Na primeira leitura, mais uma vez, Paulo se vê obrigado a defender, não tanto a sua pessoa, mas a sua ação de apóstolo no meio da comunidade cristã de Corinto. Havia quem o acusasse de interesse próprio no exercício do seu ministério, ou seja, da busca de bens materiais e de afirmação pessoal. O Apóstolo reage afirmando que, para ele, evangelizar é "um dever". Quem livremente se põe ao serviço de um senhor, não pode furtar-se a esse serviço. É o que acontece com Paulo. Por isso afirma: “ai de mim, se eu não evangelizar!” (v.16b). Ele sabe que está sujeito ao juízo de Deus e espera d´Ele um veredito de fidelidade. Isto longe de o inibir, o estimula a novas iniciativas apostólicas. A única recompensa que espera é a de poder pregar gratuitamente o Evangelho que lhe foi confiado (Mt 10, 8). A sua maior preocupação é poder dizer: “Tudo faço por causa do Evangelho” (v. 23). Paulo assim se entrega todo no exercício do ministério que lhe foi confiado, com generosidade e desapego. Seu exemplo e testemunho deve despertar em nós o mesmo ardor para com a evangelização, diante do chamado e da missão que Deus nos confere.
No Evangelho, Jesus procura alertar para o perigo da presunção, pecado em que incorriam os fariseus. A parábola que Jesus conta não precisa de grandes explicações, pois desmascara uma possível atitude interior de quem deve exercer o ministério de guia dos seus irmãos. Dela emerge um forte convite de Jesus à humildade. O verdadeiro guia não julga os irmãos, mas se submete à correção fraterna. E mais, Jesus afirma “por que vês tu o cisco no olho do teu irmão e não percebes a trave que há no teu próprio olho? (v.41). Jesus, com isso, quer suscitar atitudes de vida comunitária naqueles a quem confia o Evangelho, isto é, a sua proposta de vida nova. A verdadeira espiritualidade cristã se verifica na prática dos mandamentos e, mais ainda, na adesão total à novidade evangélica. Jesus convida os ouvintes (e assim todos nós) a assumirem as suas responsabilidades e a não caírem nas armadilhas em que estavam presos os fariseus. Para isso é preciso nos colocarmos docilmente à escuta do Evangelho e do Mestre. A lei fundamental do apostolado é: antes de "fazer", é preciso "ser"; antes de "pregar", é preciso "viver". Esforcemo-nos, com a graça de Deus.
Trago em mim esta mesma alegria de Paulo, de comprometimento e ardor em anunciar o Evangelho? Minha vida tem sido um testemunho eloquente de minha fé ou sigo como “cego” guiando outro cego? Que me falta ainda? Sou presunçoso, julgo-me melhor que os outros, ou me marco pela humildade e alegria em servir?
Senhor, ensina-me o espírito de serviço, na abnegação, na pobreza, na perseguição, na obediência, até ao dom total de mim mesmo. Ensina-me a levar alívio e conforto às feridas dos outros, a consolar os aflitos, a dar ânimo aos deprimidos, a acalmar os violentos, a instruir os ignorantes, a pregar o Evangelho sem presunção, mas com humildade. Ensina-me a compreender que, também para mim, a decisão de servir não é opcional, mas constitutiva da minha vida cristã: ajuda-me a servir para levar a Cristo o maior número possível de irmãos e de irmãs. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago