- Na primeira leitura, encontramos a personificação da Sabedoria, tecendo o seu elogio. Ela é descrita servindo-se da sucessão de vinte e um atributos (vv. 22s.), número simbólico que exprime a perfeição absoluta, enquanto é obtido pela multiplicação de sete, número da perfeição, por três, número da plenitude. No Novo Testamento, alguns vão reler essas características, atribuindo-as a Cristo. O autor evidencia a origem e a natureza divinas da Sabedoria, utilizando, quer a terminologia bíblica, quer a terminologia filosófica (vv. 25s.). O “espírito de sabedoria” (Is 11, 2), na teologia posterior, informará a ação de Cristo, cujo primado na criação (Cl 1, 15-29) será lido com as mesmas funções aqui indicadas. A nossa própria existência, iluminada pelo escândalo da cruz, será apontada como “sabedoria de Deus” (1 Cor 1, 24.30). A sabedoria é, pois, uma luz intelectual, que penetra todas as coisas, mas também luz espiritual, que é muito mais, pois dá conhecimento às pessoas, as põe em relação com o próprio Deus e, “forma amigos de Deus e profetas” (v. 27). Busquemos a sabedoria.
- No Evangelho, temos um breve mas intenso ensinamento de Jesus, provocado por uma pergunta dos fariseus acerca do tempo em que há de vir o Reino de Deus. Jesus não compactua com a miopia espiritual, nem com os interesses egoístas deles. Por isso, não dá uma resposta exata. Não veio para satisfazer curiosidades. Começa por se exprimir de modo negativo, para que não caiamos em ilusões, mas aprendamos a discernir situações e pessoas que possam hipnotizar a nossa atenção ou desviar a nossa fé. Como verdadeiro mestre, Ele nos alerta para possíveis desvios e indica o caminho que devemos seguir. Primeiro, fala do desejo de quem se guarda na fé em “ver um dos dias do Filho do Homem” (v. 22), desejo que Ele quer satisfazer, pois é Ele mesmo. Depois afirma a necessidade de “primeiramente, ter de sofrer muito e ser rejeitado” (v. 25). Antes da escatologia, deve-se realizar a Páscoa de Jesus. Quem aceitar ir com Ele até Jerusalém e partilhar a sua Páscoa, prepara-se para ir ao encontro final com o Salvador.
- Para refletir: Tenho buscado a sabedoria que é o próprio Deus? Sigo no caminho, vivendo o discipulado missionário? Sou capaz de subir a Jerusalém com Jesus para celebrar a Páscoa? Em que os textos de hoje mais me questionam, o que eles mais me pedem?
Oração
Senhor,
dai-me esta água a beber, a água da vossa sabedoria,
que brota do vosso divino Coração.
Tenho sede dela, desejo-a, peço-a.
Dai-me esta sabedoria, quero preparar-me para ela,
pela pureza do coração e pela vigilância.
Quero evitar o pecado e a fraqueza espiritual,
que me afastam de Ti.
Perdoa-me o passado,
ajuda-me na vivência do meu presente
e construção do meu futuro.
Só em Ti encontro o meu refúgio.
Amém.
- Compromisso, à luz da fé: “A sabedoria forma amigos de Deus e profetas” (Sb 7, 27).
Pe. Marcelo Moreira Santiago