Com a quaresma, tempo de graça e bênção especiais, preparamo-nos para as celebrações intensas e solenes dos mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Queremos vivenciar, na liturgia e na vida, as alegrias da Páscoa do Senhor e, por consequência, da nossa Páscoa.
À luz do amor misericordioso de Deus, somos chamados a “passar” da morte para a vida, renovando os bons propósitos de vida cristã. O apóstolo Paulo nos exorta a viver “alegres na esperança, perseverantes na tribulação e constantes na oração” (Rm 12,12).
Jesus nos pede assumir, com espírito renovado, as obras da oração, da esmola e do jejum. Assumindo essas obras, haveremos de aprimorar nossas relações com Deus, com os irmãos e irmãs e com todo a criação.
Estamos precisados de falar mais com Deus, entrar em diálogo confiante com Ele através da oração. Falamos por vezes de Deus, mas pouco com Ele. É necessário deixar-se conduzir por Ele, alimentar uma espiritualidade de verdadeiro seguimento e de prontidão para, em tudo, fazer a sua santa vontade, viver como Deus é servido.
Para nós, mais que dar esmola, é ser esmola, ou seja, praticar a caridade cristã, a amizade social; é trazer em nós os mesmos sentimentos de Jesus, em seu coração todo compaixão, solicitude e misericórdia.
Temos muito que avançar em vista do testemunho coerente da fé, mostrando em gestos e ações concretas, em boas obras, o amor a Deus no serviço à vida, em bem dos irmãos e irmãs, a começar dos mais necessitados e empobrecidos, os preferidos de Deus.
Desafia-nos, igualmente, através da mortificação e do jejum, o equilíbrio humano-afetivo e espiritual diante dos instintos, para não sermos escravos deles, mas viver com mais autenticidade e na alegria de servir, tocados pela compaixão do coração do próprio Deus que nos pede a partilha para que a ninguém falte o necessário para a sua vida, dignidade e salvação.
É esse o caminho que somos chamados a trilhar, de penitência e esperança, pois, como também diz Paulo, diante dos contratempos e provações da vida: “Se Deus é por nós, quem será contra nós” (Rm 8,31). Tudo o mais é secundário, diante do imenso amor de Deus por nós que também nos impele ao amor ao próximo, à fraternidade e à amizade social. “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).
Pe. Marcelo Moreira Santiago