REFLEXÃO DIÁRIA. Tríduo Pascal. 18 de abril. Sexta-feira Santa. Paixão do Senhor: Is 52,13-53.12; Sl 30; Hb ,14-16;5,7-9; Jo 18.1-19.42.

- O mistério pascal, ou seja, a morte e ressurreição de Jesus de Nazaré e a efusão do Espírito sobre toda a criação, constitui o núcleo central da fé cristã.

• Este mistério pascal se estende também a todo o povo crucificado, ou seja, a esta grande maioria da humanidade que vive explorada e marginalizada...
• Crer no Crucificado implica descer da cruz todos os que estão dependurados nela.

- A imagem da crucificação se aplica também à situação de nossa terra, explorada, desertificada, contaminada, com a biodiversidade destruída...

• O ser humano não tem sido respeitoso com o Criador que a ele reservou a missão de cuidar do seu jardim e de compartilhar os seus frutos.
• O desiquilíbrio dos ecossistemas pode comprometer, de forma irreversível, todas as formas de vida sobre a terra, inclusive e sobretudo a vida humana.
• Estamos diante da “terra crucificada”, distante do projeto de Deus que “viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31) ...

- Como cristãos, devemos ouvir o grito da terra e o grito dos pobres como o grito de Jesus na cruz que condensa todos os gritos da humanidade explorada e da natureza espoliada.

Pedido de graça da semana:

Senhor, dá-nos fidelidade à vida até o fim,

para que possamos saborear a ressurreição

da criação inteira.

“Tudo está consumado” (Jo 19,30)

- A oração de hoje é profundamente silenciosa: trata-se de acompanhar Jesus no seu caminho em direção ao Gólgota e à sua morte na cruz...

- Nos Evangelhos, a Paixão de Jesus não é uma simples sequência de fatos, mas um confronto entre pessoas.

• Os diversos personagens entram em contato direto com Jesus, reagindo cada um a seu modo, vivendo cada qual o mistério do próprio chamado e da própria tomada de posição frente a proposta de Jesus.

- Contemplar todos estes que se encontram com Jesus, cada qual com uma resposta diferente, é estar diante de Jesus, sempre igual em sua atitude de disponibilidade e de entrega.

• Em tudo, Jesus se faz obediente ao Pai, obediente até a morte...
• Assim agindo e por amor a todos nós, entrega a sua vida, imolado como o Cordeiro para o sacrifício, para expiação de nossos pecados e salvação de nossas vidas...

Evangelho de Jesus Cristo segundo São João 18, 1-19,42.

- Leia o Evangelho, sem pressa. Procure saborear o que ele diz... entrar na cena, registrada por São João, a respeito da crucificação de Jesus, ... Deixe-se conduzir pelo Espírito de Deus...

-  Depois da morte de Jesus, a multidão se afastou, apenas os amigos ficam.

• Alguns soldados vêm verificar ou, se é o caso, apressar a morte dos crucificados que ali estavam, para que aquele suplício prolongado não viesse infligir o sábado, porque era o dia sagrado.

- Um dos soldados adiantou-se, portanto, e abriu o lado de Jesus com uma lança.

• A ferida exterior é aqui a revelação simbólica da ferida interior, a do amor. O amor, eis o algoz de Jesus! Cristo morreu porque quis, foi o amor quem o matou ...
• É assim que a Igreja canta, para saudar o Coração traspassado do seu esposo: “ó Coração vítima de amor, Coração ferido por amor. Coração morrendo de amor por nós!”.

- Nosso Senhor permitiu este golpe de lança para chamar a nossa atenção para o seu coração, para nos fazer pensar no seu amor que é a fonte de todos os mistérios da salvação: as promessas do Éden, as profecias e as figuras da antiga lei, a ação providencial sobre o povo de Deus, a encarnação, a vida, os ensinamentos e a morte do Salvador.

• A abertura do lado de Jesus, é como a fonte que regava o paraíso terrestre, é como a fenda do rochedo que deu a água para saciar o povo de Israel.

- E saiu sangue e água, diz São João.

• A lança ao ser retirada deixou jorrar uma dupla fonte de sangue e de água, na qual os Padres da Igreja viram o símbolo desta outra maravilha de amor, os sacramentos, canais preciosos da graça da salvação.
• Senhor, concedei-me beber desta água e deste sangue, para que não mais tenha esta sede doentia das coisas do mundo que me tortura, e que eu seja inebriado pelo vosso amor.

