Uma das dimensões mais interessantes deste ano Santo da Esperança foi o efeito que o acompanha, logo, se a esperança não engana (Rm 5,5) e se faz presente em nossa história, ela nos transforma em Peregrinos, somos Peregrinos da Esperança porque caminhamos no desejo que nos une a Deus na expectativa de que, embora caminhando tateando as realidades desta vida, nutrimos a certeza de que não caminhamos sozinhos.
O texto que temos hoje conosco do livro do Gênesis, para mim, fala-me muito sobre o que significa ser um Peregrino na Esperança, mas justamente na esperança que não nos engana. Deus manda Abrão partir, sair de seu lugar de conforto, do lugar da sua gente, de seu povo, para um lugar que Ele ainda irá indicar. Não se sabe onde. Não se sabe quanto tempo de caminhada. Abrão já está velho, em um espaço de certo conforto. Mas Deus mandou Abrão sair... vai... seja peregrino na esperança. Ele traz consigo todos, sua mulher, seu sobrinho [pois não tinha filhos] e seus escravos. A esperança faz com que Abrão atravesse um país até que o Senhor nosso soberano Deus promete ao seu servo e sua descendência toda aquela terra.
Abrão não foi confundido, mas crendo na presença do Senhor que caminha consigo na peregrinação humana movida pela fé e total entrega à obediência ao Deus da vida, ele segue esperando na graça e no amor Daquele que o acompanha. Abrão é conosco esse povo que confia no Senhor, ele nos ensina a confiar em Deus, porque Ele é nosso auxílio e proteção. É a partir de Abrão que nos tornamos a nação dos peregrinos na esperança e recebemos graça sobre graça.
Por esse motivo, nos localizando como peregrinos na esperança, que Jesus nos ensina a não perdermos tempo na caminhada com o julgamento dos outros.
A exemplo de Abrão, podemos perceber e dizer que nos cabe crer e seguir em caminhada rumo à terra prometida, no coração de nosso Deus. Quem julga demais, ama menos e não percebe o caminho à sua frente, fica cego, a visão está entorpecida por uma capacidade triste de equivocadamente perceber em excesso a vida do outro e esquecer a sua própria. Neste lugar, não há mais o peregrino na esperança para nascer os hipócritas da desesperança. Esquecer a própria vida para ser juiz do outro provoca o movimento interno da morte de si, um ressecamento, um ressentimento contínuo e inevitável, a vida e a caminhada são transformadas por um processo de instabilidade e solidão miserável, a vida passa a ser amargura, não existe mais esperança.
Jesus estimula a comunidade discípula a medir a vida na esperança que nasce do Evangelho, Ele quer que nosso peso não seja o da condenação do outro, mas do exercício da misericórdia, da compaixão e do acolhimento. É preciso observar a vida com olhos límpidos, olhos que sorriem com os que sorriem e que chora com os que chora. Nosso olhar não é o olhar de quem supervisiona, mas deve ser o olhar do peregrino, do sem casa, sem lugar certo, que depende dos frutos do caminho que se faz, deve ser o olhar de quem aprende do Senhor a libertar da morte os corações atribulados, a alimentar a vida na esperança aqueles que perderam tudo, inclusive a dignidade do pão de cada dia. Somos chamados a nos inclinar com o Senhor aos pés feridos e cansados e aliviar-lhes os ferimentos e as dores.
Irmãos e irmãs, creio nesta caminhada de peregrinos na Esperança. Creio que estamos juntos nesta caminhada, mas creio ainda, de modo irrevogável e absoluto, que o Senhor está caminhando conosco, que Ele nos chama a nos deslocarmos do comodismo e dos modismos que nivelam a todos com a régua de um juízo falho e defectível. Ele quer e confia em nossa capacidade de sermos peregrinos, não importando nossa idade, nem o lugar onde estamos, tão pouco com quem convivemos, Ele apenas quer que saiamos e sigamos nossa peregrinação na Esperança. Sejamos fortes e corajosos, pois o caminho é longo...
Pe. Jean Lúcio de Souza