“No mesmo instante o homem ficou curado”
Ez 47,1-12; Sl 45; Jo 5,1-16.
1. Preparo-me para ouvir o que Deus tem a me dizer:
- Faça um pequeno silêncio, para apaziguar, interna e externamente, o seu coração...
• Tome consciência de que você acolhe, de modo especial, com essa Palavra, a presença de Deus. Coloque-se, confiante, em suas mãos. Invoque sobre você o Espírito Santo... Peça a graça desta semana: Ó Senhor, Deus da Luz e da Amizade, dá-me a alegria de um coração mais livre e disponível para abraçar a fraternidade universal como estilo de vida.
• Leia, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia... Procure saborear a Palavra de Deus...
2. Meditando a Palavra de Deus:
- No Evangelho vemos que o primeiro dentre os doentes que pulasse na água após o anjo agitá-las, ganhava a cura.
• Esta situação, com mistura de sorte e agilidade física, fazia com que os doentes acreditassem que tinham que se provar mais rápidos do que os demais, além de serem o sortudo de fazê-lo no momento certo do borbulhar do tanque.
- Imagine o clima de disputa que se dava entre esses que padeciam à beira da piscina.
• Um deles, a cada intervalo de tempo, não se sabe bem com que frequência, seria curado, mas apenas o mais ágil dentre eles.
• Os demais permaneciam lá, padecendo, até a próxima oportunidade.
• O espírito competitivo certamente pairava entre eles, todos desejosos de saírem daquela situação de sofrimento, mas sem conseguirem sozinhos...
• As pessoas precisavam da ajuda uma das outras, especialmente os doentes e os mais vulneráveis da sociedade.
- Não é difícil transpor essa situação para realidades sofridas, de vulnerabilidade social, que se multiplicam hoje...
• Elas revelam uma lógica perversa de uma sociedade que exclui os seus mais vulneráveis e que faz olhar o outro como um potencial inimigo, que ameaça à própria sobrevivência.
• Esta mentalidade corta a fraternidade pela raiz.
- A narrativa que o homem doente conta para Jesus está banhada de sinceridade, pois ele confessa a sua necessidade de um outro que o ajude, mas, ao mesmo tempo, está condicionada pela ideologia das águas agitadas pelo anjo.
• O doente não vê uma outra forma de cura e, mesmo diante de Jesus, repete a viciada justificativa de que precisa correr na frente dos outros e, com sorte, se jogar na piscina agitada por algum anjo.
- Falta a esse homem uma vivência concreta da fraternidade.
• Talvez ele não conheça, por experiência, o que seja um gesto solidário, gratuito.
• Talvez, tanto tempo à margem da piscina, o tenha levado a esquecer que isso é possível.
- O que, então, acontece? Jesus não é um anjo que vai levá-lo para dentro da piscina... nem manda que o homem entre naquela água, mas que se levante e saia andando.
• A cura que Jesus oferece passa por outro sistema que não envolve a competição do tanque. Ele lhe abre um novo horizonte de cura e de vida...
• Quando os coxos e paralíticos recebem ajuda de outras pessoas ou de instrumentos que colaboram na sua locomoção, podem também andar com segurança.
- Uma sociedade onde todos possam começar a andar é possível (Jo 5,8-9) e ela sinaliza o Reino de Deus...
• Ninguém precisa ficar às margens das piscinas e das sociedades...
- Como eu me sinto diante das situações de sofrimento, de exclusão, de marginalização que vejo na minha vida e na vida dos outros? Como procuro ajudar, acolher, consolar os que padecem à beira das piscinas da sociedade? Como eu relaciono com os meus irmãos e irmãs que também precisam da graça e do amor de Deus? Como evito a competição, a rivalidade, a inveja que podem brotar no meu coração? Como posso contribuir para criar um ambiente mais inclusivo e compassivo em minha comunidade? Que ações posso empreender para ajudar aqueles que estão à margem a encontrarem sua dignidade e independência?
