Celebramos hoje São Cornélio e São Cipriano. Eles viveram no século 3º e foram martirizados na defesa da fé e da unidade da Igreja. Cornélio, Papa de 251 a 253, posicionou-se com misericórdia em favor dos que fraquejavam na fé em meio às perseguições. Teve como colaborador e amigo Cipriano, bispo que organizou a Igreja na África e nos deixou preciosos escritos sobre o culto cristão. Ao celebrá-los cresça em nós a comunhão com a Igreja e o ardor na propagação do Evangelho.
Na primeira leitura, Paulo dá testemunho do que recebeu da tradição apostólica, o ensinamento sobre a instituição da Eucaristia por Jesus (v. 23). Ele tem consciência que a transmissão da memória daquilo que o Senhor disse e fez na vigília da sua paixão é elemento essencial e irrenunciável da missão apostólica que recebeu. Paulo recorda que a Eucaristia não pode reduzir-se a um simples encontro de indivíduos, ainda que motivado por razões louváveis. Pelo contrário, todas as vezes que a comunidade se reúne, obedece a um convite-mandamento do Senhor Jesus. Mais ainda: celebrar a Eucaristia é fazer memória do Senhor morto e ressuscitado, para entrarmos em comunhão pessoal com Ele. O mandato de Jesus: “fazei isto em memória de mim” (v. 24 s.), não deixa margem para dúvidas. Jesus não nos deixa um simples testamento, mas um verdadeiro memorial. A Eucaristia é comer a Ceia do Senhor, do seu corpo e sangue, alma e divindade, a nós oferecido sacramentalmente. Foi este o sinal escolhido por Jesus e, sem ele, não temos o fruto da presença sacramental de Jesus, nem a eficácia salvífica da sua morte e ressurreição. A Eucaristia faz a Igreja.
No Evangelho, Lucas centra mais a sua atenção na fé, que alcança o milagre, do que no próprio milagre. A figura do centurião pagão assume um papel emblemático. A fé daquele homem se compõe de humildade e confiança. Essas duas atitudes o tornam aberto ao dom que está para receber e tornam aberta a comunidade dos discípulos de Jesus, que pode receber e incluir pessoas das mais diversas origens étnicas e sociais. Enquanto os anciãos recomendam o centurião a Jesus por alguns méritos que, a seus olhos, tinha adquirido (v. 4), o próprio centurião manda dizer a Jesus: “Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres em minha casa” (v. 6). Naturalmente, para Jesus são mais importantes estas palavras, que indicam uma grande e sincera humildade, do que as dos anciãos interesseiros. Este acontecimento é um prelúdio da chegada dos pagãos à Igreja. Aqui se vislumbra, na pessoa do centurião, um estrangeiro, a dimensão universal da salvação trazida por Jesus. As palavras do centurião, a Igreja nos faz repetir antes da sagrada comunhão: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e eu serei salvo” (v. 6). De fato, é de admirar, como Jesus o fez, a fé do centurião (v. 9), ele acreditou, de tal modo, no poder da Palavra de Jesus, que julgou desnecessária a sua presença para q.ue o servo ficasse curado.
Vivo vida eucarística, celebrando e recebendo a Sagrada comunhão, com respeito e dignidade, e colocando meus dons a serviço? Sou uma pessoa de fé, confiante na Palavra de Deus? Tenho dificuldade para acolher a todos, não fazendo acepção de pessoas? Em que mais a Palavra de Deus hoje me ajuda?
Senhor, quero, hoje agradecer-Te particularmente o dom da tua graça, que me dás sempre antecipadamente e ultrapassando as minhas expectativas. Que eu aprenda a alegrar-me contigo e com o meu próximo, por todos os teus dons, por todos os sinais da tua paterna bondade. Que eu Ti reconheça, Senhor, no caminho em que me acompanhas. Dá-me um coração livre de pretensões, de preconceitos, de rancores e de orgulho para estar pronto a receber a tua graça. Faz-me capaz de Ti receber, de apreciar as tuas surpresas: só então poderei experimentar o teu amor. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago