A liturgia deste 24º Domingo do Tempo Comum nos ensina que a realização plena do ser humano passa pela obediência aos projetos de Deus e pelo dom total da vida aos irmãos e irmãs. Quem quiser salvar a sua tranquilidade, o seu bem-estar, os seus interesses, os seus bens materiais, destruirá a sua vida para sempre; quem aceitar servir de forma simples e humilde, cuidar dos mais frágeis e necessitados, lutar por um mundo mais justo e humano, alcançará a plenitude da existência, que se alimenta do amor.
Hoje, em muitas comunidades, se celebra a festa litúrgica de Nossa Senhora das Dores, que com o título de Nossa Senhora da Piedade, é também Padroeira do Estado de Minas Gerais. Esta devoção remonta aos inícios do segundo milênio, quando se desenvolveu a compaixão para com Maria junto à cruz de Jesus, onde a Virgem vive e sente os sofrimentos do seu Filho. O primeiro formulário litúrgico desta festa surgiu em Colônia, na Alemanha, no ano de 1423. O Papa Sisto IV inseriu no Missal Romano a memória da Senhora da Piedade. A atenção à "Mãe dolorosa" se desenvolve, gradualmente, sob a forma das Sete Dores, representadas nas sete espadas que lhe traspassam o peito. Os Servos de Maria, que celebravam a memória desde 1668, favoreceram a sua extensão à igreja latina, em 1727. O Papa Pio X colocou a memória no dia 15 de setembro. Confiemo-nos à proteção da Mãe Santíssima, Senhora das Dores, Mãe da Esperança Cristã.
A primeira leitura nos traz a palavra e o drama do profeta que, no cumprimento da sua missão, enfrenta a incompreensão, a prisão, a tortura e a condenação. Apesar de tudo isso, ele não sente que a sua vida tenha sido um fracasso. Está absolutamente convicto de que Deus virá em seu auxílio e o fará triunfar sobre a perseguição e a morte. Os primeiros cristãos viram neste “servo de Deus” (servo sofredor) a figura de Jesus, sua vida e seu destino. O que mais impressiona neste texto é a serenidade com que o profeta, prisioneiro e sofredor, enfrenta o seu destino. Essa serenidade lhe vem, não da inconsciência, da insensibilidade ou de uma indiferença perante a morte, mas de uma total confiança no Deus que não falha e que não deixa cair aqueles que ama.
Na segunda leitura, São Tiago lembra aos seus irmãos na fé que o seguimento de Jesus não se concretiza com belas palavras ou com teorias muito bem elaboradas, mas com gestos concretos de amor, de partilha, de serviço, de solidariedade para com os irmãos e irmãs. Somos exortados à vivência de uma fé operativa, que se traduz num compromisso social e comunitário. Quem ama a Deus, ama também seus irmãos e irmãs, a começar dos mais sofredores, pobres e necessitados.
O Evangelho apresenta Jesus como o Messias de Deus, enviado pelo Pai para indicar aos homens o caminho que conduz à Vida verdadeira. Ora, segundo Jesus, o caminho da Vida plena e definitiva é o caminho da cruz, do dom da própria vida, do amor até ao extremo. Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo, tem de aceitar percorrer um caminho semelhante. Se quiser ser seu discípulo/a, tem de “renunciar a si mesmo”, de “tomar a cruz” e de segui-lo no caminho do amor, da entrega e do dom da vida (v. 34). Jesus não obriga ninguém, apenas apresenta a proposta; cada um, sabendo o que uma decisão desse tipo implica, tem de fazer a sua escolha. Seguir o caminho do “Jesus adocicado” é fácil; o difícil é seguir o caminho do “Jesus da cruz”. Qual a sua resposta?
Como enfrento as provações e sofrimentos, com perseverança e confiança em Deus? Procuro viver uma fé operativa, dando testemunho de amor a Deus, amando os meus irmãos e irmãs? Tenho seguido o caminho do “Jesus na cruz”? Em que a Palavra de Deus me ajuda hoje a viver a “espiritualidade do seguimento”?
Senhor, meu Deus, meu bom Pai, que minha fé não repouse na sabedoria dos homens, mas no poder de tua Palavra. Fortalece minha fé e minha esperança, pois Tu sabes o quanto sou frágil e inconstante. Que no seguimento de teu Filho Jesus, eu renuncie a mim mesmo, sirva com alegria, e, tomando a cruz de cada dia, seja sinal do teu amor, de tua misericórdia e bondade em favor de meus irmãos e irmãs. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago