O Deus que se vestiu de menino frágil e se apresentou aos homens no presépio de Belém encontrou abrigo numa família humana, a família de José e de Maria, dois jovens esposos de Nazaré, uma aldeia situada nas colinas da Galileia. Neste domingo, ainda em contexto de celebração do Natal do Senhor, a liturgia nos convida a olhar para essa Sagrada Família e nos propõe que a vejamos como exemplo e modelo das nossas comunidades familiares.
“Não sabíeis que eu devo estar junto de meu Pai” (Lc 2,49)
- Esta semana está marcada pelos relatos evangélicos chamados “evangelhos da infância” e pelo ciclo de São João Batista, no Evangelho de São João.
- Ao longo da semana, a graça a ser pedida será “estar com Jesus em todos os momentos e lugares, conhecendo-o mais, amando e servindo ao modo d’Ele”.
- A intimidade com o Senhor é o maior dom que Deus nos dá e isso se dá no caminho de seguimento.
- É nossa última semana, de reflexões que nos propomos fazer para o Retiro Espiritual online para os tempos de Advento e Natal... perseverança. O fim coroa a obra.
Graça a pedir:
Dá-me, Senhor, a graça de estar com teu Filho Jesus
em todos os momentos e lugares, conhecendo-o mais,
amando e servindo ao modo d’Ele
- Coloque-se diante de Deus... Invoque, em sua oração, o Espírito Santo...Reze confiante: “Senhor e Criador, que os meus sentimentos, desejos e ações estejam ordenados somente para Ti”.
EVANGELHO DE JESUS CRISTO SEGUNDO SÃO LUCAS 2,41-52.
- Leia o texto bíblico bem devagar, atento a cada palavra e frase... deixe que as palavras e imagens encham o seu coração...
Imagine a cena bíblica...
- A chamada “perda e encontro do Menino Jesus no Templo” não trata de um desleixo parental de quem deixou um filho esquecido para trás. Ainda mais numa cidade estranha.
- Esta narrativa é uma fresta de luz e de glória, fina e delicada, pela qual podemos vislumbrar Deus encarnado no meio de seu povo, crescendo à maneira dos seres humanos.
- Lucas vem preencher o silêncio acerca da vida de Jesus antes do Batismo no Jordão.
- À nossa ansiedade por detalhes minuciosos a respeito de Jesus, o evangelista responde que, em tudo, Ele sempre buscou andar na presença de seu Deus e a Ele ser fiel no cumprimento de sua vontade.
- Procure imaginar a cidade de Jerusalém, com população aumentada para as festas de Páscoa... Imagine a romaria de José, Maria e Jesus, a alegria de todos... Veja cada um dos personagens estando no templo e, depois, o retorno dos pais de Jesus, quando viram que Ele não estava na caravana...
- Imagine o encontro deles com Jesus, no templo... a expressão de dor de uma mãe que perdeu seu filho e a resposta de Jesus que, com suas palavras, mostra que a relação filial a Maria e a José fica relativizada e submetida à relação filial com o Pai...
- Por fim, a dificuldade inicial deles de compreender esse mistério e a atitude de Maria de guardar no coração, ou seja, aguardar, no silêncio, o tempo de Deus... e, por fim, a atitude de Jesus de obediência aos seus pais...
Meditando a Palavra...
- O que esse mistério da salvação me diz?...
- O Evangelho nos leva ao Templo de Jerusalém, onde Jesus, com seus doze anos, está a ouvir as discussões dos rabis, dos doutores da Lei, sobre a Palavra de Deus.
- Confrontado com a preocupação de Maria e de José, que o procuravam aflitos, Jesus anuncia o princípio fundamental que norteia a sua existência: Deus é o princípio, o centro e o fim de toda a sua vida...
- Ele fará sempre tudo para estar com Deus, para escutar Deus, para obedecer a Deus, para viver ao ritmo de Deus.
- Aliás, foi isso que Ele aprendeu com Maria e com José. A Família de Nazaré é uma família que se constrói à volta de Deus e do seu Projeto.
- Como tenho construído a minha vida? Em que a família de Nazaré – Jesus, Maria e José - me inspira nas minhas relações com Deus, com as pessoas e com a minha família?...
