“Se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres”
Dn 3,14-20.24.49a.91-92.95; Sl - Dn 3,52-57;Jo 8,31-42.
1. Preparo-me para ouvir o que Deus tem a me dizer:
- Faça um pequeno silêncio, para apaziguar, interna e externamente, o seu coração.
• Acolha em você a presença de Deus. Coloque-se em suas mãos. Invoque o Espírito Santo, com seus dons e frutos...
• Leia, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia e, de modo especial, o Santo Evangelho... procure saborear essa Palavra que é de Deus para você... Ela é útil para corrigir, formar na justiça e nos empenhar para toda a boa obra...
2. Meditando a Palavra de Deus:
- O Evangelho de hoje evidência que existe uma sequência lógica na vida cristã que nos leva a crescer no amor, como discípulos de Cristo.
• Jesus se dirige aos judeus que nele tinham acreditado, provocando-os a permanecerem unidos a Ele, no sentido de serem fieis e acreditarem em sua Palavra.
• Eles deveriam, assim, confessar a fé e se tornarem seus discípulos.
- Agindo desta forma, diz Jesus, conheceriam a verdade e seriam totalmente livres, para além de qualquer condicionamento ou situação.
• Até porque, sabemos à luz da fé, que somos criados na liberdade e no amor, destinados à misericórdia do Senhor.
- Entretanto, o que vemos? A Palavra revelada por Jesus não encontrou terreno fértil no interior daqueles corações...
• A verdade tampouco pôde criar raízes e vínculos que os pudessem libertar.
- Cria-se aqui uma resistência ao que Jesus lhes diz, eles não sentem qualquer necessidade de se tornarem pessoas livres, dizendo-se ainda filhos de Abraão.
• Jesus lhes constata uma triste realidade: nenhum deles se dava conta de que eram escravos do pecado e, mais, procuram razões para matá-lo.
• Por isso sua Palavra e o dom da fé não encontravam morada neles.
- Estava nítido, com essas atitudes, que não se tratavam de filhos de Abraão, o pai da fé, como afirmavam, e que tampouco pertenciam àquela grande nação, reconhecida como o povo da Aliança.
• Estavam assim impossibilitados de darem provas por meio das obras que legitimavam uma tal filiação.
• De outra parte, ainda mais agravada pelo desejo que manifestavam de matar a Jesus, que lhes dizia a verdade.
- Ainda resistentes, eles afirmam que eram filhos de Deus, em razão da Aliança.
• Jesus lhes responde que se tivessem a Deus por Pai, seriam capazes de o reconhecer e o amariam, pois saberiam reconhecer igualmente de quem Ele procede.
• Aqui, temos, em mais esse momento, Jesus se revelando quem Ele é, e prenunciando o que está para lhe acontecer...
- O Evangelho de hoje suscita muitas questões para a nossa reflexão pessoal, como a verificarmos nosso modo próprio de proceder e de viver a fé, amando a verdade e nos tornando livres e misericordiosos.
• Para ser discípulo de Cristo, não basta experimentar simplesmente algum sentimento de simpatia por Ele e por sua doutrina, é necessário aderir pessoalmente a Ele, ordenando a própria vida e orientando, afetivamente, todas as nossas atitudes.
- Permaneço unido a Ele, sendo fiel à sua Palavra? Confesso uma fé crescente que dá mostras, por meio de obras concretas, de que me vou constituindo como um discípulo seu, mesmo diante das muitas dificuldades que enfrento na vida? Sinto-me livre diante de mim mesmo e em tudo o que tenho conseguido viver, confiando na infinita bondade e misericórdia de Deus? Que resistências enfrento, para me colocar nas mãos de Deus?
3. Reze à luz dessa Palavra:
- Diante daqueles que se vangloriam de ser filhos de Abraão (v. 33), Jesus clarifica alguns importantes temas como o discipulado (v. 31), a liberdade e o gozo da intimidade familiar (vv. 32-36), da filiação e da paternidade (vv. 37-42).
• Prosseguindo o seu discurso, Jesus termina revelando a sua divindade: “Em verdade, em verdade vos digo, antes que Abraão existisse, Eu Sou” (v. 58).
• Os seus adversários, porém, endurecem posições e tentam apedrejá-lo (v. 59).
• Agindo assim revelam ser escravos do pecado.
- Só a fé, que leva a confiar na Palavra, liberta do pecado, como aconteceu com Abraão.
• A fé no Filho de Deus leva os discípulos a permanecerem n'Ele (v. 31), Palavra do Pai, como filhos livres que permanecem na casa paterna (v. 35).
• Quem procede de outro modo, revela ter outra origem (v. 41), intenções perversas (v. 37) e escravidão (v. 34), ainda que não se dê conta disso ou não o queira admitir.
- Peça, em sua oração, essa graça, de acolher e de não ser resistente ao dom de Deus em sua vida... e guardando a fé n’Ele, possa ser livre e andar na verdade...
Oração
Senhor Jesus,
faz-me compreender que, para viver como filho do Pai, não me basta ser batizado,
mas também preciso realizar as suas obras, e de crescer na escuta da sua voz,
deixando que a tua palavra lance raízes em mim, e tome, gradualmente, posse de todo o meu ser.
Faz-me também compreender que me tornas livre apenas na medida em que me abro à tua palavra,
não só com a minha inteligência, mas também com a minha vida.
Só quando ela for totalmente guiada por Ti, serei realmente livre: livre do pecado que me escraviza,
livre da inveja que me separa dos outros, livre da preguiça e do orgulho que me paralisam.
Então, mesmo no meio dos sofrimentos da vida, também quando tiver de sofrer para ser fiel ao teu amor, serei livre
para cantar os teus louvores, celebrar a tua vitória.
A tua gloriosa Paixão nos faz vitoriosos contra o pecado, contra todas as dificuldades, contra o sofrimento.
Faz-nos livres! Obrigado, Senhor!
Amém.
4. Da contemplação para a ação:
- Quando Deus deixa de ser apenas uma ideia mais ou menos abstrata, quando a fé em Jesus Cristo se torna vida, podemos experimentar a liberdade cristã.
• Não é que a vida se torne mais fácil.
• A verdadeira fé em Deus, e uma relação pessoal com Jesus, seu Filho, na fé e no amor, revelam exigências até aí desconhecidas.
• Estas exigências estabelecem novos laços, que não escravizam, mas dilatam os corações e fazem avançar os que creem n’Ele pela via dos mandamentos divinos.
- Como os Judeus, que se diziam filhos de Abraão, talvez também nós nos digamos cristãos apenas porque somos fiéis a umas tantas observâncias.
• Mas isso não é suficiente para fazer de nós filhos de Deus, nem filhos da Igreja.
• Ser filhos é, em primeiro lugar, ser livres. Jesus, o Filho, revela-nos a verdadeira liberdade. Contemplando-O, verificamos que essa liberdade consiste na renúncia a nós mesmos para afirmarmos o Outro, os outros.
• O pecado é exatamente o contrário: faz-nos ver tudo a partir de nós mesmos e dos nossos interesses, coloca-nos no centro do universo.
• É dessa escravidão que fala Jesus.
- Podemos permanecer na escravidão, mesmo falando muito de liberdade e de libertação.
• Não podemos nos libertar por nós mesmos.
• Seremos livres na medida em que abrirmos o coração à Palavra, que é presença de Cristo no meio de nós, e à sua poderosa salvação.
• Só ela nos arrancará da idolatria e, sobretudo, da egolatria, para nos guiar até à liberdade do amor.
- A quaresma é tempo propício para refazermos esse caminho que nos leva à liberdade, à verdade e à vida...
• Faze isto e viverás...
Pe. Marcelo Moreira Santiago