Nesta situação, Miquéias ergue, inicialmente, um lamento a Deus: “Mostra-nos os teus prodígios, como nos dias em que nos tiraste do Egito” (v. 15).
• Aí entra em cena Aquele que é o protagonista dos grandes eventos salvíficos, o próprio Deus. Ele preparou um lugar deserto onde, Ele mesmo, apascenta o seu rebanho disperso, que só n'Ele encontra segurança e só n'Ele confia.
• Diante disso, o profeta entoa um hino cheio de emoção a Deus que perdoa (vv 18-20). Deus é como um pai que se comove diante do sofrimento dos filhos que erraram e sofrem as consequências dos seus erros (v. 19).
- Como nos tempos do êxodo, levado por um instinto quase materno, Deus usa de compaixão para com o seu povo, apaga as suas culpas e as lança ao mar, do mesmo modo que nele afogou o faraó e os seus exércitos (Ex 15).
• O grande ensinamento aqui, experiência que aquele povo faz, e que nós somos chamados a fazer hoje, é a de que a fidelidade de Deus se manifesta na gratuidade do perdão, para que o “resto” do seu povo possa manter-se fiel à Aliança (v. 20).
- Já no Evangelho, nos deparamos com as parábolas da misericórdia, narradas por São Lucas, no capítulo 15. Elas nos revelam o rosto do Pai bom, disposto a perdoar, a acolher e a fazer festa com os filhos que reconhecem o seu pecado.
- Hoje, escutamos a parábola do filho pródigo. Este decide organizar a sua vida segundo os seus projetos, rejeitando os do pai. Por isso, exige ao pai a sua herança.
• Este termo equivale a vida (v. 12) ou a patrimônio. Obtido o que pede, parte e esbanja “tudo quanto possuía (a sua riqueza), numa vida desregrada”.
• Este filho perde os bens, mas perde, sobretudo, a si mesmo. A experiência da miséria (v. 17) o faz cair em si e dar-se conta da desgraça de uma vida vivida de modo irresponsável.
• Ele decide, então, regressar a casa e recomeçar uma vida nova. O pai o esperava (v. 20), porque nunca tinha deixado o seu coração afastar-se daquele filho. Ele, conforme ouvimos da parábola, o recebe comovido e de braços abertos, restituindo-lhe a dignidade perdida (vv. 22-24).
- Com esta parábola, Jesus revela o modo de agir do Pai, e o seu, em relação aos pecadores que se aproximam e dão um sinal de arrependimento.
• Contudo, os fariseus e os escribas se recusam a participar na festa do perdão, como o filho mais velho (v. 29), sempre bem comportado e que, por isso, até se julga credor do pai.
• É belo ver a atitude do pai que não desiste, nem diante deste filho que não quer entrar e que exige “direitos”. Ao sair de casa, para estar também com esse filho mais velho, o pai revela a todos o amor que sabe esperar, procurar, exortar, porque quer abraçar e reunir todos na sua morada.
- Esta parábola é claramente dirigida aos fariseus e escribas que criticavam Jesus pelo modo como lidava e tratava com os pecadores (vv 1-3).
- A intenção principal de Jesus se vê no fim da narração, na reação do filho mais velho e nas palavras do Pai, que são a chave de interpretação de toda a parábola.
• Todos podemos nos ver num ou noutro filho, no pecador assumido ou no justo presumido. O pai sai sempre ao encontro de um e de outro, quer venha da dispersão, como o filho pródigo, quer venha das regiões de uma falsa justiça ou de uma falsa fidelidade, como o filho mais velho.
• O importante, para nós, quer venhamos de uma ou de outra situação, é que nos deixemos acolher e abraçar pelo Pai bom, que quer a felicidade de todos os seus filhos e filhas.
- Que tipo de filho/a sou eu, com quem da parábola mais me identifico? Julgo-me melhor, diante de tantos novos filhos pródigos dos tempos de hoje? Tenho resistência em acolhê-los, dificultando a sua volta, o seu retorno? De outra parte, sou orgulho ao ponto de resistir em voltar à Casa do Pai, de não confiar na sua misericórdia? O que mais alegra o seu coração, abrir ou fechar portas? ... às vezes, a nossa dureza de coração, dificulta a conversão das pessoas...
