“Porventura o Messias virá da Galileia?”
Jr 11,18-20; Sl 7; Jo 7,40-53.
1. Preparo-me para ouvir o que Deus tem a me dizer:
- Faça um pequeno silêncio, para apaziguar, interna e externamente, o seu coração.
• Tome consciência de que acolhe a presença de Deus, em sua Palavra. Coloque-se em suas mãos. Invoque sobre você o Espírito Santo.
• Leia, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia... Procure ruminar, saborear essa Palavra...
2. Meditando a Palavra de Deus:
- Na primeira leitura, escutamos, hoje, a primeira das chamadas “confissões de Jeremias”, são lamentações que nos permitem entrever a caminhada interior do profeta diante das repercussões pessoais da sua missão.
• Vemos aqui um testemunho precioso, único na Bíblia. Por vontade de Deus, Jeremias descobre que os seus conterrâneos tinham armado uma cilada para o arrancarem do meio deles (v. 19).
- Não sabemos quais as causas históricas desta trama. Mas o modo como o profeta viveu essa situação tornou-¬se paradigmático.
• Jeremias, vítima inocente, se compara a um cordeiro levado ao matadouro, imagem já presente no quarto cântico do Servo sofredor de Javé (Is 53, 7) e amplamente usada no Novo Testamento para descrever o Messias sofredor que, em silêncio, expia o pecado do mundo (Jo 1, 29; 1 Pe 1, 19; Ap 5, 6ss.).
- Martirizado no corpo e no espírito, o profeta, manso, atreve-se a pedir a Deus a vingança dos seus inimigos.
• Jeremias é um homem do Antigo Testamento, que segue a lei de Talião – “dente por dente, olho por olho”, do senso de justiça comum ao seu tempo. Interpreta sua situação aos olhos da “ira divina” diante das injustiças e desmandos humanos...
- Aqui encontramos a centralidade do texto, na sua evocação, ao apontar para Jesus, o Messias. Ele será o verdadeiro inocente que morre, abandonando-se nas mãos do Pai.
• Entrega a sua vida por nós, por amor, cumprindo a missão que o Pai lhe confiou... E Ele, diferentemente, clama ao Pai pelos seus adversários e algozes, para que sejam perdoados. “Não sabem o que fazem...”.
• Jeremias é figura. Jesus é a realidade. É Ele o verdadeiro Cordeiro conduzido ao matadouro...
- No Evangelho, João nos mostra a multidão que rodeia Jesus e se interroga sobre a sua identidade, dando os seus palpites.
• A palavra autorizada de Jesus fascina até os próprios guardas enviados para o prenderem (v. 46).
- Dois argumentos de peso são apresentados com sentido contrário: Jesus vem da Galileia e as Escrituras dizem que o Messias havia de nascer em Belém. Mais ainda: os chefes do povo e os fariseus não acreditam n'Ele; como pode o povo comum ter uma opinião diferente?
• Os detentores do poder e da sabedoria, os chefes do povo, olham a situação com sarcasmo e desprezo, porque temem perder o seu prestígio.
• Apenas Nicodemos ousa invocar a Lei que não condena ninguém, sem antes ser ouvido. O resultado é ele também ser tachado de ignorante.
- João termina abruptamente a narrativa (v. 53), deixando uns com maior desejo de conhecer Jesus e outros mais decididos na recusa d'Ele.
• Contudo “ainda não tinha chegado a sua hora”...
3. Reze à luz dessa Palavra:
- Aproxima-se a Paixão. As leituras nos fazem escutar o grito sofrido de Jeremias e as interrogações sobre a identidade de Jesus.
• O profeta nos faz ver até que ponto estamos dispostos a sofrer para sermos fiéis a Deus, e servi-lo de coração puro.
• O Evangelho nos dá conta do avolumar das controvérsias e das hostilidades contra Jesus, verdadeiro cordeiro que serenamente se encaminha para o matadouro.
- Peça, em sua oração, essa graça, de acolher, mas com espírito e verdade, Jesus como o Messias, o Salvador, renovando seus propósitos, à luz da fé, de segui-lo, vivendo o discipulado missionário...
Oração
Senhor Jesus,
creio e confesso que Tu és o Cristo, o Filho de Deus;
esta fé exige que Ti sirva, que Ti ame, que eu seja dócil aos teus conselhos,
fiel a todas as exigências do chamado que me faz e da missão que me confias,
e para a qual devo contribuir.
Creio, Senhor, mas aumentai a minha fé, que é sempre fraca e vacilante.
Amém
4. Da contemplação para a ação:
- Os guardas, enviados a prender Jesus, voltam sem cumprir a ordem, porque “Nunca nenhum homem falou assim” (v. 46).
• Contudo, os fariseus, de coração cada vez mais endurecido, respondem: “Será que também vós ficastes seduzidos?” (v. 47b).
• Presos nos seus preconceitos, eles não querem ouvir nada sobre Jesus. Apenas querem prendê-lo.
- Também hoje as opiniões se dividem acerca de Jesus. Muitos se fecham nas suas dúvidas e na sua indiferença... Recusam Aquele que pode trazer a paz aos corações e a união, a fraternidade e a amizade social entre os seres humanos.
• Muitos não buscam realmente a verdade, mas apenas confirmar os seus preconceitos.
• Também não faltam ameaças, perseguições, condenações de inocentes...
- Felizmente também não faltam pessoas corajosas, como Nicodemos, capazes de desafiar a opinião dos “poderosos”, porque estão decididamente apaixonados pela verdade.
• Para estar com Cristo, é preciso estar com o coração aberto aos desejos de Deus, à verdade de Deus, à luz de Deus.
• Só assim seremos capazes de acolher a Cristo em todos os momentos e situações da vida.
- Não foi fácil, para os contemporâneos de Jesus, acreditar n'Ele.
• Devemos ser gratos àqueles que acreditaram e nos transmitiram a fé...
• Com esta gratidão, devemos também nos sentir estimulados a procurar Cristo onde Ele se nos revela, hoje.
• Essa é a única coisa importante, na nossa vida: reconhecer a Cristo, encontrar-nos verdadeiramente com Ele, aderir a Ele de todo o coração.
- A leitura e a meditação destes textos, confrontando-os com a nossa história, são uma preciosa ajuda para conhecer Cristo, para viver Cristo e para colaborarmos na construção do Reino de Deus.
- A quaresma é tempo propício para refazermos o caminho e renovar os bons propósitos de aderir a Jesus e a seu Reino de vida, verdade e salvação.
• Faze isto e viverás!...
- Não deixe de revisitar, nesse sábado, a semana que vivenciou, com a Palavra de Deus meditada e orante... procure rever o “passar de Deus” pela sua história, recordando o que Deus vem fazendo com você, sobretudo você que se deixou conduzir por sua Palavra, durante essa semana quaresmal – Moções, consolações, desolações...
• Em tudo, gratidão, gratidão, gratidão pelo agir de Deus... bom final de semana...
- Não deixe também de revisitar o pedido da “graça da semana”: Ó Senhor, Deus da Luz e da Amizade, dá-me a alegria de um coração mais livre e disponível para abraçar a fraternidade universal como estilo de vida. “Vós sois todos, irmãos e irmãs!”
Pe. Marcelo Moreira Santiago