“Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”
Dn 13,1-9.15-17.19-30.33-62; Sl 22; Jo 8,12-20.
1. Preparo-me para ouvir o que Deus tem a me dizer:
- Faça um pequeno silêncio, para apaziguar, interna e externamente, o seu coração.
• Acolha a presença de Deus, em sua Palavra. Coloque-se em suas mãos. Invoque sobre você o Espírito Santo...
• Recorde-se da graça a ser pedida nessa semana: Senhor, concede-me ânimo e generosidade para, em tudo, amar e servir, sendo fiel e permanecendo contigo nos combates da vida, a fim de participar, igualmente, da tua vitória.
• Em sua oração preparatória, reza confiante: Senhor, que todas as minhas ações, intenções e operações estejam ordenadas ao vosso divino serviço e louvor...
• Leia agora, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia... Procure, ruminar, saborear essa Palavra que é viva e eficaz... Palavra útil para nos corrigir, nos formar na justiça e nos empenhar para toda a boa obra...
2. Meditando a Palavra de Deus:
- Ao longo destes dias, Jesus vai confrontar-se com os fariseus diversas vezes.
• O que diz de si mesmo, em sua autorrevelação, e como age, anunciando o Reino de Deus presente, é motivo de uma série de controvérsias.
• Os fariseus se sentem incomodados com as afirmações de Jesus... tudo soa a seus ouvidos, como uma apropriação indébita, um fazer-se igual a Deus.
• Na perspectiva deles, o testemunho que Jesus dá de sobre si seria inválido.
- Nós sabemos, acolhendo seus ensinamentos, que sua palavra é verdadeira, porque ele sabe de onde vem e para onde vai, ao passo que os demais não o sabem.
• Além disso, como podemos notar hoje no Evangelho, os fariseus julgam segundo a carne e Jesus não acusa nem julga ninguém, embora pudesse fazê-lo, porque o Pai está presente com Ele, conferindo-lhe legitimidade ao que ele diz e faz.
• A vontade de Deus não é a morte do pecador, mas que se converta e viva...
- O enredo é muito simples: de madrugada (v. 2), depois de ter passado toda a noite em oração no Monte das Oliveiras, Jesus é abordado pelos doutores da Lei e pelos fariseus que lhe apresentam uma mulher apanhada em adultério para que a julgue.
• Faziam isto para armar uma cilada a Jesus (v. 6), obrigando-o a se pronunciar contra a lei de Moisés, que em tal caso prevê a lapidação, ou seja, o apedrejamento da mulher, ou agir contra o direito romano que, ao tempo, havia retirado do sinédrio esse direito, reservando para si o poder de pronunciar condenações à morte.
- Todo o texto, compreendemos bem, converge para a pergunta: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” ... “Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar”.
• No deserto criado pelo pecado, irrompe a novidade: um rio de misericórdia, que purifica e cura tudo à sua volta (Ap 21, 5), tornando nova toda a criatura.
- Entre os fariseus, que pedem a condenação da mulher, e Jesus, que a perdoa e salva da morte, com quem você se identifica? Tem certeza, que suas ações, o identificam com Jesus? Você apoia Jesus, no dia a dia, diante dos “fariseus modernos” que destilam ódios, divisões, e na sua fúria, querem destruir seus “pretensos inimigos”? ... (Não foge da pergunta...). Suas ações são de acolhida, de fraternidade e amizade social? Suas mãos se estendem para “bater” ou para “levantar”? E agora, eu pergunto novamente: Você apoia Jesus ou os fariseus?...
3. Reze à luz dessa Palavra:
- O Evangelho nos apresenta um caso em que a lei pode escravizar.
• Os fariseus, mais do que cumprir a lei, queriam ficar bem com a sociedade e, por isso, iam sacrificar o futuro de uma pessoa humana.
- Jesus tem uma atitude totalmente diferente.
• Ele se coloca do lado da pecadora, carrega sobre Si o castigo, a pena e o sofrimento pelo pecado.
• Por isso pode ser indulgente e oferecer o perdão de Deus...
- Não se trata de uma indulgência fácil.
• Ele perdoa à adúltera, aquela mulher que pecou, mas recomenda-lhe que não volte a pecar, porque, na sua paixão, Ele expia o pecado e dá força aos pecadores arrependidos para caminharem no amor do Pai.
- É essa a graça que sugiro você pedir a Deus, em sua oração hoje: Que ele tenha compaixão de você, como de mim, pobre pecador, e uma vez perdoado/a, você, com a graça que lhe é dada, possa viver a vida nova, de filho e filha de Deus...
Oração
Senhor Jesus,
enche-nos do teu Espírito Santo,
para que não condenemos com dureza quem pratica o mal,
nem sejamos facilmente indulgentes com eles.
Sabemos que, também nós, somos pecadores e pecadoras.
Por isso, não queremos distinguir-nos deles, mas nos solidarizar com eles,
para carregarmos o pecado do mundo, como Tu o fizeste.
Ajuda-nos também a não sermos facilmente indulgentes conosco ou com os outros pecadores,
desculpando-nos e desculpando os outros com as circunstâncias do mundo atual,
para não corrermos o risco de baixar os braços na luta contra o mal.
Não foi essa a tua atitude perante a mulher adúltera.
Não diminuíste a gravidade do seu pecado, mas o assumiste e o reparaste com a tua gloriosa morte e ressurreição.
Que todos, e cada um de nós, saibamos assumir o próprio pecado e o pecado do mundo,
oferecendo-nos e oferecendo a nossa vida, como oblação reparadora ao Pai
pelos nossos irmãos e irmãs.
Amém.
4. Da contemplação para a ação:
- O texto que escutamos, nos mostra também a mansidão com que Jesus se aproxima da sua paixão.
• Ela é um ato de misericórdia que agrada mais a Deus do que todos os sacrifícios rituais oferecidos no templo de Jerusalém.
- A narrativa da adúltera, da mulher pecadora (Jo 8), nos dá a medida da profundidade da misericórdia divina, se tal se pode dizer de uma misericórdia infinita.
• Deus amou-nos até ao fim, enviando o seu Filho para tomar sobre Si os nossos pecados, nos perdoar e nos dar uma vida nova cheia de caridade, de alegria e de paz.
• Todos nós precisamos do perdão de Deus: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”.
- A quaresma é tempo propício para experimentarmos o perdão de Deus e renovar os bons propósitos da vida cristã... o tempo é agora!
- Termine fazendo um colóquio com Deus. Expresse suas questões, dúvidas, inquietações... Manifeste a Ele seus sentimentos, sobretudo diante desta cena do Evangelho tão controversa, como em tempos hodiernos, de ódios... de agressões à mulher (onde estava o homem que com ela praticou o adultério... só sobrou para a mulher...), tempos em que as pessoas querem “deletar”, destruir as outras por pensarem diferente... como se fossem inimigos... Vós sois todos irmãos e irmãs (Mt 23,8)...
• Pergunto de novo: Na sua vida, ou estando ali na cena do Evangelho, você apoia Jesus diante dos fariseus?... Faze isto e viverás...
• Ah, ia me esquecendo, tome nota do que julgar mais importante e reflita para tirar maior proveito para a sua vida. Lembre-se do que foi dito hoje a respeito da Palavra de Deus, na oração introdutória.
Pe. Marcelo Moreira Santiago