3. Reze à luz dessa Palavra:
- Talvez seja relativamente fácil nos ver no filho pródigo.
• Pode ser mais difícil dar-nos conta de que pensamos e reagimos como o filho mais velho, que contabiliza o que dá ao Pai e o que não recebe d'Ele, tal como contabiliza o que irmão mais novo recebeu, sem dar nada em troca, e até ofendendo o Pai.
• E, nesse caso, clamamos pela injustiça, nos sentindo lesados...
- Pode-se, a princípio, julgar anormal a atitude do pai por manifestar tanta bondade a quem cometeu o mal. Mas o Senhor quer nos fazer compreender que, para quem é fiel a Deus, está reservada uma recompensa ainda maior: não a alegria de receber, mas a alegria de dar.
• “A felicidade está mais em dar do que em receber” (At 20, 35).
- Esta é, por excelência, a parábola da misericórdia. Mais que “parábola do filho pródigo”, deve ser chamada “parábola do Pai misericordioso”, do Pai pródigo em misericórdia.
• Como Ele, devemos aprender a abrir o coração a todos os irmãos, a estarmos com Ele para acolher os pródigos ou os pretensos justos, a vermos a todos do seu ponto de vista, que não é a justiça fria e cega.
- Nossa oração nos ajude a confiar em Deus, a reconhecer a sua infinita misericórdia, a compreender que Ele não se compraz com a morte do pecador, mas deseja que se converta e viva...
Oração
Pai misericordioso,
que estás sempre à nossa espera, para nos acolher, nos abraçar, nos perdoar e nos restituir a dignidade de filhos e filhas,
acende em nós a saudade de Ti, do teu amor.
Faz-nos voltar à tua intimidade, quer sejamos pródigos dispersos, quer sejamos justos presumidos.
Queremos fazer festa Contigo e com todos os teus filhos e filhas, nossos irmãos e irmãs.
Queremos aprender que há maior alegria em dar do que em receber.
Queremos aprender a ser pródigos em misericórdia para com todos os nossos irmãos e irmãs,
para não termos inveja dos dons que lhes fazes, para sabermos desculpar e perdoar as suas faltas,
para sabermos alegrar-nos com eles e Contigo, quando manifestarem algum sinal de arrependimento,
alguma vontade de regressarem à casa que, conosco e com eles, queres partilhar.
Amém.
4. Da contemplação para a ação:
- O tempo da Quaresma é propício para retornar à Casa do Pai ou mesmo de fazer a experiência de filho/a e não de empregado...
- Todo Evangelho de Jesus é uma mensagem de alegria, sobretudo para os pobres, para os infelizes, para os pecadores.
• A alegria por causa de um pecador que se arrepende é alegria de Deus.
- "As parábolas de Lc 15 são uma trilogia do perdão e da misericórdia divina e nos mostram a estreita ligação que há entre o perdão e a alegria, entre a conversão e a festa.
• Tal como a ovelha que se desviou do redil ou a moeda perdida são causa de alegria para quem as encontra, assim também exulta de alegria o coração de Deus, quando um dos seus filhos e filhas regressa a Ele.
• Mais ainda, todo o céu faz festa por um pecador que se converte, porque se trata de um irmão que estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado".
- Então, o que você está esperando? Decide logo, volta à Casa do Pai... O tempo é agora: firme propósitos de vida, de mudança interior... busque a confissão sacramental... procura a graça de Deus para que seja restituída a sua dignidade de filho, de filha... o amor de Deus é desde sempre e para sempre, Ele é misericórdia e bondade...
- Anote o que foi mais importante na experiência da semana que passou... e alimente novo ânimo para continuar o percurso quaresmal...
- Não se esqueça a graça da semana, pedida a Deus: Que eu possa conhecer-me mais a fundo, tomar consciência de tudo o que me atrofia e limita a minha vida e, com a ajuda de Deus, remover todos os obstáculos que me impedem de viver uma vida mais fraterna.
• Deus não falta, mas a gente tem que colaborar...
Pe. Marcelo Moreira Santiago