- “Olharão para dentro daquele que trespassaram”. É a palavra do profeta Zacarias, recordada por São João.

• O profeta não disse: “Olharão para aquele que traspassaram”, mas “olharão para dentro daquele que traspassaram.

- São João aplica estas palavras à abertura do lado de Jesus. Ele, por certo, pensava no interior de Jesus, no seu Coração, que ele pôde entrever pela chaga aberta do lado...

- Esta ferida nos entrega e nos abre o Coração de Jesus.

• Espiritualmente, nós aí lemos o amor que tudo deu, até a sua própria vida.

- Neste amor mesmo, nós reconhecemos o motivo e o fim de todas as obras divinas: Deus nos criou, nos resgatou, nos santificou por amor.

• “Deus é amor”. São João leu isto no Coração de Jesus.

- Esta ferida deve me fazer ver como eu sou amado e como por minha vez devo amar.

• Sou chamado a aprender com Jesus, com o seu lado aberto, como um coração amante deve agir, sofrer, tudo dar, até à morte, por Deus e pelas pessoas.

- Nas nossas dores, por mais extremas que sejam, tenhamos confiança na simpatia e na compaixão deste Coração, que quis assemelhar-se a nós no sofrimento, para ser mais compassivo e mais misericordioso (Hb 2, 17).

• Jesus, em seu coração amável, espera de mim, como resposta ao seu amor primeiro, o amor, a gratidão e a compaixão.
• Eis-­me aqui, Senhor, para viver convosco e em Vós. Não permitais que eu jamais me separe de vós...

- O que a paixão e morte de Jesus me diz? O que ela me ensina? O que ela me pede? ...

- Converse com Deus... Deixe a graça de Deus “trabalhar” em você... Acolha, com abertura, as palavras do Evangelho deste dia... Reze confiante o Salmo 30:

Ó Pai,

em tuas mãos eu entrego o meu espírito.
Senhor, eu ponho em vós minha esperança,

 que eu não fique envergonhado eternamente!

 Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito,

porque vós me salvareis, ó Deus fiel!
Tornei-me o opróbrio do inimigo,

o desprezo e zombaria dos vizinhos

 e objeto de pavor para os amigos;

fogem de mim os que me veem pela rua.

Os corações me esqueceram como um morto,

 e tornei-me como um vaso espedaçado.
A vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio

e afirmo que só vós sois o meu Deus!

Eu entrego em vossas mãos o meu destino;

libertai-me do inimigo e do opressor!
Mostrai serena a vossa face ao vosso servo

e salvai-me pela vossa compaixão.

Fortalecei os corações, tende coragem,

 todos vós que ao Senhor vos confiais!

Amém.

- Pergunte-se: Em que a Palavra de Deus hoje me ajuda a viver? Que respostas de vida, Ele me pede?

- A contemplação da paixão e morte do Senhor é uma exortação a se ter um olhar de compaixão para com as pessoas que sofrem e ajudar, como Cireneu, os que caem.

- Como recorda o Papa Francisco: Ao adorarmos a Cruz, tenhamos na mente e no coração o sofrimento dos doentes, dos pobres, dos descartados deste mundo.

• Recordemo-nos dos ‘cordeiros imolados’ vítimas inocentes das guerras, das ditaduras, da violência diária, de abortos.
• Levemos diante da imagem do Deus crucificado, em oração, os muitos crucificados de hoje, que só d'Ele podem receber o conforto e o significado do seu sofrimento.

- Que Deus nos conceda a graça da conversão e da reconciliação por meio da oração, da penitencia e da caridade. 

• A graça de aprender com Jesus a ser livres para amar, acolhendo a vida como dom e compromisso, valorizando e defendendo a vida, especialmente onde ela se encontra mais fragilizada e sofrida. 

- Com todos os cristãos de todos os tempos, colocamo-nos diante da cruz de Jesus Cristo e rezamos: Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa santa cruz salvastes o mundo.

- Termine sua oração com preces espontâneas e dando graças a Deus por esse momento... louve, suplique, agradeça... O tempo é agora...

- Reze a oração do Pai-Nosso e peça a graça de amar e servir, no seguimento de Jesus crucificado-ressuscitado...

- Não esqueça, registre no seu “caderno de vida” os sentimentos despertados pelo encontro de hoje com o Senhor: alegrias, conforto, resistências, medos, libertação... novos propósitos...

Pe. Marcelo Moreira Santiago