A Palavra de Deus é um dom saboroso para nossas vidas, ela nutre nossos corações e consciências, essa mesma Palavra saborosa é lâmpada que guia nossos passos. Tão doce e saborosa que assume em nossa caminhada uma nutrição especial, que nos coloca de pé e nos leva a caminhar no mundo e partilharmos da mesma missão de Jesus. Contudo, viver a Palavra em um mundo onde somos chamados a ser profetas pode ser algo muito amargo. Se ela é saborosa ao paladar vital de todos os cristãos e cristãs é amarga na profecia, quando somos chamados a desempenhar no mundo a justiça, o bem e a verdade. Quem dela se alimenta é feliz, quem a transforma em missão corre riscos.
Não é sem razão que uma das bem-aventuranças é “bem-aventurados os quando forem perseguidos por causa da justiça (...) bem-aventurados os que são perseguidos e insultados e forem ditas calúnias sobre os perseguidos por causa de Jesus” (Mt 5,10.11). Essa é a amargura da Palavra em nossas entranhas, isto é, na profundidade de nossas vidas enquanto discípulos e missionários de Jesus.
A estrutura do livro do Apocalipse de São João nos leva rapidamente ao Evangelho de São Lucas. A atitude de Jesus em expulsar os vendedores é um alerta sobre duas realidades importantes na vida de fé que versam sobre não espoliar o direito dos pobres e fragilizados e não transformar a religião em comércio.
O Templo, embora sendo lugar de peregrinação e de encontro com Deus na fé, havia se transformado em um centro de comércio e de retirada de recursos do povo, sobretudo os mais pobres que se viam na obrigação de comprar no “comércio do templo” o que fosse necessário para o cumprimento de suas obrigações religiosas. Ali os preços eram altos e a oferta do povo assemelhava-se ao óbolo da viúva, que em suas duas moedinhas, havia entregado tudo o que possuía para viver.
Como a casa havia se convertido nesse ambiente perverso, haviam se esquecido da realidade divina (casa de oração) que o Templo simbolizava para o povo. Nessas conjunturas Jesus tem uma atitude profética – minha casa será casa de oração – a Palavra é doce, mas confrontá-la com a realidade da vida se transforma em amargor – os sumos sacerdotes, mestres da Lei e notáveis do povo procuravam um modo de matá-lo – sim, meus irmãos e irmãs, o amargor do seguimento da Palavra pode chegar a levar a morte física ou social.
Todas as vezes que nos colocarmos no caminho da Palavra de Deus ela nos será doce, mas o seguimento nos levará ao amargor. Por isso mesmo, um dos dons do Espírito de Deus é a coragem, para que recebendo com alegria a Palavra de Deus tenhamos a coragem de colocá-la em prática ao ponto de, se necessário, nossas vidas serem doadas, misturadas ao mistério da Paixão do Senhor.
Deus abençoe nossas vidas.
Coragem!
Pe. Jean Lúcio de Souza