A primeira leitura, do livro dos Provérbios, insiste nas relações com o próximo. Concretamente: não negar um benefício, não dizer “amanhã te darei” (v. 28), não odiar, não tramar o mal, não invejar, não seguir o perverso (vv. 29-32). No meio destes imperativos, aparece, repentinamente, uma afirmação muito bonita: “Deus reserva sua amizade aos íntegros” (v. 32b). Fica assim traçado o esboço do sábio, nas suas coordenadas fundamentais de vida: a correção e a benevolência nas relações com o próximo e a convicção de que a amizade de Deus vale mais do que tudo.
O Evangelho tem por tema a Palavra de Deus. Jesus usa de comparações para nos ensinar a acolher esta Palavra. Ele diz que não se põe a luz debaixo da cama. É uma advertência a nós cristãos que por medo ou por julgar inútil fazê-lo, não a expomos publicamente. A Palavra é pública e visível: escondê-la é fazê-la morrer. Depois fala contra o seu escondimento (v. 17) por temer o risco do segredo. É uma advertência para os que se fecham em si mesmos, anunciando a Palavra em segredo, apenas aos iniciados. Mas a Palavra é para todos, pela sua natureza missionária. Num terceiro momento (v. 18) Jesus chama a atenção para a importância da escuta, ou para o modo como se escuta: “Vede, pois, como ouvis”. Há quem não escuta, mas também há quem escuta mal. “porque àquele que tiver, ser-lhe-á dado; mas àquele que não tiver, ser lhe á tirado mesmo o que julga possuir”? Ensina assim que é preciso escutar bem, porque é a escuta que enriquece. Quem não a escuta ou a escuta mal, empobrece. Não só não cresce, mas também perde o que julga possuir. A escuta da Palavra é, pois, o caminho necessário para crescer na fé. Se falta a escuta, a fé definha e morre.
Testemunho meu amor a Deus, no amor ao próximo? Como tenho vivido em minhas relações com as pessoas, com fraternidade e benevolência, ou com muito conflito e divisão? Como tenho acolhido a Palavra de Deus e dela dado testemunho? A Palavra de Deus tem me ajudado a me corrigir, a me formar na justiça e a me preparar para toda boa obra?
Senhor, olha como estou mais preocupado em transmitir doutrina, do que em testemunhá-la com a minha vida. Olha como esqueço o teu modo de ser, que tanto impacto deu às tuas palavras, pensando que evangelizar, que guiar os meus irmãos e irmãs, é questão de conhecimentos e de transmissão de ideias.
Mas és tu que deves viver em mim, para que eu possa dizer as tuas palavras e guiar os outros. Se Tu não viveres em mim, as tuas palavras sairão sem efeito dos meus "lábios impuros", porque o meu coração não será semelhante ao teu, e os meus critérios, não serão os teus. Que eu Te encontre, antes de procurar as tuas palavras; que eu me torne semelhante a Ti, antes de Te usar para dizer aquilo que devo dizer. Que eu possa, a cada instante, Te sentir junto a mim, no meu íntimo, no mais profundo de mim mesmo. Não me abandones, Senhor, não me deixes nas minhas ilusões, não me deixes perder nos atalhos, na tentação de Te reduzir a uma ideia ou a simples mensagem. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago