Esta cena do cego de Jericó é muito comovente, quer seja por causa de sua esperança, quer seja por causa da compaixão de Jesus, e pelo movimento final de louvor.
O cego no Evangelho é um homem que está à margem da vida. De certo perdeu sua visão ao longo de sua vida, pois o seu pedido a Jesus é “eu quero enxergar de novo”. Ele havia visto a vida e todas as belezas que o sentido da visão pode conceder a todos. Sua ausência o limitava de tal maneira que nem poderia ser ouvido por Jesus. Ele gritava por misericórdia, mas pessoas queriam impedi-lo, as pessoas que passavam pelo caminho e iam à frente mandavam que ele ficasse calado. O limite de sua existência chegou a tal ponto de tragédia que a invisibilidade social era o único recurso permitido a ele além de esmolar, permanecer preso a um sistema nefasto que o reduziria cada vez mais em sua humanidade.
Aqui, devemos pensar nos vários cegos de Jericó que estão à margem de nossa sociedade. As crianças abandonadas, os idosos esquecidos e inutilizados pelo sistema capital, os operários cada vez mais reduzidos à personalidade de um crachá ou um número, as mulheres constantemente vilipendiadas em seus direitos por uma politização costumeira do falso supremo valor do homem, população de rua cada vez invisibilizada, os negros relegados aos preconceitos diários, indígenas e ribeirinhos desmotivados e perdidos, pessoas cuja orientação sexual divergem daquele costumeiro canteiro social biológico, professores sem incentivo, saúde precarizada, índices de violência cada vez mais crescentes e assim vamos, tristemente. São vários cegos de Jericó que se enquadram nesses universos acima.
Cada um desses, de alguma forma, estão à margem gritando por misericórdia e piedade, o problema é que, muitas vezes a sociedade os manda calar ou os silenciam através dos instrumentos da violência.
Neste sentido devemos ouvir a voz de Jesus: “trazei-o até mim!”. À multidão embebida no ópio do individualismo e da indiferença, Jesus lança a proposta de desintoxicação de nossa humanidade, é preciso descer, ir até aqueles e aquelas que gritam por misericórdia no chão deste mundo. Cada um pode agir conforme sua capacidade, desde abrir caminho para que o cego chegue a Jesus até conduzi-lo ao Senhor. Depois da cura, acolhê-lo, dar-lhe roupas novas, alimento, trabalho digno e casa. Devolver a visão é apenas o primeiro passo para que todos os envolvidos na cena possam voltar a enxergar: um com os olhos, outros com o coração.
Como diria Saint-Exupèry: “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”! É aí que Jesus olhará para cada um de nós e irá nos perguntar o que nós queremos que Ele faça por nós, de fato, nossa resposta deveria ser: queremos ver com o coração Senhor! E Ele não se furtará em alcançar-nos esse sentido.
Deus abençoe nossas vidas.
Coragem!
Pe. Jean Lúcio de Souza