Aumenta a nossa fé! Uma frase pequenina, mas associada à profundidade da resposta de Jesus torna-se um fator complicado aos homens e mulheres eclesiais – Se vós tivésseis fé... – a partícula condicionante “se” pressupõe uma ausência de fé?
A transformação dos discípulos se dá na caminhada com Jesus, estar de seu lado configura cada pessoa, cada discípulo na escola do aprendizado. O pedido, dá-nos fé, poderia ser interpretado como um pedido de socorro à nossa ausência de fé.
Ir à missa, fazer novenas, rezar o terço, ter piedosas devoções não é sinônimo de “ter fé”, pode, apenas informar que determinada pessoa participa de um grupo religioso, que partilha de um modo comum de celebrar ou de apresentar-se socialmente com o adjetivo conjugado “cristão-católico”. Não, não implica que tenhamos fé pelo mero ato de pronunciar uma profissão de fé comum. Dizer que crê não significa que se crê.
Anos atrás em um retiro espiritual nosso pregador Padre Luiz Antônio havia apresentado um texto para nós seminaristas que até hoje incomoda meus pensamentos. Não me lembro o autor, e o teor pleno do texto referia-se à conduta das pessoas que vivem nas igrejas e que se acercam do direito de dizer possuírem uma reta fé. Uma frase deste texto ficou gravada para sempre em meu coração, que é a seguinte: “se rezando são assim, imagine se não rezassem”.
Era verdadeiramente uma crítica à conduta de todos nós que “rezamos”, uma verdadeira provocação entre o que se rezava e a vida. Como rezam? Rezam muito! Uma quantidade excessiva cujas palavras brotam de várias formas. Sim, somos criativos na criação de palavras, até aprendemos a língua dos anjos, sim, oramos em línguas... Mas a linguagem do amor? Ah esta ainda não aprendemos bem.
Nossas comunidades eclesiais estão cheias de pessoas que rezam, mas estão cheias de pessoas que amam? Nosso maior escândalo é a dificuldade em amar. Nossos corações estão cada vez mais endurecidos. Brigamos se pode ou não bater sinos ou palmas no momento da Eucaristia. Somos críticos entre os que elevam as mãos no momento da oração da unidade e os que não levantam as mãos, como se isso ou aquilo alterasse a beleza de um Deus Humanado que se doa em nossos altares como ato extremado de seu amor e ali preferimos a cisão à unidade pelo mero gesto, e alteramos a intensidade de nos vermos na casa do Pai de todos nós.
Alguns não gostam do momento do ósculo da paz – paz de Cristo – por acharem desnecessário (sobretudo se perto de A ou de B estiver algum desafeto), nos recusamos ou achamos vazio cumprimentar o irmão e a irmã e nos esquecemos do que Jesus disse ao fariseu – quando entrei na sua casa não me destes o beijo da acolhida (Lc 7,45) – que significava a alegria de ter Jesus em sua casa, participando de sua intimidade.
Se fulano é de espiritualidade da Ceb’s e aprendeu a viver sua fé na dimensão da escola da Teologia da Libertação: não serve! Vive enfronhado em política. Se beltrano é ligado à espiritualidade da Renovação Carismática Católica: não serve! Vive ausente das realidades. Se cicrano é Conservador: não serve! Endureceu seu coração à vida e moldou-se às rubricas. O padre tal é que é bom, aquele outro não é bom. O coordenador tal é ótimo, aquele lá não presta. Órgão nas missas é a perfeição, violão e pandeiros é periferia. Papa Francisco está errado, bom era Bento XVI...
Lembro-me do Apóstolo Paulo (1Cor 3,4ss): “Quando alguém declara: ‘eu sou de Paulo’, e outro diz: ‘eu sou de Apolo’, não estarão vocês se comportando como qualquer um? Quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servidores, através dos quais vocês foram levados à fé (...) nós trabalhamos juntos na obra de Deus, mas o campo e a construção de Deus são vocês”.
Se rezando são assim, imaginem se não rezássemos? O escândalo terrível da falta de perdão. Meu Deus! Quantos de nós, dentro da realidade das comunidades nos afastamos do perdão por subir no pedestal da pirraça e por entender que o erro do outro é impossível de ser perdoado e anulamos o ensinamento do Senhor: se ele (teu irmão) pecar contra ti sete vezes num só dia, e sete vezes vier a ti, dizendo: ‘estou arrependido’, tu deves perdoá-lo.
O ódio, avesso do amor, fere nossa dignidade humana e nossa dignidade de cristãos e cristãs. Aí vamos desaprendendo a linguagem do amor e da misericórdia. Da Igreja para o mundo vamos nos tornando pessoas ácidas, que gostam de “cancelar” o outro. O erro é motivo para a guerra, para os olhares pejorativos e críticas maldosas.
O aumenta nossa fé de ontem, pode ser muito bem traduzido hoje, agora, por “ensina-nos a amar” como é o vosso desejo. Que o amor afaste definitivamente o ódio de nossas casas, comunidades, vidas e da história de toda humanidade e então arrancaremos do mundo a azinheira da maldade que insiste em reinar sobre nós, como escândalo no chão deste mundo. Portanto, não é o lugar ou quem, ou a forma eclesial, mas como amamos e como perdoamos e, assim, como caminhamos juntos, em nome de Cristo!
Senhor,
Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver Discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!
Ó Mestre,
fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
Perdoando, que se é perdoado e
é morrendo, que se vive para a vida eterna!
Amém
Deus abençoe nossas vidas.
Coragem!
Pe. Jean Lúcio de Souza