- Vivemos num tempo difícil, que nem sempre favorece a construção de um projeto familiar coerente com os valores de Deus.
- Muitos pais, afundados em mil dificuldades, ultrapassados por uma sociedade de egoísmo, de bem-estar, de indiferença, de incredulidade, não sabem como agir no sentido de oferecer aos filhos uma educação responsável, sã, solidária, coerente com a fé cristã.
- Como eles poderiam receber, no exercício da sua missão, uma ajuda mais concreta e eficaz? Que apoio a comunidade cristã pode dar aos que encontram dificuldades no projeto de educar responsavelmente os seus filhos?
- Rezamos para que o Senhor nos dê a graça de praticar, a exemplo da Sagrada Família, as virtudes familiares.
- Não é fácil, parece mesmo irrealista esta oração… Como imitar a santidade de Jesus, o Filho de Maria? Maria, mulher isenta de todo pecado; José, um homem justo, perfeitamente ajustado à vontade de Deus.
- Em plenitude, nenhuma família pode viver como a Família de Nazaré, bem sabemos.
- Mas o modelo que nos é apresentado por Lucas é o modelo da família concreta de Nazaré que acompanhou as etapas de crescimento do filho Jesus, com toda a atenção e cuidado… Uma família perseverante e confiante, que enfrentou alegrias e dores...
- Assim, a Família de Nazaré se torna muito próxima de nós.
- É a mesma missão para as nossas famílias: oferecer a cada filho um lugar de crescimento, um lugar de enraizamento onde a seiva da vida possa buscar a sua força, para que os frutos cheguem à maturidade.
- É uma tarefa árdua, longa, difícil, com alegrias e tristezas, conquistas e fracassos…
- Podemos pedir a Jesus, Maria e José para nos acompanharem neste caminho: eles passaram por isso e nos compreendem-nos bem...
Reze confiante ao Senhor...
Jesus, Maria e José a vós, Sagrada Família de Nazaré,
hoje, dirigimos o olhar com admiração e confiança; em vós contemplamos a beleza da comunhão no amor verdadeiro;
a vós confiamos todas as nossas famílias; para que se renovem nessas maravilhas da graça.
Sagrada Família de Nazaré, escola atraente do santo Evangelho: ensina-nos a imitar as tuas virtudes com uma sábia disciplina espiritual,
doa-nos o olhar claro que sabe reconhecer a obra da providência nas realidades cotidianas da vida.
Sagrada Família de Nazaré, guardiã fiel do mistério da salvação: faz renascer em nós a estima pelo silêncio,
torna as nossas famílias cenáculo de oração e transforma-as em pequenas Igrejas domésticas,
renova o desejo de santidade, sustenta o nobre cansaço do trabalho, da educação, da escuta, da recíproca compreensão e do perdão.
Sagrada Família de Nazaré, desperta na nossa sociedade a consciência do caráter sagrado e inviolável da família,
bem inestimável e insubstituível.
Cada família seja morada acolhedora de bondade e de paz para as crianças e para os idosos,
para quem está doente e sozinho, para quem é pobre e necessitado.
Jesus, Maria e José a vós com confiança rezamos,
a vós com alegria nos confiamos.
Amém.
(Papa Francisco)
Contemple essa Palavra em sua vida...
- Depois de dizer que Maria, José e Jesus tinham ido a Jerusalém para participar na festa anual da Páscoa, Lucas passa imediatamente a falar da viagem de regresso da Sagrada Família à sua aldeia de Nazaré.
- Empreendida a viagem de regresso à Galileia, a caravana dos peregrinos caminhou durante um dia antes que Maria e José se apercebessem de que Jesus não vinha na caravana.
- Lucas não explica, de forma definitiva, porque é que Maria e José só após um dia de jornada repararam que Jesus não vinha com eles. Limita-se a dizer que Maria e José pensavam que Jesus “se encontrava na caravana” (v. 44), sugerindo talvez que a caravana se compunha de diversos grupos.
- Seja como for, Maria e José voltaram para Jerusalém à procura de Jesus (v. 45).
- Segundo Lucas, só o encontraram três dias depois, no templo, sentado no meio dos doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas” (v. 46). Lucas acrescenta que “todos aqueles que O ouviam estavam surpreendidos com a sua inteligência e as suas respostas” (v. 47).
