Saulo era um fiel cioso da fé judaica, homem estudado e convicto de sua pertença à herança da fé Abraâmica. Seu zelo pela causa judaica era admirável. Seu afinco em perseguir os cristãos como verdadeiros inimigos de Israel foi, de alguma forma notável. Como não poderia o Senhor valer-se de uma personalidade tão pujante entre os seus seguidores? Como não poderia Deus agir no coração deste servo fiel à causa de Israel deixando de convertê-lo? Como não poderia o Espírito Santo agir em sua firme cerviz, educando o seu coração para a verdadeira causa do Reino de Cristo?
De Saulo, ele torna-se Paulo, Sã Paulo dos gentios, apóstolo que ouviu, sem ver, como todos os que depois de São Tomé foram anunciados por Cristo: felizes os que crerem sem terem visto.
Primeiramente veio uma luz, como disse João em seu Evangelho. Ela vinha do céu, pois do céu vem tudo aquilo que nos pode mudar, salvar, redimir, perdoar, amar, cativar-nos e fazer-nos crer. Uma luz tão intensa que antes de nos fazer enxergar nos cega, pois só se vê bem com os olhos do coração. É dele que nasce a fé, não da cabeça. Neste caso o afeto vem primeiro do que a razão.
Depois veio a queda do cavalo, caindo por terra, pronto para nascer de novo sem o saber ainda. Tombou ao chão aquele que sobre o chão, com a força de lanças, cordas e prisões caçava seus proto-irmãos fazendo-os mártires, tombando-os sobre a mesma terra, como vira tombar Estevão que concordou em ser apedrejado. Derramava sangue justo sem saber que no mesmo sangue lavaria suas vestes e se tornaria eleito pela misericórdia de Deus.
Ao tombar, ouve uma voz chamar-lhe, em atenção, pelo próprio nome, duas vezes como soe acontecer quando queremos chamar a atenção de alguém. Não lhe parecia estranha voz, porque apesar de toda desorientação da queda, da voz, chamou-a de Senhor, perguntando quem era Ele. Assim como o olhar de Jesus para Pedro no ato da traição não julgou Pedro, mas ofereceu-lhe perdão pela misericórdia, a voz do Mestre não pareceu julgar-lhe, mas confrontá-lo com a verdade.
A voz se revela: era aquele que Saulo perseguia, o Senhor Jesus. Na confusão que Saulo certamente experimentava, confrontando seus atos até então, com aquela firme, mas ao mesmo tempo terna voz, que lhe dizia o que deveria fazer. Ainda não estava preparado para caminhar sozinho, valendo-se da força da fé, pois ela era ainda incipiente. Precisou de ajuda para levantar-se e seguir o caminho que a voz lhe indicara, sob o espanto de todos que ouviram sem conseguirem ver.
Saulo abre os olhos, mas vê-se cego! Era necessário que o coração ainda fosse curado, para que os olhos pudessem ver de verdade. Era como um recém-nascido que precisava ser tomado nas mãos para reaprender a andar. Um incapaz, ainda, de ver a verdade e andar pelo caminho da verdade.
Indo para Damasco, com ajuda dos seus, Saulo ficou significativos três dias sem poder ver. Três dias nas trevas, apenas sob o impacto daquela maravilhosa luz e na companhia daquela voz que não lhe saíra mais dos ouvidos e do coração. Jesus disse aos mestres da Lei: destruí este templo e em três dias o reconstruirei. E reconstruiu: ressuscitou. Saulo viveu três dias na escuridão, pois foi das trevas que o povo viu nascer uma luz. Por três dias a escuridão fez Saulo passar por sua paixão, pois não haverá, nunca, ressurreição sem a cruz.
Na escuridão Saulo não come nem bebe. Vive sua quaresma pelo jejum da água e do pão, dois elementos essenciais para a nossa sobrevivência: minha alma tem sede de voz, minha carne também voz deseja como terra sedenta e sem água, revela-nos a Palavra. Ora, que alimento saciaria sua fome? Que bebida mataria sua sede? Do profundo poço de si mesmo o Senhor preparava pão abundante e água com fartura, jorrando da única fonte de água viva para a vida eterna. Nunca sentiu tamanha fome; nunca secou-se-lhe tanto o palato, a ponto de colar a língua ao céu da boca. Saulo fazia um profundo exame de consciência. Orava e Jejuava ainda sem saber que o próximo exercício espiritual viria depois: a caridade, que ele aprendeu a proclamar durante toda a sua vida e a cantou em uma de suas mais belas cartas.
Teve então uma visão espiritual. Seus olhos do coração começaram a lhe revelar o plano do Senhor. Viu um dos amigos do Senhor lhe impondo as mãos e lhe curando de toda a cegueira. Foi o que aconteceu: Ananias impôs as mãos sobre ele, ordenando-o para o bem da Igreja e para a vontade de Deus. Anunciou-o como irmão no Senhor, pois o batizou na fé dos Apóstolos e dos seguidores do caminho. Agora estava pronto para que se cumprisse o que o Senhor havia dito a Ananias: seria instrumento nas mãos do Senhor para o anúncio da Boa Nova e o faria conhecer o sofrimento por causa do Cristo. Sua catequese continua por alguns dias até que ele sai a pregar por toda a parte que Jesus é o Filho de Deus.
Não há como não salmodiar: Cantai louvores ao Senhor, pois comprovado é seu amor para conosco. Para sempre Deus é fiel.
Saulo estava pronto para a sua jornada, para conhecer o pão que verdadeiramente mata a fome, e a água que verdadeiramente mata a sede, a carne que é verdadeira comida, e o sangue que é verdadeira bebida. Prestes está a ser um com o Cristo e a ser por Ele enviado como Ele o foi pelo Pai.
QUESTÕES NORTEADORAS: (para serem respondidas mais com o coração e a vida do que com a razão e o pensamento)
ORAÇÃO: Ó Deus, pelo amor do vosso Espírito e reconhecendo a ressurreição de vosso Filho, possamos ressurgir para uma vida nova. Amém.
Diác. Robson Adriano