“O publicano voltou para casa justificado, o outro não”
Os 6,1-6; Sl 50; Lc 18,9-14.
1. Preparo-me para ouvir o que Deus tem a me dizer:
- Faça um pequeno silêncio, para apaziguar, interna e externamente, o seu coração.
• Acolhendo a presença de Deus, em sua Palavra. Coloque-se em suas mãos. Invoque sobre você o Espírito Santo...
• Recorde-se da graça pedida nessa semana: Que eu possa conhecer-me mais a fundo, tomar consciência de tudo o que me atrofia e limita a minha vida e, com a ajuda de Deus, remover todos os obstáculos que me impedem de viver uma vida mais fraterna... Andei rezando, fazendo essa súplica a Deus? ... De outra parte, o que fiz para colaborar com esse bom propósito...
• Leia agora, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia... Procure, ruminar, saborear essa Palavra que é viva e eficaz...
2. Meditando a Palavra de Deus:
- Na primeira leitura, o profeta Oséias fala das muitas desgraças que afetam o povo de Deus.
• De fato, a esse tempo, Israel e Judá estão em guerra.
• A aliança com a Assíria levou à perda das regiões setentrionais de Israel, no ano 732 a. C.
- No contexto de um ato litúrgico penitencial, o profeta avisa o povo: tudo isto se deve ao afastamento de Deus, a um culto meramente formal e vazio de amor.
• A seguir o profeta apresenta um forte clamor: é preciso estar alerta, buscar a conversão, pois já se divisa no horizonte o dia do castigo messiânico (Os 5, 9).
- Com uma imagem frequente na Sagrada Escritura, o povo reconhece estar doente (Os 5, 13) e invoca a Deus como único médico capaz de curar a ferida que Ele mesmo provocou em vista da correção (v. 1).
• Deus é o Senhor da história. Ele Sabe que o arrependimento do povo é passageiro e movido por interesse (vv. 3 e 4).
• Contudo, Deus não se cansa de chamar à conversão.
• A sua Palavra é uma espada que fere para curar.
• Pede amor e não holocaustos (v. 6), confiança e não simples atos de culto, ainda por cima praticados com hipocrisia.
- Já o Evangelho se situa no contexto da subida para Jerusalém, onde Jesus vai apresentando as exigências para a entrada no Reino.
- A página que hoje escutamos, em forma de parábola, contada por Jesus, nos apresenta duas pessoas em oração. O seu modo de rezar revela o seu modo de viver e de se relacionar com Deus e com os outros.
- O fariseu realça os seus méritos e se julga credor diante de Deus.
• No fundo, ele não precisa de Deus, ainda que formalmente lhe agradeça tê-lo feito tão perfeito.
• Mais ainda: a sua justiça o leva a julgar impiedosamente os outros.
• O excesso de auto¬estima e de autoconfiança o levam a desprezar os outros (v. 11).
- O publicano, pelo contrário, consciente dos seus pecados, tudo espera da misericórdia de Deus.
• Dobrado pelos seus pecados, está lançado para o céu. Batendo com a mão no peito, bate à porta do Reino, que lhe é aberta.
- Como rezo a Deus, com arrogância e orgulho, ou com humildade, reconhecendo-me necessitado de sua graça e de seu perdão? Sou de julgar-me melhor que os outros, assumindo atitudes de discriminação e preconceito? Busco a conversão diária, reconhecendo que Deus tem o poder de me curar? O culto que presto a Deus é vazio de amor? Em que preciso mudar?...
3. Reze à luz dessa Palavra:
- A parábola que o Evangelho hoje nos apresenta é um verdadeiro dom de Deus, particularmente no tempo da Quaresma que estamos a viver.
• Pode acontecer de sermos tentados a pensar que, com as práticas penitenciais que nos propusemos, e vamos praticando, somos melhores que os outros.
• Ceder a esta tentação, seria arruinar todo o bem que, com a graça do Senhor (é bom lembrar disso), temos praticado.
- “Quero a misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus mais que os holocaustos”, diz-nos o Senhor pela boca de Oseias.
