A Solenidade de Todos os Santos, celebrada pela Igreja Católica, é uma das festas litúrgicas mais importantes do calendário cristão. Este dia é dedicado à memória de todos os santos, conhecidos e desconhecidos, que já alcançaram a glória do céu. Mais do que apenas recordar aqueles que foram oficialmente canonizados pela Igreja, a festa de Todos os Santos celebra a vocação universal à santidade, recordando que todos os cristãos são chamados a viver uma vida santa, conforme o exemplo de Cristo.
- Na primeira leitura, as primeiras perseguições em terras de Israel e depois em outras regiões, conduzidas pelo império romano, tinham trazido muita dor e sofrimento às comunidades cristãs, ainda tão jovens, sobretudo com a prisão e martírio de tantos que haviam abraçado a fé cristã. Iriam estas comunidades desaparecer, logo ao início em que foram constituídas? João, no Apocalipse, traz uma mensagem de esperança em meio a esta provação. É uma linguagem codificada, que evoca Roma, perseguidora dos cristãos, sem a nomear diretamente, aplicando-lhe o qualificativo de Babilônia. A revelação proclamada é a da vitória do Cordeiro que foi imolado, mas que é o Cordeiro da Páscoa definitiva, o Ressuscitado. Ele transformou o caminho de morte em caminho de vida para todos. O número 144 indica abundância, uma multidão incontável – 12x12=144 indica plenitude, universalidade. Especialmente faz menção dos que O seguem e, em particular, pelo martírio. “São os que lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (v.14). Eles haverão de participar, doravante, do seu triunfo, numa festa eterna. Esta também é a nossa esperança. Peregrinos da esperança, caminhando pressurosos para a Jerusalém definitiva, a glória eterna.
- A segunda leitura responde às nossas interrogações sobre o destino dos defuntos. O que vai ser deles? Como sabê-lo, pois desapareceram dos nossos olhos? E nós próprios, quando morrermos que viremos a ser? A resposta é uma dedução absolutamente lógica: Se Deus, no seu imenso amor, faz de nós seus filhos e filhas, Ele não nos pode abandonar. Ora, em Jesus, vemos já a que futuro nos conduz a pertença à família divina: seremos semelhantes a Ele, para uma vida eterna, com seus santos e santas, na glória do céu.
- No Evangelho, São Mateus coloca Jesus num monte. A indicação geográfica não é inocente: ela nos transporta à montanha da Lei (Sinai), onde Deus se revelou e deu ao seu Povo a antiga Lei. Agora é Jesus, que, numa montanha, oferece ao novo Povo de Deus a nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao "Reino". As "bem-aventuranças" evangélicas devem ser entendidas no contexto da pregação sobre o "Reino". Jesus proclama "bem-aventurados" aqueles que estão numa situação de debilidade, de pobreza, porque Deus está a ponto de instaurar o "Reino" e a situação destes "pobres" vai mudar radicalmente; além disso, são "bem-aventurados" porque, na sua fragilidade, debilidade e dependência, estão de espírito aberto e coração disponível para acolher a proposta de salvação e libertação que Deus lhes oferece em Jesus (a proposta do "Reino"). Elas saúdam a felicidade daqueles que se entregam confiadamente nas mãos de Deus e procuram fazer sempre a sua vontade; daqueles que, de forma consciente, deixam de colocar a sua confiança e a sua esperança nos bens, no poder, no êxito, nos homens, para esperar e confiar em Deus; daqueles que aceitam renunciar ao egoísmo, que aceitam despojar-se de si próprios e estar disponíveis para Deus e para os outros. Elas são um programa de vida para nós, não para viver, um dia no céu, mas no cotidiano da vida. Assim viveremos a comunhão com Deus nesse mundo, para um dia ser de plenitude no céu.
- Para refletir: Tenho consciência de que, pelo batismo, sou especialmente chamado a viver a santidade de vida? No modo como conduzo a minha vida, tenho buscado os bens eternos, o Reino de Deus? Minha vida se identifica com as bem-aventuranças, na busca de viver a aliança com Deus, fazendo a sua santa vontade, na alegria de sempre servir aos irmãos e irmãs?
ORAÇÃO
Senhor, nosso Deus,
que pela luz do Espírito Santo
instruístes o coração dos vossos fiéis,
fazei-nos dóceis ao mesmo Espírito,
para apreciarmos o que é justo
e nos alegrarmos sempre com a sua presença.
Por Cristo, nosso Senhor.
Amém.
- Compromisso, à luz da fé: Viver a esperança cristã da ressurreição dos mortos e da vida eterna e viver a nova Lei, na perspectiva do Reino que são as bem-aventuranças.
Pe. Marcelo Moreira Santiago