Certa vez uma catequista, após ler, meditar e ensinar a Palavra Deus para seus pequeninos, pediu para que as crianças com as quais vivia seu Ministério Catequético, após falar-lhes sobre o mandamento supremo do amor a Deus, que desenhassem o que haviam apreendido naquele dia.
No final do encontro os meninos e meninas foram até a frente e disseram sobre seus desenhos. Muito bonitos aliás, como a catequista expressava depois de cada apresentação, no entanto, um desenho, que aliás essa catequista guarda até hoje, chamou sua atenção, uma menina havia desenhado um ouvido com uma mãozinha perto.
A catequista curiosa, porque de fato o desenho era muito diferente dos demais, que procuravam desenhar Moisés, ou a sarça pegando fogo, ou corações, no entanto, aquela menina havia desenhado um ouvido. Curiosa a catequista ao deixar que a menina dissesse sobre sua arte religiosa ficou encantada com a narrativa.
_ Minha vovó é quase surda, ouve muito pouquinho, a gente tem que gritar no ouvido dela pra ela ouvir o que a gente diz. Hoje em dia, segundo minha mamãe, ela gosta de ficar sentada num canto da varanda de nossa casa, ou mexendo no jardim. Ela está sempre sozinha e sempre que está sentada tem uma bíblia nas mãos. Um dia ela escutou igual a gente escuta, mas hoje não ouve tanto mais. Quando ela fala com a gente, coisa difícil de acontecer, ela fala do tempo que ia à missa e ouvia a Palavra de Deus, comungava e cantava com suas amigas. Mamãe fala que ela aprendeu a amar ouvido a Palavra de Deus. Hoje ela não ouve mais, mas continua amando a Palavra de Deus. Um dia desses ela estava mexendo nas plantas do jardim e passou um moço na rua e pediu um pão. Sabiam que ela ouviu o moço pedindo um pão!? Ela foi na cozinha, pegou pão novinho de batata, leite e açúcar e deu para o moço, que agradeceu e foi embora. Eu perguntei para minha avó se ela o conhecia. Ela não me ouviu então gritei bem alto: “vó quem era o moço?”. Ela mexendo num matinho, levantou a cabeça, sorriu e disse: “era Jesus minha filha, Ele sempre me deixa ouvi-Lo nos outros...”.
A catequista abraçou a menina e pediu o desenho para si. Até hoje o desenho está em sua casa, moldurado como uma oração: “Jesus, mesmo que eu fique surda um dia, não me deixe ensurdecer à sua voz nos pequeninos”.
Oséias nos fala que o homem e a mulher sábios ouvem e compreendem a Palavra de Deus e deixam que essa Pala se transforme em fé viva, em resgate e transformação. Quem ouve a Palavra de Deus se configura em uma outra realidade, realidade de transformação e adequação.
Ainda, há alguns dias atrás, quando celebrávamos o 2º Domingo da Quaresma, o Senhor nosso Deus e Pai pedia ao declarar Jesus seu Filho amado: escutai-O. Quem escuta a voz de Jesus escuta o próprio Pai que nos instrui nas realidades da fé, com carinho, nos colocando em seu caminho de amor e misericórdia.
Quando o escriba pergunta a Jesus sobre o maior de todos os mandamentos, Jesus não foge à realidade e repete, certinho o mandamento: “ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
A vovó da menininha procurou viver e ensinar. Dizia pouco, mas seu modo de agir, falava bastante. Seu agir, simples, era repleto de perfume do Líbano. Era agradável a Deus e ensinava.
Ouvir o Senhor é ouvir as duas máximas de nossa fé: amar a Deus e amar a Deus em nós mesmos e em nossos irmãos e irmãs.
Qual seria nosso desenho para hoje?
Vamos juntos desenhar para a vida?
Pe. Jean Lúcio de Souza