Caros irmãos e irmãs,
Estamos neste domingo adentrando na 23ª Semana do Tempo Comum, o tempo, de fato, lá vai adiantado e chegamos ao “meio do caminho” das semanas deste período litúrgico e contamos com mais apenas 10 semanas para iniciarmos novamente um novo ano litúrgico com o Tempo do Advento. Existe por parte das reflexões dominicais a necessidade de uma espécie de despertar sobre a dimensão da fidelidade ao seguimento de Jesus. Celebrar o tempo comum é celebrar a comunidade peregrina e sempre discipular, ao peregrino que aceita o convite para estar com Jesus, o primeiro passo é localizar-se no ambiente da fidelidade ao Mestre.
Ao lermos e meditarmos esses textos perceberemos uma radicalidade no seguimento e por qual motivo? Bom, com Jesus se estabelece uma nova Aliança com o Eterno. Esta nova Aliança é o doar de Jesus, sua entrega total à vontade do Pai, como bem nos lembra Paulo: Irmãos, vós, que outrora éreis estrangeiros e inimigos pelas manifestas más obras, eis que agora Cristo vos reconciliou pela morte que sofreu no seu corpo mortal, para vos apresentar como santos, imaculados, irrepreensíveis diante de si. Mas é necessário que permaneçais inabaláveis e firmes na fé, sem vos afastardes da esperança que vos dá o Evangelho, que ouvistes, que foi anunciado a toda criatura debaixo do céu (Cl 1,21-23). Desta maneira nos despertamos a um compromisso feito na própria cruz, onde o Cristo, não se furtou em doar-se a si mesmo.
O que Lucas está comunicando à comunidade é o desejo de que participássemos desta mesma dimensão de fidelidade e sacrifício vivida por Jesus. Fidelidade e sacrifício estão ligados aos riscos e às renúncias que todos somos chamados a fazer em razão do seguimento e estes nos ligam às perseguições e à cruz. Por isso, a mudança ou a conversão não implica em atos isolados ou egoísticos ligados às meras convenções da individualidade, mas nos liga à radicalidade do serviço, da doação e da “equiparação” de nossos atos aos atos de Jesus.
Nossa fidelidade está aí: não somos chamados a fazer o que os outros querem, nem copiarmos as “modas da fé”, somos chamados a nos identificarmos com a radicalidade do Evangelho que exige de nós um esvaziamento, uma descida, um encontro com os irmãos e irmãs. Nesta mesma fidelidade escolhemos por anexa vocação o sacrifício de si pela causa do Evangelho. Vários irmãos e irmãs ao longo da história de nossa fé católica se sacrificaram desde seu tempo à sua própria vida em favor do Evangelho.
Lembro-me com carinho dos dois Santos hoje canonizados: Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati. O primeiro, muito conhecido e divulgado entre nós, vivendo as dimensões da caridade e da bondade, chama muito a atenção da juventude, contudo, o segundo, Pier Giorgio, pouco se comenta sobre. Ambos à medida do seu carisma, desempenharam as dimensões da fidelidade e do sacrifício, no entanto, gostaria de destacar hoje a figura de Frassati, que tinha um “lema” – L’Alto, ou seja, às alturas – lema que é seguido por aqueles que o admitem como via de encontro com o Senhor.
Além de, a exemplo do Cristo Jesus e seguindo seus mandamentos, desenvolver uma enorme caridade pelos pobres, como diz sua biografia, sendo chamado por São João Paulo II de o “homem das bem-aventuranças”, no dia de sua beatificação em 1990, desenvolveu-se em todas as áreas possíveis de seguimento ao Senhor não se furtando à imersão social: cuidou dos pobres, enfrentou o sistema político nefasto de sua época o fascismo, um compêndio humano de adequação ao Evangelho, assumindo os riscos de ir ao encontro dos pobres e lutando pela liberdade do povo e a redemocratização de seu país, assumindo sua cruz diária.
A beleza do seguimento do Senhor é a beleza de, no peregrinar da vida sermos discípulos integralmente sendo sal da terra e luz no mundo. É também um convite trazermos às nossas consciências a capacidade de refletirmos sobre nossa cruz diária em razão de nossa fé e a entrega total de si à missão de amar e servir, uma busca das coisas do alto.
Nas ações de Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati descobrimos que é possível sermos homens e mulheres ligados à fidelidade ao Cristo que se doa a nós e na liberdade de pertencermos ao Senhor vivermos nossa fé com coragem, desapego e um empenho vigoroso na luta pelo bem em favor de nossos irmãos e irmãs. É darmos asas à vivência das bem-aventuranças em nossas vidas e nos tornarmos pessoas ligadas à Palavra, edificando o Reino de Deus.
Pe. Jean Lúcio de Souza