Na primeira semana de setembro, celebramos a Semana da Pátria e, no dia 7 de setembro, o Grito dos Excluídos. Com um olhar mundial, celebramos, de 1º de setembro a 4 de outubro, o chamado “Tempo da Criação”. Trata-se de um tempo ecumênico em que cristãos e pessoas de boa vontade, de todas as partes do mundo, se unem em oração, reflexão e compromisso clamando por justiça socioambiental e climática.
Esse ano, a Campanha da Fraternidade, para a Igreja no Brasil, nos remetia à criação, citando o livro do Gênesis, recordando que ao criar todas as coisas, “Deus viu que tudo era bom” (Gn 1,31). Somos todos guardiões da obra de Deus, chamados a cuidar da vida humana e a do planeta, nossa Casa Comum. Tudo está interligado e diante dos desafios atuais, é preciso ouvir o grito da terra e dos pobres.
Também o Brasil se prepara, proximamente, para celebrar a COP-30 que acontecerá em novembro, em Belém, no Pará, no coração da Amazônia. Em nossa Arquidiocese de Mariana, celebraremos, de 18 a 21 de setembro, o Fórum Social pela vida, aglutinando forças vivas, como lideranças paroquiais e das pastorais sociais e dos movimentos sociais e populares no cuidado com a vida, em todas as suas manifestações e expressões.
Nestes novos tempos, amparados por novas tecnologias, predomina um modelo econômico predatório, de produzir à exaustão, não para o consumo, mas para o mercado, sempre mais ávido de bens, levando a um consumismo desenfreado, “colocando em cheque” as condições da terra em poder prover, para hoje e em favor das gerações futuras, o necessário para alimentar as populações.
A casa comum sofre, os pobres clamam e a criação, obra amorosa de Deus, está gravemente ameaçada. Precisamos, na linha da ecologia integral, conjugar fé e cuidado com a criação de Deus, no compromisso com o “Evangelho da vida” para que todos, a partir dos pequenos e pobres, tenham “vida em abundância (Jo 10,10), ou seja, vida de verdade, segundo o Projeto de Deus de “um mundo bonito para uma humanidade feliz”.
Não podemos nos fazer “cegos e surdos” face a atual crise climática e suas graves consequências sociais e ambientais. Não bastam medidas paliativas de ajustes, mas se faz necessária verdadeira conversão ecológica, pautada no respeito à vida e por uma economia a serviço da vida e não do lucro; pautada na defesa dos nossos ecossistemas, nossos biomas; pautada na defesa dos direitos das populações, sobretudo dos mais necessitados e empobrecidos, vítimas, sobretudo, nas vulnerabilidades sociais e ambientais, em contexto nacional e internacional.
No âmbito eclesial, precisamos integrar melhor nossos grupos na busca de modificar a mentalidade e o agir humano em vista de uma conversão ecológica que sinalize melhor interrelação com toda a natureza. Isto implica, entre outros, comprometer-se com o consumo responsável; evitando desperdícios; incentivar ações de proteção de nascentes, de rios, das matas ciliares e de recuperação de solos degradados; evitar a produção desnecessária de resíduos sólidos e seu descarte pelas ruas e riachos em nossas cidades; exigir, com mobilizações necessárias, do poder público, sobretudo local, políticas públicas de cuidado com a vida humana e do planeta, como de saneamento público e de fiscalização ambiental; apoiar as lutas nas comunidades na defesa dos atingidos e atingidas pela mineração; fomentar, no compromisso cristão e no exercício da cidadania ativa, uma economia justa e solidária, promovendo modelos econômicos alternativos e mais inclusivos.
É verdade que precisamos de políticas estruturais que façam a diferença, mas esse caminho começa com você. Veja, a partir de você, no seu espaço de vida, de família e trabalho, em como fazer a diferença em vista de um mundo melhor para todos. Exerça sua fé, com cidadania ativa. O planeta, nossa Casa Comum, agradece.
Ao celebrar, nesse ano, os 10 anos da carta pastoral “Laudato Sí”, do Papa Francisco, sobre a “Ecologia Integral”, inspirados em São Francisco de Assis, renovemos nosso compromisso de cuidado com a vida humana, a partir dos pobres, e com a natureza, a serviço da vida e da esperança. Também nesta empreitada, Deus nos ajude!
Pe. Marcelo Moreira Santiago