“Se alguém me serve, meu Pai o honrará”
Jr 31,31-34; Sl 50; Hb 5,7-9; Jo 12,20-33.
1. Coloco-me na presença de Deus, para ouvir o que Ele tem a me dizer:
- Faça silêncio, por alguns instantes, aquiete o seu coração.
- Prepare-se para entrar em oração, entregue as suas preocupações ao Senhor. Coloque-se, confiante, em suas mãos...
- Peça a graça desta semana. Invoque o Espírito Santo, pedindo que Ele lhe conceda suas luzes e dons.
- Leia, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia. Coloque-se na cena destes textos bíblicos, saboreie essa Palavra de vida, de verdade e salvação... Procure se deter no que mais lhe chamou atenção. Não se esqueça, para Deus, ofereça sempre o melhor de seu tempo... Faça isto...
- Para essa semana, pedimos esta graça: Senhor, concede-me ânimo e generosidade para em tudo amar e servir, sendo fiel e permanecendo contigo nos combates da vida, a fim de participar, igualmente, da tua vitória.
2. Medito a Palavra de Deus: O que ela diz para mim?
- A liturgia do 5º Domingo da Quaresma ecoa, com insistência, a preocupação de Deus em nos mostrar o caminho que conduz à Vida nova. Foi para isso que Deus nos enviou o seu Filho Jesus. Cumprindo a vontade do Pai, Jesus nos oferece o mapa desse caminho.
- Na primeira leitura, o profeta Jeremias anuncia que Deus se dispõe a fazer conosco uma “nova Aliança”.
- Ele vai gravar as suas propostas nos nossos corações, a fim de que os nossos sentimentos, decisões e ações traduzam a vida e os valores de Deus.
- Acolhendo o dom de Deus, iremos ao encontro da Vida nova e plena que Ele nos quer dar.
- A segunda leitura nos apresenta Jesus Cristo, o sumo-sacerdote da nova Aliança, que se solidariza com os homens e mulheres e lhes aponta o caminho da salvação.
- Esse caminho é o mesmo que Jesus seguiu: é o caminho da entrega confiante nas mãos de Deus e da aceitação plena do projeto do Pai.
- O Evangelho nos convida a olhar para Jesus, a conhecer as suas propostas, a aprender com Ele, a identificarmo-nos com Ele e segui-lo no caminho do amor e da entrega da vida.
- O caminho da cruz parece, aos olhos do mundo, um caminho de fracasso e de morte; mas nós sabemos é desse caminho de amor e de doação que brota a Vida verdadeira.
- Esse Evangelho nos situa em Jerusalém, talvez no próprio dia da entrada solene de Jesus na cidade santa (Jo 12,12-19).
- As multidões “que tinham chegado para a Festa” haviam aclamado Jesus como o rei/messias, encenando um rito de entronização e aclamando-o como aquele “que vem em nome do Senhor, o rei de Israel” (Jo 12,12-13).
- No entanto, no horizonte próximo paira a sombra da cruz: aproxima-se a “hora” há muito anunciada e esperada (Jo 2,4; 7,30; 8,20), a “hora” do dom da vida até ao extremo, a “hora” da passagem deste mundo para o Pai, a “hora” da glorificação de Jesus.
- O evangelista João coloca em cena “alguns gregos” que “tinham subido a Jerusalém para adorar” e que queriam ver Jesus.
- “Gregos” significa, provavelmente, “não judeus”. Podem ser prosélitos (estrangeiros convertidos ao judaísmo) ou simples simpatizantes do judaísmo.
- Esses “gregos” dirigem-se a Filipe. Filipe, por sua vez, vai apresentar a questão a André. Os dois tinham nomes gregos e os dois eram naturais de Betsaida, uma povoação situada na tetrarquia de Herodes Filipe, já fora do território judeu propriamente dito, a nordeste do Mar da Galileia.
- Filipe e André decidem levar a Jesus a pretensão dos “gregos”.
- Os “gregos” vieram a Jerusalém “adorar” a Deus no Templo; mas quiseram “ver” Jesus.
- Este “ver” deve ser entendido como “conhecer”, encontrar-se com Jesus, tomar contato com a salvação que Ele veio oferecer.
- Com isto, o autor do Quarto Evangelho sugere que o Templo e o culto antigo já não são mais os lugares onde a pessoa encontra Deus e a salvação.
- Agora, quem estiver interessado em encontrar a verdadeira libertação deve se dirigir ao próprio Jesus.
- Por outro lado, a salvação/libertação que Jesus veio trazer tem um alcance universal e se destina a todos, mesmo àqueles que vivem fora das fronteiras físicas de Israel (“gregos”).
- Onde venho procurando Deus? Tenho buscado “ver” Jesus? Como tenho feito isto? Reconheço que a salvação/libertação que Jesus veio trazer tem um alcance universal? Como Felipe e André, discípulos de Jesus, tenho ajudado outras pessoas a “ver” Jesus? Sou, com a minha vida, um sinal que aponta para Jesus? Em que preciso mudar?...
3. Reze à luz dessa Palavra:
- Os “gregos” não se dirigem diretamente a Jesus, mas a um discípulo chamado Filipe que, por sua vez, expõe o pedido a outro discípulo, André.
- Lembremos que Jesus confiou aos seus discípulos a missão de serem “pescadores de homens” (Mc 1,17).