• Conhecer a Deus e conhecermos a nós mesmos em Deus, é o caminho da sabedoria e da vida.
• Foi o caminho que os santos de todos os tempos percorreram: “Que Te conheça, que eu me conheça”, pedia Santo Agostinho.
- Quem somos nós, sem Deus? Somos certamente pecadores, cheios de orgulho e cheios de desprezo pelos outros.
• Sem Ele, somos prisioneiros do nosso egoísmo e do nosso pecado.
- Quem somos nós com Deus? Somos ainda pecadores, mas pecadores que sabem que a experiência de pecado pode tornar-se o lugar em que Deus, o Misericordioso, nos revela o seu rosto.
- Em sua oração, reconheça-se pecador e, de outra parte, reconheça a misericórdia de Deus para com você... Quem é você sem Deus?... Firme o propósito de caminhar nos seus caminhos...
- Sugiro que você reze a oração a seguir quantas vezes o teu coração pedir, colocando-se inteiramente na misericórdia divina...
Oração
Senhor, me ajuda a me libertar das máscaras com que tento esconder a fragilidade que sou eu,
a mesquinhez do meu coração, a dureza dos meus preconceitos.
Sinto-me realmente doente, necessitado de salvação. Sinto-me, também eu, um fariseu.
Mas não consigo esconder-Te a minha verdade: tu sabes que o meu coração não é puro, que a minha vida não é santa,
que, muitas vezes, julgo, com desprezo e condeno os outros, tentando justificar-me com obras que são só aparência.
A tua graça me faz, hoje, tomar consciência de tudo isso, e me faz experimentar um enorme vazio dentro de mim.
Como o publicano da parábola, dobro-me a teus pés e digo: “tem piedade de mim, que sou pecador”.
Sei que, também a mim, queres dar a graça de reconhecer a minha humildade, a minha pequenez,
e de experimentar a tua misericórdia, imensamente maior que os meus preconceitos e os meus pecados.
Por isso, Te digo: Senhor, se quiseres, podes curar-me.
Amém.
4. Da contemplação para a ação:
- Um excelente exercício para a nossa Quaresma consistirá em nos unir à misericórdia de Deus, revelada em Jesus Cristo, que aceitou ser contado entre os pecadores, que carregou sobre Si as culpas de todos, e aceitou morrer para nossa salvação.
• Ele não só não se separou dos pecadores, mas aceitou conviver com eles, para a todos revelar o amor misericordioso do Pai.
• Você, eu, nós, cristãos, devemos continuar a ser sinais desse amor misericordioso junto dos irmãos e irmãs, particularmente daqueles que nos parecem maiores pecadores.
• Tudo o mais que fizermos, jejuns, orações, esmolas, ou outras penitências, deve ser oferecido pelos nossos próprios pecados.
• Se nos julgamos mais perto de Deus, devemos prová-lo a nós mesmos com uma proximidade maior junto dos outros, uma proximidade permeada de misericórdia e de amor fraterno e de amizade social, de amor oblativo.
• “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).
- Tomo a liberdade de lhes recordar um outro texto, já meditado por nós nessa quaresma, mostrando como Jesus se aproxima das pessoas com muita compreensão, com doçura e humildade. É a Parábola do pai bom e do filho pródigo.
• As palavras do pai não são um sermão, não avançam com queixas e muito menos acusações. O Pai “não joga na cara do filho”, tudo o que este fez, não está preocupado “em dar bronca, em criar polêmica...
• À humilde confissão do filho: "Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho" (Lc 15, 21), o pai responde beijando-o e o abraçando e apenas fala, em seu amor sábio e misericordioso: "Depressa, trazei a veste mais bela para ele, ponha o anel no dedo e sandálias nos seus pés. Trazei o vitelo gordo, matai-o, vamos comer e fazer uma grande festa... " (Lc 15, 22-23).
- Então, é este o modo como também havemos de agir para com os nossos irmãos e irmãs, mesmo com aqueles de quem tenhamos alguma queixa.
• Faze isto e viverás...
Pe. Marcelo Moreira Santiago