3. Reze à luz dessa Palavra:
- Jesus, salvação de Deus, passa por entre os doentes e deficientes que se acumulam à volta da piscina, junto à Porta das Ovelhas, em Jerusalém.
• Ele dá especial atenção a um homem que ali jaz paralítico há 38 anos e lhe faz uma pergunta aparentemente óbvia: “Queres ficar são?”
• A pergunta e a ordem que se segue são suficientes para que aquele homem, que talvez já nada esperava da vida, se reanime, se erga, volte a agarrar-se à vida com coragem e até dê testemunho de Cristo àqueles que teimavam em permanecer paralisados na interpretação literal da Lei.
• Enquanto o paralítico quis ser curado, os adversários de Jesus não quiseram se deixar curar da sua cegueira e rigidez, passando a uma aberta hostilidade contra Jesus.
- Ao encontrar, mais tarde, no templo, o doente curado, Jesus lhe dirige palavras de grande exigência, dando-lhe a entender que o pecado e as suas consequências são algo de pior que 38 anos de paralisia.
• Precisamos nos deixar curar completamente dos males do corpo, mas também do mal da alma.
• É uma opção a fazer livremente cada dia: deixar-se curar e não pecar.
- Em sua oração, pede hoje a Deus essa graça de deixar-se curar e de ser instrumento d’Ele para curar os que estão às margens das piscinas, da sociedade...
Oração
Vem, Senhor Jesus!
Vem procurar quem está deprimido e doente, ou desesperado pelo pecado que o domina e que não lhe deixa caminhar.
Vem também me procurar. Aproxima-te de mim e de todos.
Queremos ouvir a tua pergunta: “Queres ficar são”?
Vem mergulhar-nos no profundo abismo do teu amor misericordioso, capaz de tudo renovar, recriar e tornar fecundo.
Renova em cada um de nós a graça do batismo, para que a viva fielmente, em conformidade com os dons recebidos.
Dá-me a água das lágrimas da penitência para que eu seja purificado.
Então, liberto do pecado que me paralisa, poderei caminhar na tua presença
e correr ao encontro dos meus irmãos para lhes anunciar o teu amor
que redime, cura e salva.
Amém.
4. Da contemplação para a ação:
- o Evangelho nos fala do paralítico que, havia 38 anos, esperava junto à piscina uma oportunidade para entrar nela e ser curado.
• Como ele, muitos dos nossos irmãos se encontram impotentes nas margens da esperança, desiludidos de tudo, talvez até da religião e, por isso, incapazes de mergulharem na vida.
- São estes homens e mulheres do nosso tempo que Cristo vem procurar, onde quer que estejam, paralisados pelo sofrimento, pelo pecado e pelas circunstâncias da vida.
• Também a eles, Jesus pergunta: “Queres ficar são?”
• Parece uma pergunta desnecessária. Mas Jesus sabe que é a resposta pessoal que renova e faz sentir, a cada um, a sua dignidade humana, a sua liberdade e responsabilidade.
- Perante a resposta do paralítico, Jesus lhe diz simplesmente: “Levanta-te, toma a tua cama e anda”.
• O poder da Palavra de Deus dispensa os ritualismos ou o uso de águas medicinais. A Palavra de Deus cura, rompe cadeias, liberta.
• Liberta o corpo e liberta o espírito, porque há paralisias bem piores do que as corporais, que paralisam o coração no pecado.
- O tempo da quaresma é tempo propício para erguermo-nos de toda paralisia, com a graça de Deus, e de nos fazer seus instrumentos para curar, libertar... faz isto e viverás...
- Antes de concluir, fale com Jesus sobre o que se passa em seu interior, nesse momento... Registre em seu caderno de vida o andamento da sua oração e as principais moções que o afetaram hoje...
Pe. Marcelo Moreira Santiago