O Discípulo Amado... sim, pode ser, como de fato seria o apóstolo João. E esse amado seria como? Ele seria o homem da vertigem da fé. E o que significa isso? Sempre quando penso em vertigem, penso em lugares altos e não gosto de grandes altitudes, sinto que o mundo roda e que não tenho mais a segurança do solo. Vertigem é ver o mundo rodar sob o impacto daquilo que tonteia nossa existência, frágil e ao mesmo tempo medonha. Vertigem é resultado do confronto na vida entre o ser e o ser ainda mais. Mas esse ser ainda mais possui dois lugares possíveis de aparecimento: a vida do que se é misturada em meros devaneios e a vida do que se é imersa na realidade de Deus, tremendo e fascinante.
João é o homem da vertigem... ele conseguiu sair do impacto da impaciência com aqueles que não recebem Jesus, ao ponto de pedir a Jesus que os permitisse pedir o fogo que destruiria aquele povo à semelhança do povo de Sodoma, mas Jesus, não quer mortes, não quer destruição, não deseja os horrores produzidos pela humanidade descrente no amor de Deus. Esse é o lugar da vertigem alta, de quem se vê grande, altivo, quando o Senhor quer lavadores de pés, gente que desce ao encontro com o outro.
Jesus quer que João seja o homem da vertigem de outro jeito – se assim o fizerdes, felizes o sereis – essa a vertigem que faz João também “cair do cavalo” e descobrir o lado daquela altura desejada, o peito de Jesus, o lugar da intimidade, o lugar de quem ouve as batidas do coração do Senhor e quer que o seu coração bate naquele mesmo compasso e isso é vertiginoso. João permite que sua existência seja tonteada por aquilo que é grande, o amor de Deus...
Somente o homem que se deixou tomar pelo amor pode permanecer até o final, na cruz, é ele quem vê os olhos do Senhor serrarem-se para este mundo, é ele que é digno de receber a mãe do Senhor em sua casa. Somente o homem que se deixou tomar pelo amor corre mais depressa que Pedro, se adianta para ir ao túmulo e crê sem entrar, crê grande. Somente o homem que se deixou quedar neste amor eterno pode reconhecer Jesus no meio da pescaria e dizer, gritar, anunciar: é o Senhor! Ele já não é um filho do trovão, agora ele é conhecido como o discípulo amado.
Por isso ele dá testemunho. Seu testemunho nasce à beira do mar... ali começa o símbolo do amor. Seu testemunho está na reprimenda de Deus-Palavra, verbo conjugado na existência pessoal e humana de cada homem e mulher amados por Deus. Seu testemunho é o descobrimento de se ver ramo da videira, de se encontrar na unidade do Filho com o Pai. Seu testemunho é grande, é vertiginoso, ele vem do alto da cruz, do testamento do amor. Seu testemunho é ligeiro, é identidade, é vital, por isso é verdadeiro...
Irmãos e irmãs, somos com João o povo dos discípulos e discípulas amados, somos a vertigem boa de quem olhou para o alto e viu Jesus, de quem ouviu o Verbo feito carne e se permitiu nascer do Espírito para a vida eterna...
Pe. Jean Lúcio de Souza