- Maria, convencida de que um filho responsável deveria ter-se comportado de forma diferente, interpelou Jesus. Fê-lo com delicadeza, mas também num certo tom de admoestação, procurando torná-lo consciente do sofrimento que causara aos pais: “filho, porque procedeste assim conosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura” (v. 48).
- A resposta de Jesus à interpelação da sua mãe aparece em duas perguntas: “porque Me procuráveis?Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?” (v. 49).
- Estas palavras, as primeiras que Jesus pronuncia no Evangelho de Lucas, são uma espécie de definição do seu programa de vida.
- Dizem-nos que a tarefa de Jesus, o seu objetivo de vida, o seu desejo mais profundo é estar com o Pai, penetrar na intimidade do Pai, viver ao ritmo do Pai, obedecer ao Pai, ocupar-se das coisas do Pai, concretizar no mundo o projeto salvador do Pai.
- Este será o guião que vai dirigir toda a vida de Jesus...
- Para Jesus, as exigências do Pai estão acima de todas as outras exigências. São a sua prioridade absoluta.
- Se o Pai o chama, Ele deixa tudo para trás para ir ao encontro d’Ele. Se o Pai o manda “beber o cálice” e entregar a vida na cruz, Ele o fará (Lc 22,42).
- Maria e José têm de saber isto e de aceitá-lo. Mais tarde, no decurso da sua vida pública, quando a mãe e os parentes vão procurá-lo para o levar para Nazaré, Ele dirá: “minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8,21).
- Como é que Maria e José viram tudo isto?
- Lucas diz que eles “não entenderam as palavras que Jesus lhes disse” (v. 50).
- É natural: para Maria e José, nem tudo estava claro desde o primeiro dia; apesar de tudo o que sabiam, necessitaram certamente de percorrer um caminho pessoal até conseguirem penetrar no mistério de Jesus.
- Mais tarde, os discípulos de Jesus vão sentir o mesmo problema e vão experimentar dificuldades em aceitar que Jesus se disponha a fazer a vontade do Pai.
- Pedro chegará a colocar-se diante d’Ele para o impedir de caminhar para Jerusalém e de oferecer a vida para cumprir o projeto salvador que o Pai tinha para o mundo e para a humanidade (Mc 8,31-33).
- Lucas conclui o seu relato dizendo que Jesus voltou para Nazaré com Maria e com José e “era-lhes submisso” (v. 51a).
- Jesus sabia que obedecer ao Pai do céu e cumprir a sua vontade passava por respeitar Maria e José, honrá-los, respeitar os seus ensinamentos e imitar a sua fidelidade a Deus.
- Definidas as prioridades da sua vida, Jesus é um filho-modelo, perfeitamente integrado na comunidade familiar de que faz parte.
- A mãe de Jesus “guardava todos estes acontecimentos no seu coração” (v. 51b).
- Talvez as não compreendesse imediatamente, mas guardava-as, meditava-as, até que elas fizessem sentido, ou até que a Palavra de Deus a ajudasse a compreender o seu sentido.
- Com essas coisas guardadas, também Maria ia compondo o seu “sim” a Deus e ao seu projeto...
.Revisando...
- A festa de hoje nos convida a pensar sobre a realidade de nossas famílias nesses tempos de tantas divisões, potencializadas, sobretudo, pelas redes sociais.
- Embora as famílias enfrentem desafios de toda ordem, a fé que as move não nos deixa perder a esperança... Afinal, as famílias tem importante missão a exercer na sociedade. Como diz o Papa São João Paulo II, “O futuro da humanidade passa pela família”...
- Que a Família de Nazaré seja fonte e inspiração para as nossas famílias!
- Peça, em sua oração, pela sua família e pelas famílias do mundo inteiro, sobretudo aquelas que passam por grandes provações... Renove também seus propósitos de oferecer o melhor de você em prol de sua família...
- Conclua rezando um Pai-Nosso e uma Ave-Maria... Revise esse momento orante.Veja o que mais lhe tocou...o que sentiu e qual o apelo que Deus lhe faz hoje...
- Anote, o que julgar de proveito, em seu caderno espiritual.
- Pra repetir, em seu coração: Senhor, abençoai e protegei a minha família e todas as famílias, principalmente as mais necessitadas. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago