RETIRO QUARESMAL PAROQUIAL. REFLEXÃO DIÁRIA. 16 de abril. Quarta-feira da Semana Santa: Is 50, 4-9a; Sl 68; Mt 26,14-25.

- Jesus fez questão de se confraternizar com um círculo dos amigos, do qual Judas fazia parte.

• Estando todos reunidos pela última vez, Jesus anuncia quem é o traidor. “É o que acabou de colocar a mão comigo no prato” (Mt 26,23).

- Esta maneira de anunciar a traição acentua o contraste.

• Para os judeus, a comunhão na mesa, o colocar juntos a mão no mesmo prato, era a expressão máxima da amizade, da intimidade e da confiança.
• Mateus sugere assim que, apesar da traição ser feita por alguém muito amigo, o amor de Jesus é maior que a traição.

- Na descrição da paixão de Jesus, no Evangelho de Mateus, acentua-se fortemente o fracasso dos discípulos.

• Apesar da convivência de três anos, nenhum deles ficou para tomar a defesa de Jesus.
• Judas traiu, Pedro negou, todos fugiram...

- Mateus conta isto não para criticar ou condenar, nem para provocar desânimo em nós, mas para ressaltar que o acolhimento e o amor de Jesus superam a derrota e o fracasso dos discípulos.

• Nós somos seus novos discípulos/as...

 

Pedido de graça da semana:

Senhor, dá-nos fidelidade à vida até o fim,

para que possamos saborear a ressurreição

da criação inteira.

 

“Chegada a tarde, Jesus se pôs à mesa em companhia dos doze”

(Mt 26,20)

- Mais uma vez, a liturgia nos convida a “fazer memória” desta Ceia tão especial.

• Jesus havia transitado por muitas refeições, participando de muitas mesas, especialmente com os pobres e pecadores.
• Agora nos deixa uma “mesa” como marca dos seus seguidores. Mesa da partilha e da inclusão, mesa da festa e da comunhão.

- É em torno desta mesa que os seguidores de Jesus se constituem como verdadeira comunidade.

• Ao recordar a vida, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus, os cristãos se comprometem a prolongar os seus gestos, atitudes, valores, compromissos.

- “Fazer memória” de Jesus junto à mesa é comprometer-se com a vida, é colocar a própria vida a serviço da vida.

- É Junto à mesa que se dá o processo de humanização e comunhão...

• A partir deste ato sagrado, podemos olhar o outro mais de perto, escutá-lo mais de perto, senti-lo mais de perto.
• É assim a comunidade dos cristãos, a Igreja... utopia do Reino...

 

Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 26,14-25.

- Leia o Evangelho, sem pressa. Procure saborear o que ele diz... entrar na cena, registrada por São Mateus, da última Ceia, onde Judas Iscariotes intenta trair Jesus... Deixe-se conduzir pelo Espírito de Deus...

- “Um dos Doze”, um dos amigos íntimos de Jesus foi entregá-lo aos que o pretendiam matar.

• Foi por iniciativa de Judas, livremente... A partir desse momento, continuando no grupo dos discípulos, que partilhavam a vida e a missão do Mestre, ele ficou à espera de “uma oportunidade”: (v. 16) para o entregar...

- A liberdade humana é capaz de tudo, até de se transcender na iniquidade, obra de Satanás (Lc 22, 3 e Jo 13, 2).

• Mateus o dá a entender, quando cita Zacarias: “Quanto me dareis, se eu o entregar? Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata” (v. 15; Zc 11, 12).

- Mais significativo é o uso teológico do verbo “entregar”.

• Trata-se de uma “entrega-traição”, da parte dos homens, e uma “entrega­dom”, da parte do Pai, que entrega o Filho, e da parte do Filho que se entrega a Si mesmo até à morte na cruz (Jo 19, 30).

- Jesus sente que a sua “hora” se aproxima. Por isso, ordena que a celebração da Páscoa seja devidamente preparada.

• Deseja ardentemente celebrar com os discípulos aquela refeição pois, nela, o antigo memorial dará lugar ao novo, deixando-nos o seu Corpo e o seu Sangue como alimento e bebida.

- A entrega de Si mesmo acontece num ambiente marcado pelo anúncio da entrega-traição.

• Os discípulos mergulham num clima de insegurança e de desconfiança. Fazem perguntas a Jesus, chamando-o “Senhor” (Kyrios), enquanto Judas o chama simplesmente “Mestre” (Rabi).

- Mas Jesus é, de fato, Senhor.

• Por isso, conhece o traidor e reconhece que nele se cumprem as Escrituras.

- A insegurança dos discípulos representa a nossa própria insegurança perante a possibilidade de também nós virmos a trair, a negar Jesus...

- Como está minha relação com Deus, é de negação ou de amor afirmativo? Tenho participado da mesa da Palavra e da Eucaristia, regularmente, em minha comunidade? Que disposições me acompanham? Minha vida se traduz numa comunhão filial com Deus e numa comunhão fraterna com meus irmãos e irmãs? Em que esse Evangelho fala mais profundamente ao meu coração? ...