- Muito provavelmente temos aqui um aceno à responsabilidade missionária da comunidade de Jesus, encarregada da missão de levar Jesus a toda a terra, inclusive ao mundo grego. Missão que continua hoje, dada a todos nós, seus novos discípulos e discípulas...
- Esperava-se que Jesus mandasse chamar esses “gregos” que o queriam conhecer ou que, pelo menos, lhes marcasse um encontro…
- No entanto, não é isso que acontece. Jesus responde ao pedido dos “gregos” anunciando que chegou a sua “hora”, a “hora” da cruz, a “hora” da sua glorificação.
- Como é que esta declaração de Jesus responde à pretensão desses “gregos” que o querem “ver”?
- A morte de Jesus na cruz constitui uma excelente chave de leitura para entender a sua vida e o seu projeto.
- Desde o momento da sua encarnação, Jesus pôs a sua vida a serviço do plano salvador do Pai.
- Recusou qualquer projeto pessoal de triunfo e de glória humana, para abraçar o plano de Deus para o mundo e para os homens.
- Andou por todo o lado, desde a Galileia até Jerusalém – a propor o Reino de Deus;
- Sem se resguardar, enfrentou o sistema opressor que mantinha os homens escravos; denunciou, em nome de Deus, as leis e os comportamentos que eram geradores de sofrimento e morte.
- Como não podia deixar de ser, entrou em rota de colisão com aqueles que dominavam o mundo. Por isso, foi preso, foi condenado e foi morto na cruz.
- A sua morte foi a consequência lógica da sua entrega ao projeto do Pai, que pretendia mudar o mundo e libertar a todos...
- Peçamos em nossa oração essa graça a Deus: de sermos fiéis e, em tudo, fazer a sua santa vontade, obedientes à sua voz, solícitos a seus apelos... Com prontidão, dizer sim ao seu chamado e à missão que nos confere.
Oração
Pai misericordioso,
Deus de ternura e compaixão,
Tu és a fonte de toda ação justa e de toda palavra boa.
Nesse tempo de deserto, não nos afaste a tua face.
No seguimento de teu Filho Jesus,
ensina-nos a praticar o verdadeiro jejum.
e a repartir com os irmãos e irmãs,
O que temos e somos,
sobretudo em favor dos mais necessitados.
Amém.
4. Da contemplação para a ação:
- Quando se tornou evidente que a proposta de Jesus ia contra os interesses instalados, Jesus podia ter desistido ou, pelo menos, moderado a sua denúncia. Mas Ele não o fez.
- A sua obediência a Deus e o seu amor aos homens e mulheres, seus irmãos e irmãs, o levou a lutar até ao fim, até ao seu último alento.
- A cruz onde se consumou a “hora” de Jesus é a expressão suprema de uma vida dada por amor; naquela cruz, qualquer pessoa pode ver a lição do amor até ao extremo, do amor que se faz dom total.
- A cruz “diz” toda a vida de Jesus, a forma como Ele viveu toda a sua vida.
- O que é que resulta deste “dom” de Jesus?
- Resulta uma nova humanidade, uma humanidade que Jesus libertou da opressão, da injustiça, dos mecanismos que geram sofrimento e medo; uma humanidade que, com Jesus, aprendeu que a vida é para ser dada, sem limites, por amor.
- Não há dúvida que o dom da vida dá abundantes frutos de vida. Na cruz de Jesus manifesta-se, portanto, o projeto libertador de Deus para os homens.
- Toda a vida de Jesus foi como “o grão de trigo, lançado à terra”, que morre para dar fruto (v. 24).
- Os “gregos” queriam conhecer Jesus. Jesus lhes diz para olharem para a cruz: é na cruz que Ele se revela totalmente, que Ele mostra o sentido da sua vida, que Ele diz porque viveu e para que viveu.
- É naquele homem que ama até ao dom total de si próprio que se pode ver a proposta de Deus. É nele que se pode encontrar Deus e adorar Deus.
- É esse Jesus e esta proposta de vida que Filipe e André – e os outros discípulos (e hoje também nós) – devem testemunhar diante do mundo.
- E todos aqueles que escutarem esse testemunho são convidados a tomar posição. Se quiserem servir Jesus, devem segui-lo nesse caminho que Ele percorreu e pôr as suas vidas a serviço de Deus e da libertação dos homens.
- E mais: Até ao dom total da vida, por amor - “se alguém Me quer servir, siga-Me” – v. 26a).
- Quem aceitar esta proposta permanece unido a Jesus, entra na comunidade de Deus (v. 26b). Poderá ser desprezado pelo “mundo”; mas será honrado por Deus e acolhido como seu filho (v. 26c).
- O texto termina com a “voz do céu” que glorifica Jesus (vv. 28-32).
- É uma forma de mostrar que o caminho de Jesus tem o selo de garantia de Deus.
- A “voz do céu” assegura que a forma de viver a proposta por Jesus é verdadeira e que Deus garante a sua autenticidade.
- Confirma-se, desta forma, aos discípulos que oferecer a vida por amor não é um caminho de fracasso e de morte, mas um caminho de glorificação e de vida.
- O tempo da Quaresma é tempo propício para se decidir por Jesus, buscar vê-lo onde Ele se deixa encontrar, segui-lo e levá-lo aos irmãos e irmãs...
- A pergunta que não quer calar: Você está disposto a isso?... Faze isto e viverás!
Pe. Marcelo Moreira Santiago