- Na primeira leitura, do livro da Sabedoria, que a dias estamos meditando, vemos hoje a grandeza e a beleza da Criação que nos remetem para o Criador. O autor do nosso texto, que vive em ambiente onde predominam os cultos pagãos politeístas, verifica que nem sempre as pessoas foram capazes de ler corretamente a Criação. A consideração da grandeza do mundo criado, e da sabedoria de Deus, não é nova. Nós já a encontramos no livro de Jó (36, 22-26) e em Isaías (40, 12-14). É preciso, ao contemplar o universo e todas as coisas criadas, remontar ao Senhor de todas as criaturas, Àquele que formou tudo quanto existe, porque “o que é invisível nele - o seu eterno poder e divindade - tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras.” (Rm 1, 20). Aqui se estabelece uma grande verdade: Deus, que deixou que “cada povo seguisse o seu caminho” (At 14, 16), imprimiu na criação as marcas da sua passagem para que pudéssemos encontrá-lo. Mas o autor nos faz também um alerta: Isso nem sempre aconteceu (v. 1). Mas não têm desculpa, porque “o que de Deus se pode conhecer está à vista deles, já que Deus assim o manifestou” (Rm 1, 19). As criaturas nos falam do Criador. Sendo assim, a Criação é a primeira manifestação da beleza e do amor de Deus, e é, ao mesmo tempo, a primeira palavra com que respondemos ao seu amor. Contemplemos Deus também na obra da criação e renovemos o propósito de sermos guardiões e cuidadores dela, nossa Casa Comum.
- No Evangelho, Jesus quer ensinar aos discípulos a verdadeira esperança. Por isso, completa o discurso sobre a sua última vinda. Para que a esperança não se torne utópica e não crie ilusões fáceis, Jesus a une à fé. A fé, por sua vez, une-nos, desde já, ao Senhor e à sua morte e ressurreição. Unindo a esperança à fé, ficamos a saber quem esperamos, e não nos interessa quando ou como isso acontecerá. Jesus ilustra o ensinamento com dois exemplos: o de Noé (vv. 26s.) e o de Lot (vv. 28s.). Só aparentemente estes dois fatos históricos evidenciam o carácter improviso e repentino do dilúvio, no caso de Noé, e da chuva de fogo, no caso de Lot. O que Jesus quer acentuar é a necessidade de estar prontos quando Deus se manifestar no seu poder: prontos a reconhecê-lo, prontos para ser introduzidos na alegria eterna e na comunhão com Ele. O verdadeiro ensinamento de Jesus é, pois, este: não devemos considerar apenas Noé e Lot como figuras de crentes, mas também os seus contemporâneos, representados pela mulher de Lot (v. 32). Viviam esquecidos de Deus e preocupados com os bens terrenos: foi nessa situação que foram surpreendidos. No tempo de Jesus, os Judeus desejavam ardentemente a vinda do Reino de Deus. Várias vezes interrogaram Jesus sobre o “dia do Filho do homem”, em que se havia de realizar o desígnio da justiça divina. Jesus nunca indicou uma data. Limitou-se a exortar à vigilância, a estar prontos. O mais importante era que compreendessem, e nós compreendamos, que é preciso estar prontos para receber Deus na nossa vida, seja nos acontecimentos extraordinários como nos de cada dia. Quem não estiver preparado pode ser surpreendido.
- Para refletir: Consigo reconhecer o amor e o poder de Deus em toda a obra de sua criação? Sou atento em cumprir o que Ele me confiou, de ser cuidador, guardião de sua obra, em favor da vida humana e do meio ambiente? Como tenho vivido: esquecido de Deus, preocupado apenas com os bens terrenos? Vivo com vigilância, tocado pela fé, pronto, a cada dia, para o encontro com o Senhor?
Oração
Senhor Jesus,
dou-vos graças por todos os mistérios da nossa salvação
e da nossa redenção.
Procurar-vos-ei fielmente como tantos
que viveram antes de mim.
Não quero perder-vos mais por minha causa.
Ajuda-me a evitar o pecado,
a desapegar-me das criaturas.
Quero viver no recolhimento e na união
com o vosso divino coração
e somente o bem fazer a meus irmãos e irmãs.
Amém.
- Compromisso, à luz da fé: “Quem procura ganhar a sua vida, vai perdê-la e quem a perde (na entrega e no seguimento de Jesus), vai conservá-la” (Lc 17, 33). É preciso caminhar no amor.
Pe. Marcelo Moreira Santiago