Na missão, o que levamos conosco? O Evangelho. Quem é nossa companhia? O Espírito Santo. O que anunciamos? As maravilhas de Deus e suas misericórdias, as quais Jesus nos comunicou. Em tudo isso nasce a beleza da missão, que não é um fardo e não permite que ela se torne um peso, o lugar da murmuração.
Quando Jesus envia seus discípulos pelo caminho para anunciar que o Reino de Deus está próximo, o faz num primeiro momento falando das curas e das libertações. Sim, os discípulos recebem o poder de agir na graça de Deus para que os povos possam se ver livres de suas enfermidades humanas. Curar os doentes? Seríamos médicos? Sim, médicos na fé. Curar as doenças não implicaria em trocar de posição ou um exercício ilegal da profissão, mas curar doenças que atingem a humanidade, ferem os corações, limitam a vida e a existência, estamos falando de doenças que extrapolem o corpo físico, mas que, de alguma forma o alcançam.
Será que realmente estamos pensando nas doenças sociais? Quem, dentre nós, refletimos seriamente sobre a questão dos super salários no Brasil de políticos, pessoas que trabalham em altos cargos da administração pública, que podem receber seus salários e diversos auxílios e mil e um agrados que engordam seus vencimentos enquanto o trabalhador brasileiro médio, em sua grande maioria recebe um salário mínimo miserável sem contar os descontos a que é submetido. Quem, dentre nós, pensamos seriamente sobre a questão da segurança alimentar de nosso povo, quantos observamos a questão da saúde como prioridade? Mas se se precisa cortar verbas para redução de gastos, onde a faca do bolo passa primeiro? Justamente onde a fragilidade é maior?
As doenças nascem também deste descaso e de nossa omissão!
Purificar leprosos? Mas a hanseníase já possui cura, como então purificar o que já possui cura? O olhar deve ser direcionado para outro campo de atuação dos cristãos e cristãs, na verdade, somos chamados a purificar tudo que a sociedade ainda trata como um mal e que acondiciona a pessoa humana em nichos de um criminoso isolamento, gerando preconceitos que colocam nossos irmãos e irmãs à margem da sociedade, levam tantos outros à morte, ao suicídio e, outros mais são considerados como inexistentes sociais. É impossível pensar que em pleno século XXI ainda existam mentes tão diminutas que classifiquem a humanidade em classe de importância segundo características e orientações. Neste momento encontramos os preconceitos de cor, etnia, orientação sexual, religião, dentre outros tantos que aumentam as distâncias entre as pessoas. Precisamos ser purificados desse mal...
Precisamos aprender a expulsar os demônios da indiferença, da corrupção, da falta de ética e compromisso humano. Precisamos expulsar os demônios do carreirismo eclesial, da soberba, da inveja. Os demônios da fome, das guerras, das mortes de nossas crianças. Muitos são os demônios que precisam ser expulsos de nosso convívio, que atormentam a humanidade destruindo e corrompendo.
Jesus também fala da condição do discípulo, alguém que age na gratuidade do dom de Deus que recebera e que, por meio de si enquanto membro do corpo místico de Cristo, será distribuída a toda e qualquer pessoa. Por isso, ainda ontem, ouvimos o Senhor dizer que somos sal da terra e luz do mundo, porque sua graça nos alcançou. Neste sentido, o caminhar do discípulo deve ser leve, sem ganâncias (ouro, prata, dinheiro), não deve aproximar-se de proteção, mas confiar de modo absoluto em Deus que o revestirá de sua graça, ungindo-o com o dom do Espírito Santo. Aí encontrará seu sustento e sua alegria para vida eterna.
Por fim, a comunidade passa a ser a casa do discípulo. Suas ovelhas, seu destino, o alvo da missão. É ali que deverá ficar, ali deverá se hospedar e alimentar-se com os seus. Onde houver homens e mulheres de boa vontade, ali estará o discípulo anunciando as maravilhas do Reino de Deus.
Nossa missão está atrelada a essas dimensões. Somos irmãos e irmãs em uma mesma casa, em um mesmo canto, louvando, bendizendo, anunciando e trabalhando no meio da messe. Somos lavradores, cultivadores do bem, da justiça e da paz e, não podemos fugir de nossa missão, não podemos nos afastar de nosso compromisso batismal, desta forma, manifestamos nossas boas obras e por elas o “Senhor fará conhecer o seu poder salvador e às nações sua justiça”.
Pe. Jean Lúcio de Souza