“Não façais de minha casa uma casa de comércio”
Ex 20, 1-17; Sl 18; 1Cor 1,22-25; Jo 2,13-25.
1. Preparo para me colocar na presença de Deus e para ouvir o que Ele tem a me dizer:
- Faça silêncio, por alguns instantes. Prepare-se para entrar em oração... entregue as suas preocupações ao Senhor.
• Comece sua oração com um breve exercício de interiorização e de concentração. É no seu interior que habita a verdade de Deus. Ele não está lá no alto, distante, longínquo, mas próximo. “Se alguém me ama, viremos a Ele e faremos nele a nossa morada”. Somos templo de Deus, descubra-o aí no seu coração.
• Invoque o Espírito Santo, pedindo que Ele lhe conceda suas luzes e dons...
- Peça a graça desta semana:
Que Deus imprima em mim a imagem de Jesus para que, amando-o, eu o siga e, gratuitamente, coloque-me a serviço da fraternidade e da amizade social.
• Leia, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse domingo, O Dia do Senhor... Saboreie essa Palavra de vida e salvação... é Palavra de Deus viva e eficaz...
2. O que diz a Palavra de Deus para mim?
- No Evangelho de hoje, vemos que mais do que a violência (simbólica) da ação de Jesus, o que “chama a atenção” de todos no Templo é sua ousadia, ou seja, o fato de desmantelar as suas relações equivocadas com Deus.
- Aqui se dá o cumprimento do que falavam os profetas no Antigo Testamento sobre a ação de Deus na história, como o “Dia de Yahweh”, onde Deus tomaria posse de sua casa, porque está farto de sacrifícios vazios e irritantes, sem ressonância na vida.
• O culto que oferecem a Deus é um culto desvinculado da prática da justiça e da misericórdia, sem se diferenciar do comércio da idolatria.
• A relação com Deus, revelada por Jesus, não era compatível mais com as condutas antigas, exigindo a sua abolição, ou seja, o total esvaziamento do Templo.
- Quando Jesus chega ao Templo, é surpreendido por um ambiente comercial.
• Os cambistas, aproveitando-se das prescrições para o culto, ali se encontram assentados como se fossem “donos” do lugar. Os vendedores ofertam os animais permitidos para o sacrifício como se fossem simples mercadorias.
- Como vemos, o sentido do culto se reduz ao mercado religioso que o mantém.
• Nada ali é gratuito... mesmo os pobres, na impossibilidade de sacrificar bois ou ovelhas, devem oferecer dois pombos.
• Aqui se deturpa a própria razão de ser do Templo... a relação “toma lá, dá cá” com o divino, é própria dos “deuses pagãos”.
- Jesus põe fim aos sacrifícios de animais.
• Com as cordas que prendiam os animais, Jesus faz um chicote e expulsa todos do Templo, pessoas e animais... esparrama as moedas dos cambistas, vira suas mesas, desmontando o aparato financeiro do culto.
• Aqui o grande ensinamento: o novo culto a Deus não se faz com sacrifícios de animais, nem com dinheiro, mas com Espírito e Verdade.
- As autoridades religiosas, vendo tudo aquilo acontecendo, ficam espantadas, mas não pedem a Guarda do Templo para prendê-lo ou imobilizá-lo.
• Eles, intuindo em sua ação um gesto profético e messiânico, vão até Jesus e lhe pedem credenciais “que sinal nos mostras para fazeres isto?
• Jesus, como vimos, lhes responde: “Destruí este templo e em três dias eu o reerguerei”.
• Eles não entendem o sentido da resposta de Jesus, pensam tratar-se do templo material...
- Jesus porém fala do Templo de Deus, como seu próprio Corpo ressuscitado, gratuitamente oferecido para que o ser humano retorne à comunhão com Deus.
• O Evangelho revela, então, quem Ele é, o Messias de Deus, e o que, tão logo, haveria de realizar, imolando-se em morte de cruz, obediente ao Pai e por amor a nós, qual “servo sofredor”, para a salvação do mundo, da humanidade...
- Ele é “o Templo Novo” onde Deus reside e onde marca encontro com os homens para lhes oferecer a sua Vida e a sua salvação. Quem quiser encontrar Deus deve se aproximar de Jesus, tornar-se seu discípulo, abraçar o seu projeto, seguir os seus passos, viver animado pelo seu Espírito...