 

 

- Converse com Deus... Deixe a graça de Deus “trabalhar” em você... Acolha, com abertura, as palavras do Evangelho deste dia... Reze confiante:

 

Senhor Jesus Cristo,

quero, hoje, confessar-me diante de Ti.

Para isso, Te peço um coração arrependido,

e palavras humildes e sinceras.

Também Ti vendo, mais do que uma vez.

Todos os dias, em minhas incoerências,

Vivo especulando sobre a tua pessoa,

vivendo desse miserável lucro.

A mim, que tanto amas!

Como podes suportar-me ainda na tua casa,

a comer o pão das tuas lágrimas e a beber o sangue do teu sofrimento? Vendido por mim, por quase nada, compraste-me

com o preço infinito do teu sangue.

Que, através da ferida do teu Coração,

eu possa ser introduzido e estabelecido para sempre

na comunhão do teu amor.

Amém.

 

- Pergunte-se: Em que a Palavra de Deus hoje me ajuda a viver? Que respostas de vida, Ele me pede?

- A Paixão de Jesus não foi um acontecimento imprevisto. Tudo fora profeticamente anunciado, até o preço da traição (Zc 11, 12-13).

• A referência à profecia de Zacarias nos leva a ver Jesus como o rei manso e humilde de que fala o mesmo profeta (Zc 9, 9).

- Mas é sobretudo Isaías que profeticamente anuncia, com pormenores impressionantes, todo o drama de Jesus.

• A primeira leitura nos apresenta, mais uma vez, o misterioso Servo de Javé, atormentado e humilhado, mas cheio de paciência, e de obediente e confiante abandono em Deus.
• É uma clara figura de Jesus na sua Paixão (vv. 5-6), onde se revelará a majestade de Deus-Pai.

- No Evangelho encontramos, de um lado, Judas que trai o Mestre e, do outro lado, Jesus que dá orientações para a ceia pascal.

• Como mandavam os ritos, Jesus devia explicar o significado dessa refeição singular e solene.
• Ele o faz dando-lhe um sentido novo, em que se destacam dois elementos importantes: Jesus torna os seus discípulos participantes da sua dignidade e do seu destino e o seu sangue será derramado para remissão dos pecados.

- Entre a preparação e a celebração da ceia, é descoberto o traidor.

• Judas entrega Jesus, e Jesus entrega-Se a Si mesmo.
• A traição torna-se ocasião para o dom voluntário e total de Jesus. A sua morte torna-se fonte de vida.
• O seu Coração vence a morte e a transforma em vida para o mundo...

- A Páscoa estava desde sempre preparada em Deus.

• Mas, quando o Filho do homem veio realizá-Ia no meio de nós, abriu-se para todo o homem e toda mulher um horizonte novo de ilimitada liberdade, a liberdade de amar dando a própria vida, para se reencontrar em plenitude no seio amante da Trindade.

- É na cruz que se contempla a glória de Cristo, isto é, a expressão suprema do Seu amor ao Pai e por nós, amor que O leva, em máxima liberdade, a se entregar como Cordeiro que tira o pecado do mundo (Jo 17, 1; 13, 1).

• O Coração humano-divino de Cristo, o Coração traspassado, é a "expressão mais eloquente" desse amor, o símbolo que nos remete para ele.
• É também sinal de que esse amor se realiza "até o fim” (Jo 13, 1); é testemunho, isto é, um amor feito vida, que aceita a morte para dar a vida.

- “Ninguém tem maior amor do que este” (Jo 15, 13) ... um amor leva a dar a vida, e a dar livremente...

• Assim Deus nos amou, assim nos ama... Pergunto: você tem feito esta experiência em sua vida? Em que sua vida se vê transformada pelo amor de Deus? ...

- Termine sua oração com preces espontâneas e dando graças a Deus por esse momento... louve, suplique, agradeça... O tempo é agora...

• Não deixe de participar dos atos da Semana Santa...

- Reze a oração do Pai-Nosso e, de novo, peça a graça de se decidir sempre por Jesus, sem que nada o impeça de assim viver... jamais traí-lo por “encantos mundanos”, e, a seguir, reze a oração da CF-2025: 

 

Ó Deus, nosso Pai,

ao contemplar o trabalho de tuas mãos, viste que tudo era muito bom!

O nosso pecado, porém, feriu a beleza de tua obra,

e hoje experimentamos suas consequências.

Por Jesus, teu Filho e nosso irmão, humildemente te pedimos:

dá-nos, nesta Quaresma, a graça do sincero arrependimento

e da conversão de nossas atitudes.

Que o teu Espírito Santo reacenda em nós a consciência da missão 

que de ti recebemos: cultivar e guardar a Criação,

no cuidado e no respeito à vida.

Faz de nós, ó Deus, promotores da solidariedade e da justiça.

Enquanto peregrinos, habitamos e construímos nossa Casa Comum,

na esperança de um dia sermos acolhidos na Casa que preparaste

para nós no Céu. 

Amém!

 

- Não esqueça, registre no seu “caderno de vida” os sentimentos despertados pelo encontro de hoje com o Senhor: alegrias, conforto, resistências, medos, libertação... novos propósitos...

Pe. Marcelo Moreira Santiago