Sempre dizemos que a Igreja é a Assembleia e comunidade reunida, a família de Deus. O Templo é o lugar dedicado e separado para as celebrações litúrgicas onde a família se reúne.
Pensemos em nossas casas: a família independe da casa construída, a família será sempre família, não importa onde cada membro desta família se encontre, não importa se conversam ou se por algum motivo se separaram na história, a família será sempre a família, por ter uma só origem, uma base comum, uma vontade interna similar que, de alguma outra maneira desemboca num mesmo “destino” comum. A casa dos nossos pais, sempre será nossa casa. Por mais que mudemos de casa por quaisquer fatores que nos convidem a esse movimento e que venhamos a adquirir outra casa, a casa de nossos pais, será a nossa casa: vou lá em casa. Trocando os miúdos e parcos centavos, a mercadoria adquirida será a do ser família e a mercadoria do estar na casa.
É engraçado pensar que ser assembleia e ter seu lugar de reunião não é privilégio de católicos. Todas as religiões, todas as igrejas em suas comum-unidades possuem a família e a casa. Já nos primórdios observamos em Esdras como era o zelo do povo em construir sua casa. Para nós cristãos católicos também temos esse zelo, aquela vontade em ter um espaço-casa onde toda família se encontre para celebrar junta a Palavra e a Ceia.
Contudo, como disse acima, a identificação da família é comum, existem pontos comuns e quais são? Jesus no pequeno texto de Lucas escolhido para hoje nos diz desse “comum” que nos torna unidos em uma só família: ouvir e praticar. Embora todas as religiões e igreja possuam sua casa e sua família, cada uma terá o seu “comum”, conosco não há diferença o nosso comum, nossa unidade é ouvir e praticar aquilo que o Pai nos instrui por meio de Jesus-Filho e que nos é conservado pela graça do Espírito Santo. Pertencemos à família do Deus Criador de tudo que é, do Deus de Abraão, Isaac e Jacó, o Deus de todos os profetas, menores e maiores, o Deus de nossos patriarcas e de nossas matriarcas, o Deus que enviou seu Filho Jesus Cristo para nos instruir para que Ele fosse nosso Caminho e Vida – quem crê em mim não morrerá jamais. Somos da família de Deus que infunde em nós o seu Santo Espírito de Amor, de Justiça e Graça.
Nesta família aprendemos que ouvir o Filho, que é nosso irmão e amigo, é ouvir o Pai. Aprendemos que ao ouvi-lo e praticar o que Ele nos ensina, dentro de nossa casa onde se vive a unidade e não a uniformidade, é edificar o Reino do Pai. Assim, irmãos e irmãs faremos parte do corpo místico do Senhor, seremos um só coração e uma só alma. Seremos da família do Senhor onde o objetivo é buscar o Reino de Deus e a sua justiça, é assumir em nossas vidas o programa da missão do Senhor, lembrando o primeiro dia do mês de setembro.
Nesta nossa família todas as nossas ações devem se ligar à ação/missão do Cristo no Evangelho. Batizados e unidos ao corpo místico de Cristo devemos, no contato humano, anunciar, proclamar, curar e libertar. Não devemos nos esquecer que nossa fé cristã não deve ser estéril no seio da família, mas ao contrário, deve ser fecunda, partilhada com o Senhor. Com Ele e Nele somos homens e mulheres ungidos na graça do Espírito Santo. Já pensamos nisso? O Cristo não nos repele, mas nos escolhe para “irmos” em missão, aí aprendemos o que é ouvir e praticar.
Devemos anunciar, ensinar e comunicar com alegria a partir de nossa intimidade humilde e silenciosa com o Senhor. Será nesta intimidade profunda (ouvir), enraizada no coração de Jesus que aprenderemos e exerceremos (praticar) nosso ministério catequético fazendo ecoar no mundo a beleza do Evangelho e transformamos a vida humana em nós daqueles que desejam viver com o Cristo. Também seremos proclamadores na amplitude da fé que professamos. Em alta voz somos chamados a denunciar as injustiças e a maldade que impera no mundo e assim provocaremos um novo céu e uma nova terra. Nossa ação de semear e fazer frutificar no mundo é também uma ação profética com o Senhor no seio da comunidade.
Podemos até não curar “fisicamente” os irmãos e irmãs, mas podemos colaborar na cura dos corações, das consciências feridas, podemos colaborar na cura da solidão, do medo, podemos ajudar a curar a falta de possibilidades na vida, curar das injustiças promovidas no chão deste mundo, aí descobrimos nossa vocação de “libertar” os cativos. Cada um de nós e todos juntos, enquanto comunidade eclesial, cantando a ação de graças e suplicando a misericórdia de Deus nosso Pai, vivendo a missão do Senhor, mas sempre com o Senhor, podemos nos tornar em homens e mulheres peregrinos no discipulado, edificadores do Reino de Deus e cooperadores do bem e do amor.
Pe. Jean Lúcio de Souza