Caros irmãos e irmãs esta parábola dos talentos, apresentada por Jesus, guardando as devidas proporções, é similar ao mesmo conteúdo em Mateus (25,14-30). O grande sentido é o que já estamos apresentando sobre a questão dos fins e do juízo sobre as realidades humanas. As figuras aqui apresentadas por Jesus são emblemáticas e objetivas sobre o entendimento do compromisso da comunidade com sua fé e com a insistente ideia sobre a vinda do Messias que recuperaria a dignidade da comunidade dos fiéis. Porém, com relação à ideia do tempo e do momento, Jesus joga um balde de água fria naqueles que estão ansiosos.
É preciso que haja uma partida para a coroação régia daquele nobre. Ele será coroado rei e retornará assim. Equivale esse pensamento à ascensão – volto para o meu Pai e vosso Pai – Jesus ao regressar para o Pai regressa de modo pleno àquilo que o pertence, para aquilo que é legitimidade à sua pessoa – príncipe da paz – igualmente com a chegada dos reis magos e à sua pergunta: onde está o rei dos Judeus? Pilatos pergunta a Jesus se Ele era rei e Jesus declara: "o meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue às autoridades dos judeus. Mas agora, o meu reino não é daqui" (Jo 18,33.36).
Lógico que a visão joanina nos apresenta a realeza de Jesus que emana de outro querer, de outra vontade que é a Deus e não a vontade das autoridades judaicas. Da mesma forma, hoje em dia, outras “autoridades” tentam sufocar a edificação do Reino de Deus, que é compromisso de todos os que pertencem a esse rei coroado de espinhos e agora coroado de glória diante do Pai. O tempo ainda não se concluiu, o Reino ainda está em edificação, quando estiver completo, virá o dia do reencontro com o Rei coroado.
Quanto aos servos? Estes devem esperar atentos a chegada do seu Senhor, com fidelidade invencível, generosa e operante. É o período de atuação eclesial, onde os batizados e batizadas devem estar firmes naqueles bons propósitos. A fidelidade de não deixar que nossos corações sejam corrompidos por outras propostas encantadoras que nos afastem de Jesus. A generosidade na entrega do discipulado e da missão. A fidelidade operante no anúncio e vivência do Evangelho são riquezas incomparáveis.
Embora a ideia da “prestação de contas” possa soar estranho aos nossos ouvidos hoje, trata-se de uma realidade social corriqueira no tempo de Jesus, como já notamos esses dias. Entregar a administração de fazendas, minas, vinhas e terras com ovelhas era uma prática comum, mas embora a prática fosse comum, a integridade do trabalho era séria. Zelar por aquilo que não pertencia a alguém, mas que lhe fora confiado em esperança era muito sério e, quem assumia esse encargo, deveria tratá-lo como seu próprio. Os dois primeiros assim agiram, porém, o terceiro, infiel e medroso, fugiu de suas responsabilidades de generosidade e governança, perdendo até o que acreditava possuir.
Esta relação conflitante entre os ânimos servidores ante a chegada do Rei, não pode se equiparar àqueles que não quiseram participar da edificação do Reino e ainda eram contrários ao Rei. Este lugar é o mais terrível, lugar das figueiras sem fruto.
Que nossa atenção esteja voltada a essas realidades apresentadas, sejamos homens e mulheres cristãos batizados zelosos no cuidado da edificação do Reino de Deus com os talentos que recebemos e que sejam multiplicados pela graça de Deus no mundo onde vivemos, sejamos generosos no amar e na justiça para sermos fieis cooperadores da graça de Deus.
Deus abençoe nossas vidas.
Coragem!
Pe. Jean Lúcio de Souza