Nesta quarta-feira, caros irmãos e irmãs, percebemos que o evangelista Lucas inicia o texto apresentando que uma grande multidão seguia Jesus. A perspectiva da quantidade, nem sempre se refere à perspectiva da qualidade. Muitas pessoas, não significa comprometimento enraizado com a causa do Evangelho de Jesus, ao contrário, pode apenas atestar certa curiosidade ou a mera vontade de ser beneficiado com milagres.
De fato, ao perceber uma grande multidão que o seguia, Jesus viu-se impelido à responsabilidade de apresentar algumas realidades referentes que diferenciam alguém que apenas quer estar junto, daquele que verdadeiramente quer ser discípulo. E não se assustem, a radicalidade deste texto é real, não existem meias medidas. Não é possível ser discípulo estando “em cima do muro”.
Se observarmos com atenção, o texto que temos hoje é o encerramento do Cap.14 iniciado na liturgia de terça-feira, embora um não tenha a pretensão de ligar-se ao outro, podemos já compreender que, os escolhidos, que passam a ser entendidos como vocacionados, isto é, os chamados que acolheram o convite do Senhor, entenderão a realidade de estar junto a Jesus como uma renúncia a tudo que concorre com o Evangelho, para entrar na sala do banquete, todo o resto deve ficar do lado de fora.
Assim, as três condições iniciais do discipulado: desapego de si à radicalidade de desapegar-se dos seus, carregar a cruz e o seguimento com a cruz significam muito para a comunidade catequética de Lucas. Eles farão ecoar essa realidade.
O desapego de si à radicalidade de desapegar-se de sua própria família e no final do texto inserindo-se a expressão “renunciar a tudo que tem”, implica na inquestionável liberdade que o discípulo deve ter em sua missão. Até o que nos seria mais amado, ou seja, a família e o “tudo” que colocamos como importante às nossas realidades humanas, não podem servir de limites na edificação do Reino de Deus.
Carregar a cruz, mais que tomar sobre si um “peso” é a adequação do seguidor (a) à missão de Jesus com fidelidade e compromisso, lembrando que esta missão possui suas consequências que, por vezes, serão dolorosas. Você se lembra sobre o “ficar em cima do muro”, pois é, descer é escolher um lado e escolher o lado do Evangelho nos levará à cruz porque navegaremos contra o mundo e seremos sinal de contradição. Não falo aqui com relação às questões morais apenas, mas com as questões mais radicais, do acolhimento, da justiça, do verdadeiro encontro com os pobres que, no limite da existência, clamam a misericórdia de Deus, que operará por nossas mãos, em busca do pão e do restabelecimento da dignidade humana.
Por essa razão, o seguimento, ir atrás de Jesus, não é segui-Lo no meio das multidões descompromissadas com a vida, mas é adentrar na realidade do Evangelho, estar ligado à videira, é descobrir que o “amai-Vos uns aos outros” não é uma frase de efeito, mas a ética do cristão imerso na misericórdia de Deus-Pai que amou-nos na inteireza de si, abrindo mão de quem Lhe era mais importante, Jesus, Seu Filho, para que o amor na cruz nos amasse e curasse, portanto, neste amor, somos chamados a curar o mundo.
Acredito que já tenham percebido que os três pontos apresentados poderiam se estender ainda mais e que, mesmo neste curto espaço, o que eles nos “chamam” a fazer é reverter-nos de lugar, sair das multidões e nos inteirarmos do grupo dos discípulos. É preciso calcular nossos passos com relação à aceitação, para não ficarmos perdidos e desmotivados quando a cruz – fidelidade ao compromisso – nos pesar. Neste sentido, o princípio da liberdade evangélica de não carregarmos na vida e no coração nada que concorra com o chamado de Jesus, deve ser de grande atenção. Sejamos corajosos, esmeremos nosso caminho de discípulos, limpando a alma e o coração da proposta ilusória das multidões e ouçamos o Cristo: Vinde!!!
Deus abençoe nossas vidas.
Coragem!
Pe. Jean Lúcio de Souza