REFLEXÃO DIÁRIA. Tríduo Pascal. 17 de abril. Quinta-feira Santa. Missa da Ceia do Senhor: Ex 12,1-8.11-14; Sl 115; 1Cor11,23-26; Jo 13,1-5.

- Durante sua vida pública, Jesus revelou uma grande liberdade ao transitar por diferentes mesas, mesas escandalosas, que o faziam próximo dos pecadores, pobres e excluídos.

• Ele não só transitou por muitas mesas, mas instituiu a grande Mesa para a festa, a intimidade, a memória: a “Mesa do Lava-pés e da Última Ceia”.

- Nela, Ele despoja-se do manto, sinalo de dignidade do “senhorio” e pega o avental e a toalha, ferramenta do servo...

• Aqui está a grande verdade deste sinal: Jesus está no meio das pessoas como Aquele que serve.

- “Despojar-se do manto” significa “dar a vida” sob a forma de serviço e Jesus coloca toda a sua pessoa aos pés dos seus discípulos.

• O Criador põe-se aos pés da criatura para revelar como é amada e como deve amar...
• Obrigado, Senhor, quão grande é vosso amor...

Pedido de graça da semana:

Senhor, dá-nos fidelidade à vida até o fim,

para que possamos saborear a ressurreição

da criação inteira.

“Amou-nos até o fim” (Jo 13,1)

- Muito a propósito ver nesse Evangelho os gestos de esvaziamento de Jesus como servidor.

• Ele “levantou-se da mesa” (Jo 13,14): gesto que nos revela que não se pode servir permanecendo no comodismo. O gesto de levantar denota que há algo por ser feito.
• Ele “ficou de pé”: uma posição que expressa prontidão para servir, de deslocar-se do “próprio lugar” para o “lugar do outro”, para servir com amor.
• Ele “tirou o manto”: Ele mesmo se despoja, abre mão do manto... por vezes, o “manto” impede a liberdade de movimentos, não permite fazer o serviço com facilidade. De fato, existem “mantos” que são sinais de poder, não colocados a serviço...

- A gente tem como Jesus de trocar o “manto” pelo “avental” ...

• E sabe por que? Porque não há serviço sem se despir de todas as aparências de poder, de força, de prestígio.

- A descrição feita por São João é muito rica e densa... “Ele começou a lavar os pés dos discípulos e a enxuga-los com a toalha”.

• Jesus se inclina aos pés dos seus discípulos, até o chão, com reverência, cuidado, acolhida, sem fazer distinção de ninguém. Lava os pés de todos igualmente ...
• Um conselho: deixa Jesus “lavar os seus pés”...

- Tal Cristo, tal cristão.

• Na vivência do serviço evangélico, somos chamados a vestir o “avental de Jesus”, a “vestir o coração” com o avental da simplicidade, da ternura acolhedora, da escuta comprometida, da presença atenciosa, do serviço desinteressado.

- É preciso compreender que o gesto do “Lava-pés” constitui um dos gestos mais expressivos da missão e da identidade daqueles que seguem Jesus e exercem algum serviço em sua comunidade.

• Gesto que é revelação e ensinamento; amor e mandamento. É gesto-vida, gesto-horizonte, gesto-luz...

- o “Lava-pés é um gesto bonito, tocante, que o nosso povo gosta, mas cuidado, ele não é um teatro, mas um modo habitual (vou dizer de novo, habitual) de proceder e de estar no mundo.

• Precisamos, então, “levantar” da mesa, decidirmo-nos a ser “prolongamento” do gesto provocativo e escandaloso de Jesus ... o tempo é agora ...

Evangelho de Jesus Cristo segundo São João 13,1-15.

- Leia o Evangelho, sem pressa. Procure saborear o que ele diz... entrar na cena, registrada por São João, da última Ceia, ... Deixe-se conduzir pelo Espírito de Deus...

- Enquanto comiam, nesta noite da última Ceia, Jesus estava sentado com os seus discípulos.

• Ele ergue os olhos para o seu Pai e recolhe-se numa ardente oração: “Tomai e comei, isto é o meu corpo; bebei, isto é o meu sangue” ... “Fazei isto em minha memória”, acrescenta Jesus.
• Ali, seus apóstolos são feitos sacerdotes para a eternidade.

- A Paixão de Jesus começa no Cenáculo, com a atitude de Judas, o traidor... apesar de participar daquela Ceia e da instituição da Eucaristia, seu coração está longe, pois havia vendido Jesus por trinta moedas...

- Vemos aqui Jesus experimentar abatimento e piedade.

• Ele tenta ainda agir em favor de Judas, advertindo: “um de vós, diz, que estais comigo a esta mesa, vai me trair” ..., Isto devia recordar a Judas a lamentação de Davi: “Se um inimigo me tivesse ofendido, tê-lo-ia suportado, mas vós, um amigo que vivia à minha mesa ... “.

- Jesus deixa manifestar a sua tristeza, não por causa de si mesmo, Ele sabe que deve morrer: “No que diz respeito ao Filho do homem, vai acontecer segundo o que foi determinado”.

• Contudo, Ele se entristece por causa da traição do seu discípulo: “Ai daquele, diz, pelo qual o Filho do homem é traído” (Lc 22,22). Mas nada parece tocar o coração endurecido de Judas Iscariotes...

- Jesus se compraz na sua imolação eucarística. Esta Páscoa fecunda, que Ele acaba de celebrar com os seus discípulos, vai se renovar sobre o altar até ao fim dos tempos.

• É o maná do Novo Testamento, o pão da vida, o pão dos fortes, o penhor da salvação e da ressurreição.

- A Eucaristia é este Mistério inefável do amor de Deus - seu Corpo e Sangue, sua Alma e Divindade, qual alimento sacramental, dado a nós para que a nossa vida seja de comunhão filial com Deus e de comunhão fraterna com os irmãos e irmãs...

• A nossa vida deve ser, cada vez mais, uma vida eucarística...

- Jesus tanto nos amou que nada poupou para nos assinalar, assinalar a todos os homens e mulheres de todos os tempos, o seu amor!

• Bendito seja Deus por tanto amor e por tanta misericórdia... um amor sem medidas...

- Tenho participado, regularmente, da Mesa da Comunhão? A Eucaristia que recebo tem me ajudado a viver com mais convicção e amor o seguimento a Jesus? Ela tem me ajudado a viver o amor aos irmãos e irmãs, assumindo o gesto de Jesus de “lavar os pés” dos seus discípulos? Sou capaz de fazer o que Jesus fez, capaz de tirar o “manto” de meus privilégios para servir sempre, servir a todos e servir com amor? ...

- Converse com Deus... Deixe a graça de Deus “trabalhar” em você... Acolha, com abertura, as palavras do Evangelho deste dia... Reze confiante:

Jesus, divino Mestre,

Eu te louvo e agradeço

pelo grande dom da Eucaristia.

Teu amor te leva a morar conosco,

e a renovar teu mistério pascal na Missa,

Onde te fazes nosso alimento.

Concede-me a graça de conhecer-te sempre mais,

de encontrar-me contigo, neste Sacramento,

de compreender e viver a Missa,

alimentando-me do teu Corpo sacramentado,

com devoção e fé,

para servir sempre com amor.

Amém.

- Pergunte-se: Em que a Palavra de Deus hoje me ajuda a viver? Que respostas de vida, Ele me pede?

- Jesus lava os pés dos discípulos para dizer uma só coisa: amar é servir.

- Jesus tira o manto, no meio da refeição, e começa a lavar os pés dos discípulos.

• Tirar o manto significa abrir mão de todo privilégio ou status.
• Ele faz o que faziam os escravos. Num gesto de infinito amor. 

- No final, Jesus diz: "Vocês entenderam o que eu fiz? Vocês me chamam de "Mestre" e de "Senhor" e têm razão, pois eu sou mesmo. Se eu, o Senhor e o Mestre, lavei os pés de vocês, então vocês devem lavar os pés uns dos outros."

- Qual deve ser o nosso olhar a partir destas palavras de Jesus?

• Nosso novo olhar deve ser o do amor que serve, sem distinção a todos.

- Precisamos aprender com Jesus a ser livres para amar, acolhendo a vida como dom e compromisso, valorizando e defendendo a vida, especialmente onde ela se encontra mais fragilizada e sofrida.

- É na Última Ceia, lavando os pés dos seus discípulos, que Jesus institui a Eucaristia e o sacerdócio católico;  é ali que também nos concede o mandamento novo – “que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei” (Jo 13,34).

• Somos assim, enviados em missão...

- Termine sua oração com preces espontâneas e dando graças a Deus por esse momento... louve, suplique, agradeça... O tempo é agora...

• Não deixe de participar do Solene Tríduo Pascal, iniciando nessa quinta -feira santa...

- Reze a oração do Pai-Nosso e, de novo, peça a graça de viver verdadeira vida eucarística no amor a Deus e fazendo-se próximo, no amor a seus irmãos e irmãs...

- Não esqueça, registre no seu “caderno de vida” os sentimentos despertados pelo encontro de hoje com o Senhor: alegrias, conforto, resistências, medos, libertação... novos propósitos...

Pe. Marcelo Moreira Santiago