- Na primeira leitura, vemos o rei Baltasar, filho e sucessor de Nabucodonosor, durante um banquete, em Babilônia, manda pôr na mesa os vasos sagrados trazidos de Jerusalém por Nabucodonosor. A profanação dos vasos sagrados desencadeia um prodígio que espalha o terror na sala do banquete: uma mão prodigiosa escreve palavras incompreensíveis na parede. O mais assustado é o rei: “O rei, à vista da mão que escrevia, mudou de cor, pensamentos terríveis o assaltaram, os músculos dos rins perderam o vigor e tremeram os seus joelhos” (vv. 5-6). Mais uma vez, ninguém conseguiu explicar o fenômeno. A rainha sugere que se chame Daniel. O rei, que já conhece a sabedoria do jovem deportado, promete-lhe uma grande recompensa, caso consiga interpretar a visão. Mas Daniel não é um adivinho qualquer. Os seus poderes vêm-lhe de Deus e, por isso, exerce-os gratuitamente. Relendo a história, o sábio israelita mostra as consequências da arrogância e do sacrilégio cometido pelo rei. Baltazar opôs-se ao Deus do céu e adorou os ídolos (v. 23). Por isso, tornou-se réu do juízo de Deus. E Daniel explica: o seu reinado vai acabar, o seu poder já não tem peso, o seu reino vai ser dado a outros.
- No Evangelho, continuamos a escutar o segundo "Discurso escatológico" de Jesus em que é delineado o futuro dos que creem e das comunidades cristãs de todos os tempos. A perseguição é sinal da autenticidade da fé em Jesus, porque os que creem participam do seu destino pascal. É também um sinal de que está perto o Reino de Deus e de que é preciso estar atento e preparado para o acolher. Sabemos como a espiritualidade martirial marcou a vida das primeiras comunidades, até ao Edito de Milão, em 313. E sabemos como tantos que abraçam a fé cristã ainda hoje veem o martírio como uma forte possibilidade. Por isso, derramar o sangue por Cristo foi e continua a ser para muitos cristãos uma oportunidade para “dar testemunho” (v. 13) do Senhor e do seu Evangelho. O dom da fé implica a missão. Jesus indica o método e o estilo dessa missão. O testemunho dos discípulos, para ser eficaz, deve ser ao estilo pascal do testemunho de Jesus, crucificado-ressuscitado. Não é preciso preparar a própria defesa (v. 14), nem imaginar métodos de defesa meramente humanos, ou fazer apelo a estratégias terrenas. O que é preciso é viver de pura fé, abandonar-se ao poder de Deus, confiar na sua Providência. Cristo não deixará faltar a eloquência e a coragem aos seus fiéis (v. 15). A perseverança é o distintivo dos mártires, também deve ser o nosso distintivo.
- Para refletir: Deixo-me seduzir pelos ídolos modernos, do ter, do prazer desmensurado, do egoísmo e de tanta coisa mais? Sou perseverante na vivência da minha fé? Vivo o discipulado-missionário no seguimento de Jesus? O que me falta ainda e como a Palavra de Deus hoje me ajuda?
Oração
Senhor, meu Deus,
mantêm-me forte e corajoso,
para que não trema e vacile diante das provações da vida,
nem diante das perseguições promovidas
por aqueles que se opõem a Ti e ao teu reino.
Dá-me luz para discernir a tua presença
e o sentido do caminho que me propõe;
dá-me força para testemunhar a minha fé.
Conforta-me quando me sinto triste e abandonado.
Só Tu podes ajudar-me, sustentar a minha fé,
reanimar a minha esperança
e dar ânimo e fervor à minha caridade.
Só Tu podes dar-me “palavras de sabedoria”
para resistir aos ataques dos teus
e meus adversários.
Obrigado por estares comigo.
Obrigado porque a minha fraqueza mostra
que só em Ti há vida e salvação.
Amém.
- Compromisso à luz da fé: “Não vos preocupeis: Eu vos darei palavras de sabedoria” (Lc 21, 14.15).
Pe. Marcelo Moreira Santiago