São João Batista é um dos santos mais peculiares de nossa fé, pois rondam sua pessoa um interessante envolvimento humano e eclesial que podem ir desde o carinho folclórico e piedoso de nosso povo que cultiva sua lembrança nas festas juninas com a alegria da fogueira de João Menino à altaneira expressão do Senhor Jesus de que dentre os nascidos de mulher, nenhum era maior que João (Mt 11,11; Lc 7,28) que o liga à grandeza do profeta e a pequenez de quem se coloca docilmente a serviço da vontade de Deus.
Encontramos essa devoção presente em várias cidades de nossa Arquidiocese de Mariana: Conselheiro Lafaiete, Viçosa, Matipó, Barão de Cocais e Ouro Preto formam um circuito de fé e apreço à figura do Batista. Mas também, celebramos sua festa como uma solenidade, liturgicamente, uma grande expressão do celebrar católico, já que, não celebramos o nascimento dos filhos de Deus para esse mundo no santoral, esta virtude se dá apenas ao Cristo Senhor Jesus o Filho do Homem, à bem-aventurada e sempre Virgem Maria e por último ao mais precioso dentre os nascidos de mulher João, o Batista.
Quando lembramos de João, associamos sua presença entre nós a uma vocação preciosa, uma vocação do ventre e aqui não quero falar do ventre de Santa Isabel, mas do ventre do querer de Deus, o lugar da intimidade de Deus, o espaço do seu desejo imutável, incontestável e plenamente necessário. João tem sua vocação gerada no chamamento do Eterno que o planta como sinal de esperança no seio de Isabel para todas as comunidades, Ele o faz profeta enquanto ainda um sonho para o casal sacerdotal.
Acontece, portanto, uma eleição onde o Senhor tratará a versão profética de João com atenção: a palavra deste jovem será afiada, será protegido por Deus à sombra de sua mão porque será como uma flecha que não erra. Ele será um servo, que servirá de testemunha e apontará a glória do Cordeiro, para que todos o sigam e reconheçam a salvação que vem de Deus.
O Santo Evangelho marca o compasso dessa eleição em nosso tempo: nasce um filho na casa de Zacarias e Isabel, o casal sacerdotal, como gosto de chamá-los, que trazia a graça do serviço a Deus, mas também trazia a pecha da maldição imposta pelos tortos olhares da sociedade religiosa sobre uma triste interpretação da vontade de Deus, eles não haviam gerado filhos. A complexidade da vida do casal transitava entre a graça do servir a Deus e a maldição de serem esquecidos por esse mesmo Deus a quem serviam, contudo, na configuração de um novo compasso à luz do Evangelho, o que se reconhece é a dimensão da misericórdia, de um Deus que ama e, quem é amado não é esquecido.
Um menino, um filho, nasce no tempo, na história, espaço da salvação que começa a ter corpo no corpo e João é o nome do precursor daquele que nos ama tanto que se fez um de nós. Ele não nos esquece, Ele está no meio de nós. O menino precursor é João, o Batista, aquele que abrirá sua boca em razão da fé sendo profeta, vivendo para falar em nome de Deus e comunicar-nos sua chegada. O que virá a ser esse menino? Ele é o maior entre os nascidos de mulher, é a voz que clama no deserto para endireitarmos os caminhos da vida e recebermos o Senhor.
Celebrar São João Batista é celebrar a vocação que nasce do ventre de Deus e que é plantada, como controvérsia, no meio do mundo, para iluminar os caminhos tortuosos dando-nos a esperança no Senhor que é o Cordeiro que tira o pecado do mundo. Ele nos ensina o caminho de não sermos dignos, mas sermos dignificados pelo amor, de irmos diminuindo para que o Cristo apareça e viva em nós como razão total de nossa existência.
Pe. Jean Lúcio de Souza