A palavra compaixão é ilustre, não somente pela palavra em si, mas pelo que representa e como se manifesta em nossas vidas. Compaixão – cum pathos – significa “adoecer com” ou “sofre a paixão com”. Chegando a um denominador comum rápido, a palavra compaixão está inserida no universo da Alteridade, onde o outro passa a ser o centro da atenção em vista de suas paixões e dores. O Senhor nosso Deus é a compaixão manifesta em Jesus Cristo, quanto a este dom encarnado em nossas histórias nós não temos dúvida alguma.
Gosto de entender que Jesus é o mistério da compaixão do Pai que “adoece” conosco. Ele desce à nossa humanidade como forma perfeita de manifestar sua alteridade, sendo conosco em nossas dores. É a perfeição do cumprimento da profecia do profeta Isaías onde, este, nos anuncia: meu servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas (Is 53,11).
À luz salmúdica, o Senhor cura os corações despedaçados e cuida dos seus ferimentos (Sl. 147,3) e o Pai se inclinando sobre nós, nos envia o Médico das almas, Jesus Cristo. É justamente aí, na figura do Servo Sofredor, isto é, que sofre conosco nossas dores que Ele se abaixa para ver-nos de perto, olha nossas feridas e as cura, como o Pastor que zela por suas ovelhas, Ele é o bom pastor que dá a vida por suas ovelhas, porque suas ovelhas o conhecem (Jo 10,7.14).
É justamente com esta dimensão do amor de Deus que os 10 leprosos se encontram, olham para Jesus e apresentam-lhe suas dores físicas e sociais. Estão limitados fisicamente pois a doença os mutila e fere a carne. Estão limitados pela doença social que os tira do convívio humano, os afasta da cidade e de todos os que lhe são iguais enquanto pessoas, vivem à margem da sociedade, esmolam, mendigam, são obrigados à vergonha que lhes atribuem os chefes de seu povo de terem sido “abandonados” por Deus e por isso tornaram-se impuros, trapos da sociedade e da religião.
Voltam-se a Jesus com esperança e pedem, à distância, por vergonha e medo: Jesus, Mestre, tem compaixão de nós, isto é, sinta nossas dores e limites. Jesus sente e os despede... ide! Continuem seu caminho e no caminho, sejam curados em vista da obrigação que deveriam cumprir para verem-se livres da pecha social.
Um, apenas um, ao perceber a cura volta. E quem volta? Um Samaritano, um inimigo dos judeus, ele volta e caindo aos pés de Jesus louva e agradece ao Pai por esse ato de compaixão e libertação. Imagino o grito de “muito obrigado Deus!” por nos enviar tamanho lenimento neste Jesus – Deus conosco – que sente nossas dores e se compadece de nós. Jesus compaixão eterna observa o fato... Onde estão os outros?
A compaixão que é ato silencioso apenas espera o “muito obrigado”. Quando o agradecimento junta-se à compaixão a fé transforma o humano, que é curado não somente do mal físico e social, mas é curado em seu interior, acontece aí a salvação do homem e da mulher de modo integral. Ao perceber esta cura interior Jesus despede o homem e o manda ir, já não precisa cumprir os preceitos, a fé salva até mesmo das obrigações legais. Vai... a compaixão que nos encontra, age assim, liberta, salva, cura e nos torna seres humanos agradáveis a Deus!
Deus abençoe nossas vidas.
Coragem!
Pe. Jean Lúcio de Souza