- Vivo assim a minha vida, no seguimento de Jesus, como discípulo missionário, deixando-me conduzir pelo Espírito, para em tudo fazer a vontade do Pai? Como se molda minha relação com Deus, com gratuidade ou típica dos interesses econômicos?
3. Reze à luz dessa Palavra:
- Como é que podemos encontrar Deus e chegar até Ele? Como podemos perceber as propostas de Deus e descobrir os seus caminhos?
• O Evangelho deste domingo responde: é olhando para Jesus. Nas palavras e nos gestos de Jesus, Deus revela-Se aos homens e manifesta-lhes o seu amor, faz-Se companheiro de caminhada dos homens e aponta-lhes caminhos de salvação.
- Neste tempo de Quaresma – tempo de conversão, de renovação, de caminhada em direção ao Homem Novo – somos convidados a olhar para Jesus, a aproximar-nos dele, a ir atrás dele, a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho” essa proposta de vida nova que Deus nos quer apresentar. É isso que acontece conosco?
- Em sua oração, fale com Deus sobre o que se passa em seu interior, nesse momento... Diga-lhe sobre a imagem que você tem d’Ele e de como vê e sente a sua relação com Ele... Por vezes, é desconcertante ter presente que Deus não nos exige absolutamente nada, apenas nos pede para crer n’Ele e para amar... mas nos sentimos sempre em dívida para com Ele...
4. Da contemplação para a ação:
- Jesus é, agora, o novo Templo onde Deus reside e onde os homens podem encontrar Deus e a sua proposta de salvação. E nós cristãos, seus discípulos, membros do seu Corpo, somos, como Igreja, pedras vivas desse Templo.
• Esta realidade supõe, para os discípulos de Jesus, uma grande responsabilidade… Os homens do nosso tempo têm de ver em rosto de cristãos o rosto bondoso e terno de Deus; têm de experimentar, nos gestos de partilha, de solidariedade, de serviço, de perdão entre nós, a vida nova de Deus...
• Eles têm de encontrar, em nossa preocupação, enquanto cristãos, com a justiça e com a paz, o anúncio desse mundo novo que Deus quer oferecer a todos os homens e mulheres.
- Talvez o fato de Deus parecer tão ausente da vida, das preocupações e dos valores das pessoas do nosso tempo tenha a ver com a fraqueza do nosso testemunho.
• O nosso testemunho pessoal é um sinal de Deus para os irmãos e irmãs que caminham ao nosso lado? A vida das nossas comunidades dá testemunho da Vida de Deus?
- A Igreja – comunidade dos discípulos de Jesus – é essa “casa de Deus” de portas sempre abertas onde qualquer pessoa, sem distinção de raça, de estatuto social, de estado civil, de opção sexual, pode encontrar a proposta de libertação e de salvação que Deus oferece a todos?
- Qual é o verdadeiro culto que Deus espera? Evidentemente, não são os ritos solenes e pomposos, mas vazios, estéreis, porque carecem de testemunho...
• O culto que Deus aprecia é uma vida vivida na escuta das suas propostas e traduzida em gestos concretos de doação, de entrega, de serviço simples e humilde aos irmãos e irmãs.
• Quando somos capazes de sair do nosso comodismo e da nossa autossuficiência para ir ao encontro do pobre, do marginalizado, do estrangeiro, do doente, estamos a dar a resposta “litúrgica” adequada ao amor e à generosidade de Deus para conosco.
• Fraternidade e amizade social... “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).
Oração
Senhor Jesus,
Faz-me atento, à luz da fé, para não transformar o Templo de Deus,
numa casa de comércio.
Jamais permita que a minha relação com o Pai
seja uma troca comercial em que eu venha a cumprir os ritos religiosos
tão só, para ter Deus a meu favor, para obter algum benefício
ou para evitar o pecado para que Ele não tenha razões para me condenar.
Longe de mim toda ganância e egoísmo.
Que eu reconheça, no seguimento a Ti, que Deus é amor,
Amor que não se compra e nem se vende, mas que é puro dom.
Que eu assim viva, imitando-Te, na misericórdia e na gratuidade
agindo com gestos gratuitos
de amor, partilha e fraternidade em favor de meus irmãos e irmãs.
Amém.
- Faça as anotações sobre o que foi mais significativo para você, na sua oração hoje... o que mais o afetou durante a oração: imagens, alguma palavra ou gesto... também como se sente agora, enquanto anota...
Bom domingo para você, com bênçãos renovados do Bom Deus...
Pe. Marcelo Moreira Santiago
