Na primeira leitura, Paulo insere o chamado "Hino do amor" no centro dos capítulos dedicados à relação entre carismas e ministérios. Este hino é, sem dúvida, uma das mais belas páginas das suas cartas e, talvez, de todo o Novo Testamento. O Apóstolo apresenta, em primeiro lugar, o amor como o maior carisma, como o melhor caminho. Paulo insere este hino no concreto de uma vida cristã pessoal e comunitária. É preciso aprender a amar como Deus ama: com a mesma intensidade, de modo incondicionado e com uma carga afetiva inesgotável. Sim, devemos amar como Cristo ama: em total disponibilidade pessoal, em total abertura aos outros, no desejo de caminhar juntos. O amor cristão, ou caridade, por sua natureza, está indissoluvelmente ligado à fé e à esperança. Mas, em relação às outras duas virtudes teologais, o amor é claramente superior, devido à sua origem divina. Deus é amor e, em seu amor, não poupou a vida de seu Filho, mas a entregou pela nossa salvação. Assim Deus amou o mundo, assim devemos amarmos mutuamente. Que belo ideal de vida cristã nos apresenta o Apóstolo Paulo!
No Evangelho, Jesus usa uma comparação que deixa transparecer o seu duro juízo acerca dos seus contemporâneos. A pergunta inicial não se refere a todos, mas apenas àqueles que, não tendo prestado atenção ao Precursor João Batista, também agora não o querem ouvir. Essas pessoas são como as crianças que se recusam a participar tanto na alegria dos casamentos, como na tristeza dos funerais. Parece tratar-se da obstinação com que alguns Judeus recusaram a Palavra de Deus, personificada em Jesus. Revelam um coração impermeável a todo e qualquer convite à penitência e à conversão.
A seguir, faz duas afirmações: de João Batista que não comia e nem bebia vinho e eles, dele, diziam: “está com um demônio” (v. V.33); e sobre Ele, Jesus, julgavam que era “um comilão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e pecadores!” (v. 34). Duas desculpas fáceis, que revelam uma mentalidade fechada, capaz, unicamente de condenar, e sem piedade. Jesus, contudo, vai dizer que “a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos” (v.35). Esta expressão final nos leva a pensar noutra categoria de pessoas, diametralmente oposta: aqueles que buscam a verdade e que se deixam interpelar pela Palavra de Deus, abrindo-se ao seu Espírito que atua nas palavras e nas obras de Jesus.
Tenho vivido à luz desse verdadeiro amor, amar como Nosso Senhor Jesus Cristo nos ama? Como está minha vida cristã pessoal e comunitária? Em que preciso melhorar? Meu coração tem sido dócil ou impermeável à Palavra de Deus, no seguimento de Jesus?
Senhor, liberta-me, de um coração endurecido, de um coração semelhante ao dos fariseus e doutores da lei, fechado nos seus preconceitos e na sua presunção, cegos pelo poder, pelas ambições e pelo orgulho. Abre o meu coração à tua luz! Dá-me, Senhor, um coração simples que não recusa o teu convite, mas que se faz capaz de aventurar pelo mundo das tuas maravilhas, encantado com o teu amor misterioso e surpreendente. Dá-me, Senhor, um coração semelhante ao teu, para que eu possa conhecer os teus pensamentos, partilhar os teus projetos, percorrer os teus caminhos. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago